Opinião Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2020, 09h:36 | Atualizado:

Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2020, 09h:36 | Atualizado:

Edilson Serra

Afinal, as universidades são de direita ou de esquerda?

 

Edilson Serra

Compartilhar

WhatsApp Facebook google plus

edilson-serra (1).jpg

 

Com a polarização política ocorrida nos últimos anos, várias entidades se viram repentinamente no bojo de discussões acerca de sua possível orientação político-ideológica. Inúmeras instituições sofrem com essa classificação. Vejamos alguns jornais que até pouco tempo eram tachados como de direita agora sendo chamados de “comunistas”. Mas nosso interesse aqui é tratar da universidade, dos institutos federais e, finalmente, das escolas públicas. No que diz respeito à ideologia política, elas são de esquerda ou de direita?

À parte todos os discursos que tentam se apropriar da Educação - os sindicatos, os partidos políticos, as diversas agremiações sociais que se esforçam continuamente para legitimar seu discurso no território do saber que a escola emana - ela não é de direita ou esquerda. A escola, lugar de Ciência, não se assenta em ideologias político-partidárias. Sua vertente é a crítico-social. 

As universidades do Brasil e do mundo são, em sua maioria, centros de pesquisa científica. Por sua vez, a Ciência se assenta em uma premissa basilar: a tentativa diária de romper com as verdades estabelecidas, ainda que essas verdades seja ela mesma quem tenha criado.

 Vamos a um exemplo, a Ciência criou o telefone no final do século XIX. Criado o telefone, a Ciência não quer mais o telefone. Ela o solta na rua (no mercado, enfim, disponibiliza-o para a sociedade) e continua as pesquisas “criticando” o telefone no sentido de encontrar falhas, defeitos ou mesmo de superá-lo totalmente.

Ora, nessa sequência, chegamos historicamente aos smartphones de hoje. E pensa que a ciência está feliz com a super tecnologia que temos? Que nada, o papel dela é “reclamar” dos smartphones, encontrar seus defeitos - a duração da bateria é um problema amplamente estudado - e mais, o desejo da Ciência é superá-lo totalmente. Enquanto não consegue dar esse salto, vai modificando o aparelho pelo menos um pouquinho a cada lançamento.

A Ciência também faz o mesmo no campo das ideias. Elabora o tempo todo novas ideias que muitas vezes até contradizem a anterior. E não há problema nisso. A preocupação da Ciência e, por conseguinte, das universidades, institutos federais e outros centros de pesquisas, inclusive escolas, não é ficar reproduzindo interminavelmente o produto (seja ele material ou imaterial, como as ideias).

O papel de reprodução cabe às fábricas. Como lugar de Ciência, a universidade e mesmo a escola onde estudamos, que é um lugar eminentemente de divulgação do saber científico, deseja o homem livre e questionador, a fim de superar a si mesmo e o mundo que o envolve.

Nesse bojo, muitas vezes as instituições de ensino são vistas como de esquerda, pois não aceitam nada que soe limitador ou conservador, questionando sempre o status quo, os lugares estabelecidos. Como parte da direita política tem um viés de manutenção, de conservação de determinadas realidades, acaba entrando em conflito com as ideias que circulam nas instituições de ensino e pesquisa. Por outro lado, o mesmo ocorre com a esquerda. Não são poucas as vezes que esta tenta se apropriar dos discursos críticos da Ciência, mas os abandonam na medida em que contrariam suas teses.

A Ciência luta para se manter apegada aos fatos científicos e essa é toda a sua verdade. Sua ideologia é construir um futuro melhor que a realidade vivida.

A escola, mesmo a primária, é o lugar do salto para fora de si e do pequeno mundo no qual se vive. É o espaço próprio da revolução, ainda que só na esfera individual. Não é à toa que logo nos primeiros anos de aula a criança, apegada à novas verdades que aprendeu na escola, começa a questionar os pais em casa. E colocamos nossos filhos lá para isso mesmo. Todo processo de transformação passa pelo momento da crítica, velada ou exposta.

Posto isso, como lugar de feitura ou apropriações de Ciências, a escola não é de direita ou de esquerda. Sua vertente é a crítico-social, doa a quem doer.

Edilson Serra, doutor em Literatura (UFRN) com ênfase em Estudos da Pós-modernidade, é professor efetivo no IFMT e coordenador da área de Linguagens e Códigos. ([email protected])

 





Postar um novo comentário





Comentários (4)

  • Joilson

    Terça-Feira, 20 de Outubro de 2020, 11h42
  • Admiro o honorável professor,porém esse teoria e fora da realidade , o conjunto pedagógico de algumas matérias foram construídas para isso,inclusive ocorre de forma velada nas aula como opiniões em manifesto por grande parte dos educadores nao com intuito de promovernobas idéias mas sim de promover as de esquerdas já existentes,nao promover edificações mas sim a tomada,não em somar mas sempre de dividir, convivo COM essa luta a quarenta anos,a esquerda se apropia do povo e não se revela pelo povo e uma coisa que vem de fora não de dentro,vejo na esquerda símbolo de ferramentas que usam apenas para afrontar,nunca sendo usada para o que realmente fora construídas trabalho,a verdadeira transformação como a que disse sobre o celular só ocorre com muito trabalho,enfim há um grande desgaste de energia nas universidades na doutrinação de seus acadêmicos assim como nas escolas .Parabéns pela matéria me levou a esta reflexão.
    0
    2



  • mcb

    Terça-Feira, 20 de Outubro de 2020, 07h55
  • É de esquerda basta ver o que eles ensinam, apenas marxismo leninismo e stalinismo, professores são doutrinadores na sala de aula e se pensar diferente disso te excluem da sala, na area de humanas as ideologias de gênero é o principal tema.
    0
    2



  • Nelson

    Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2020, 12h26
  • Interessante que a alegação é de que "a ciência" está ali para contestar, mas não vejo contestação aos pensamentos de esquerda. A alegação de que a direita é conservadora me parece silogismo, pois o partido comunista chinês está "conservando" sua mentalidade e seus procedimentos há mais de 70 anos. A despeito da minha admiração pelo escritor do artigo (extremamente capacitado e culto), creio que o artigo foi mais um discurso com viés ideológico para defender a continuidade do pensamento esquerdista das universidades públicas.
    5
    4



  • S? observo

    Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2020, 10h58
  • Simples de responder, desde quando fiz faculdade pública o viés que prevalece é o de esquerda, qualquer dúvida é só olhar para a qualidade da grande maioria dos profissionais que de lá saem, a falta de vontade da maioria dos professores em dar aula, bem como as péssimas instalações e a quantidade de estudos científicos produzidos. Que me desculpem os bons e honestos que lá insistem em ficar, mas o esquerdismo virou sinônimo de tudo o que não PresTa.
    5
    4











Copyright © 2018 Folhamax - Mais que Notícias, Fatos - Telefone: (65) 3028-6068 - Todos os direitos reservados.
Logo Trinix Internet