O consumo de conteúdo pornográfico, amplamente acessível na internet, tem se tornado cada vez mais frequente e pode gerar preocupações, especialmente quando esse hábito se transforma em vício, afetando as relações íntimas e a saúde emocional.
Em 2022, o Brasil ocupou o 10º lugar entre os países com maior consumo de pornografia, segundo dados do site PornHub. A pesquisa revelou que 39% dos usuários eram mulheres e 61%, homens.
De acordo com a psicóloga Aline Sampaio, o vício em pornografia ocorre quando a pessoa se torna incapaz de controlar o consumo desse material, mesmo quando ele causa prejuízos. “Denominamos isso como uso compulsivo, em excesso, que a pessoa não consegue mais ter controle por seus atos”, explica.
O vício pode se manifestar de várias formas. Entre os sinais mais comuns estão o aumento progressivo do consumo, a diminuição do interesse pelas relações reais, especialmente afetivas e sexuais, e a vivência de fantasias que não condizem com a realidade.
A ansiedade, o estresse e as mudanças nas atividades diárias também são indícios de que a pessoa pode estar desenvolvendo esse vício.
Impactos nos relacionamentos
O vício em pornografia pode afetar profundamente as relações amorosas e sexuais. Por oferecer prazer imediato, mas de curto prazo, gera um ciclo vicioso de buscar mais prazer e performar como nos filmes, o que afeta a comunicação e a intimidade no relacionamento.
Sampaio explica que a pornografia cria uma “realidade idealizada”, na qual os corpos e os atos sexuais são perfeitos, o que gera frustração na vida real.
Com o tempo, a pessoa viciada começa a comparar o parceiro com as fantasias vistas em vídeos pornográficos, o que pode levar ao distanciamento emocional e à insatisfação sexual.
“O outro já não é mais importante, somente o próprio prazer e o ciclo vicioso de sempre sentir aquela sensação”, destaca a psicóloga.
Além das dificuldades no relacionamento, o vício em pornografia pode desencadear sentimentos de culpa, vergonha e solidão. Muitas vezes, a sensação de não estar à altura das fantasias idealizadas causa muita angústia.
Em muitas produções, o sexo é desprovido de conexão emocional e é frequentemente representado de forma violenta ou desumanizada.
Isso pode afetar a maneira como a pessoa vê o sexo e o afeto no relacionamento real, criando uma desconexão entre os parceiros.
Para prevenir o vício, a psicóloga destaca a importância da educação sexual desde a infância e adolescência. “Falar sobre a importância de sentir seu corpo, sobre afetividade e respeito com o outro”, afirma Sampaio.
Ela ressalta também que muitos estigmas sobre a sexualidade masculina e feminina precisam ser desconstruídos, como a ideia de que os homens têm mais desejo sexual devido à testosterona. O que realmente impacta é a forma como somos educados a ver o sexo e a sexualidade.
Como superar o vício
Para quem está lutando contra o vício em pornografia, a sexóloga Cátia Damasceno sugere algumas práticas que podem auxiliar na superação:
Atividade física: o exercício regular ajuda a reduzir a ansiedade e a liberar endorfinas, melhorando o bem-estar emocional.
Focar em um projeto pessoal: investir em um projeto que traga propósito e satisfação pode desviar a atenção do consumo de pornografia.
Manutenção do sono: uma boa qualidade de sono é fundamental para a saúde mental e emocional.
Parar de consumir pornografia totalmente: a abstinência completa é necessária para interromper o ciclo vicioso.
Prática de atividades pélvicas: o autoconhecimento e exercícios que focam na área pélvica podem ajudar na reconexão do corpo e mente.