Um atleta de 51 anos morreu durante uma trilha com amigos na região conhecida como 'Serrinha Mortal', em Alta Floresta, a 800 km de Cuiabá, no último domingo (11). Luiz Ricardo de Mendonça, conhecido como 'Rambo', foi enterrado nessa segunda-feira (12).
O sobrinho da vítima, Kayron De Mendonça, disse ao G1 que os médicos informaram à família que a suspeita é que Ricardo tenha sofrido um ataque cardíaco durante a corrida. Em seguida, ele caiu, bateu a cabeça e teve um traumatismo craniano.
Apesar do diagnóstico preliminar, a família aguarda o lauda da perícia, que sai em 15 dias, para confirmar a causa da morte. Kayron contou que a competição que o tio participou foi organizada entre amigos, que já conheciam a trilha.
Cerca de 20 pessoas participaram. “Ele andou por lá algumas vezes. Meu tio estava na trilha e logo se distanciou dos demais. Outros chegaram primeiro e perceberam que ele estava demorando. Quando voltaram, encontraram ele no fim de uma descida, caído”, relatou.
Os amigos de Ricardo acionaram o Corpo de Bombeiros que, ao chegar no local, confirmou o óbito. “A bicicleta estava muito rápida, foi tudo muito rápido. A hipótese é que ele já havia sofrido o ataque, pois caiu com o rosto no chão. Caiu descendo a ladeira e bateu a cabeça com a face direita. Foi com tudo no chão. Imagina-se um desmaio – corpo mole – algo nesse sentido”, explicou.
Ricardo começou a praticar o ciclismo no fim do ano passado. Ele tinha uma academia em Alta Floresta e 'treinava pesado', segundo a família.
De acordo com o sobrinho, o atleta e empresário também levou muito a sério o ciclismo e praticava exercícios em excesso. Ele pedalava mais de 60 km por dia e, a noite, treinava na academia. “Ele entrou no ciclismo pela ausência de uma pessoa para acompanhá-lo nos treinos. Levou tudo muito a sério, não era por hobby. Estava pedalando demais, acima do normal, tinha excesso de atividade. Isso pode ter contribuído para o que aconteceu”, pontuou.
O atleta deixa dois filhos, sendo um menino de 15 anos e uma menina de 12 anos. “Foi um choque para todos. Ele era uma pessoa calma, humilde, gostava de animais, ajudava as pessoas. Sempre foi muito dedicado em tudo que fazia”, disse Kayro.
O presidente da Federação Mato-grossense de Ciclismo, Valdeci Soares, informou que a competição que Ricardo participou com os amigos era clandestina e não tinha autorização da Federação. “Esses rachões e desafios não têm permissão para serem realizados, pois não seguem os protocolos de segurança. Às vezes as autoridades nem ficam sabendo, pois é proibido”, disse.
Valdeci explicou que as provas de ciclismo devem ter a licença da Federação. Para que o evento seja permitido, é preciso atender aos protocolos de segurança. “Nesse caso, não tinha polícia, não tinha um carro dos bombeiros ou ambulância para fazer o atendimento imediato no acidente. Hoje está 'normal' acontecer competições dessa forma, mas estamos cobrando isso. A segurança dos atletas deve prevalecer durante as atividades”, disse.
O presidente também explicou que as trilhas também devem ser avaliadas por especialistas antes dos eventos. Quando a região oferece muitos riscos – como é o caso da 'Serrinha Mortal' – a competição é transferida para outra região. “A Federação faz esse intercâmbio para garantir a segurança. Mas estão fazendo muitos eventos clandestinos. Vamos começar a atuar mais dentro disso para conscientizar as pessoas para que esse tipo de coisa não aconteça mais”, disse.
De acordo com o professor de educação física da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Carlos Alexandre Fett, o excesso de exercício parte do momento em que o corpo não consegue se adaptar ao estímulo externo, o que pode gerar condições adversas e levar à morte. “Uma atividade de longa duração exige também uma preparação mental. A resiliência – capacidade de se adaptar a mudanças – é muito comum no esporte. A capacidade que um maratonista tem de suportar o desafio físico é muito diferente de quem não tem essa preparação”, explicou.
Os exercícios, segundo Carlos, devem ser iniciados aos poucos e, conforme o corpo vai se adaptando, a quantidade de atividades pode ser aumentada. “Isso é benéfico, desde que eu não ultrapasse os limites do corpo. Atletas com uma carga de treinamento mais exigentes estão muito próximos ao 'teto'. Isso significa que estão tensionando ao máximo e, qualquer erro, ocorre um desiquilíbrio e o atleta pode não conseguir mais se recuperar”, disse.
No caso de Ricardo, Carlos disse que há vários fatores que podem ter levado o atleta a ter um mal súbito, como o tempo seco, falta de hidratação necessária e nível de esforço que ultrapassou o limite cardíaco. “Algum órgão pode falhar e, geralmente, é o coração. Em outro caso em que um amigo meu morreu pedalando, assim como outros, houve uma hiperglicemia - taxa muito alta de glicose no sangue. Um mal súbito pode ser ocasionado por vários fatores”, pontuou.
Quando o corpo chega ao limite, segundo Carlos, o organismo dá sinais. A pessoa pode sentir mal estar, tontura e náusea. “Os atletas de alto rendimento estão acostumados a trabalhar nesse limite. Isso não é um problema, desde que você permita que o corpo se recupere e que esteja preparado para aquela demanda. Atividade física intensa não é para todos e, mesmo os que estão preparados, precisam tomar cuidados. Quanto mais próximo ao limite, mais riscos corre”, explicou.
Alex Franck Forte Franck
Quarta-Feira, 14 de Julho de 2021, 19h30Davi
Quarta-Feira, 14 de Julho de 2021, 11h58