Opinião Segunda-Feira, 12 de Maio de 2025, 13h:12 | Atualizado:

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Marcelo Senise

Arquitetura de Manipulação Social na Era Digital

 

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Há alguns meses, participei de um grupo de discussão composto por estrategistas e profissionais de marketing político de altíssimo nível. Em meio a temas já familiares — como neuromarketing, construção de imagem e controle narrativo —, foi exibido um vídeo que imediatamente capturou minha atenção. Ele conversou sobre Janela de Overton .

Por mais que esse conceito já estivesse presente no meu radar teórico, foi a primeira vez que vi, naquele meio técnico e influente, alguém trazer essa ferramenta para o centro do debate. E mais do que isso: tratá-la não como uma curiosidade acadêmica, mas como parte integrante de estratégias reais, aplicadas, muitas vezes intencionalmente. Isso me causou um impacto imediato — não apenas pelo conteúdo em si, mas porque percebeu o quanto se fala pouco sobre os mecanismos de persuasão que ultrapassaram os limites éticos e caminharam para o terreno da manipulação social. Esse momento foi o gatilho que me impeliu a escrever sobre o assunto, e que culminou na produção do meu novo livro.

A Janela de Overton é uma teoria que descreve como uma ideia que inicialmente tão absurda ou inaceitável pode, através de um processo gradual de exposição, debate e reformulação, tornar-se perfeitamente aceitável — até mesmo desejável — aos olhos da opinião pública. A estratégia é eficaz porque não confronta diretamente a sociedade, mas desloca, com precisão cirúrgica, o eixo do debate até que o “novo normal” seja assimilado sem resistência. O que ontem parecia inconcebível, hoje parece razoável; amanhã será defendido com fervor. E tudo isso acontece sob a ilusão de que escolhemos pensar dessa forma por conta própria.

No passado, essas transformações ocorreram de maneira mais lenta, quase orgânica, mediadas por instituições tradicionais como a imprensa, a educação e a cultura. Mas hoje, com a ascensão das redes sociais e da comunicação digital, essa engenharia da opinião tornou-se exponencialmente mais rápida e mais eficaz . Algoritmos organizamos os fluxos de informação de forma para maximizar o engajamento, sem reflexão. O que nos chega não é o que precisamos saber, mas o que somos mais propícios a aceitar, curtir e compartilhar. A bolha se fecha, a dissonância cognitiva é neutralizada, e a manipulação se disfarça de consenso.

Não há neutralidade no que é mostrado ou ocultado. Vivemos em ambientes digitais que reforçam a confiança, filtram ideias divergentes e premiam posturas extremadas , tudo sob o rótulo sedutor da liberdade de expressão. Mas a liberdade sem consciência é terreno útil para o serviço intelectual. As redes sociais, hoje, são usinas de modelagem comportamental. O que viraliza raramente é o que tem profundidade; é o que provoca, polariza ou emociona. A retórica vence a razão. O espetáculo substitui o argumento. A construção de identidade se sobrepõe à busca pela verdade.

Foi diante desse cenário que resolveu escrever A Delicada (ou não) Arte da Desconstrução Política . O livro é uma resposta — e um alerta. Nele, investigo as engrenagens por trás da transformação das ideias, a manipulação estratégica de símbolos, a linguagem como ferramenta de controle e a forma como causas legítimas podem ser instrumentalizadas para fins de poder. Mais do que denunciador, proponha um caminho para a lucidez. Porque acreditar que quem compreende os instrumentos de manipulação deixa de ser vítima passiva do discurso dominante e passa a ser agente crítico do próprio tempo.

Meu objetivo não é fomentar teorias conspiratórias nem cinismo alimentar. Ao contrário: é convocar à vigilância. Porque a verdadeira liberdade exige mais do que direito de falar — exige a capacidade de pensar. E isso, em tempos de hiperinformação e distração constante, é um ato de resistência.

O livro será lançado em breve. Será mais do que uma obra: será um convite a reabrir os olhos e a repensar as estruturas que moldam, todos os dias, aquilo que chamamos de “nossa” opinião.

Marcelo Senise – Presidente do IRIA - Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, Sócio Fundador do Social Play e CEO da CONECT IA, Sociólogo e Marqueteiro, atua há 36 anos na área política e eleitoral, especialista em comportamento humano, e em informação e contrainformação, precursor do sistema de análise em sistemas emergentes e Inteligência Artificial. Twitter: @SeniseBSB / Instagram: @marcelosenise





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