Ao contrário do que muitos e muitas imaginam, os assédios contra as mulheres não apresentaram trégua, mesmo em época de trabalho remoto. Foi justamente o que constatou o New York Times, o Jornal O Globo e o Instituto Patrícia Galvão, em pesquisa divulgada.
Segundo os aludidos jornais e sites, os abusos continuam e, em muitas situações, se intensificaram. Foi apurado que se tornou mais fácil para alguns, praticar abusos e assédios contra as pessoas mais vulneráveis. Quanto mais vulnerável o segmento, mais facilidade é encontrada em se praticar crimes contra elas.
A bem da verdade, é possível ouvir relatos de mulheres que passaram a exercer o labor de dentro de casa, remotamente, e os olhares para onde elas se encontram e que roupa estão usando ficam evidentes. Muitas vezes veladamente. Contudo, outras tantas, explicitamente.
A surpresa aos pesquisadores e pesquisadoras foi o poder de exercer assédios e abusos por câmeras, texto, vídeo, etc., que acabam se constituindo em ações não monitoradas, e não registradas. Em ambiente presencial, existe a possibilidade de pessoas ouvirem ou presenciarem os atos. Todavia, virtualmente, algumas vezes apenas a vítima e o assediador se encontram.
Imagens, palavras, gestos, e comportamentos ameaçadores têm sido possível vislumbrar. Sorrisos de graça. Onde você está? Como é o seu quarto, posso ver? Move a câmera um pouco para ver melhor onde você está. Olhares insistentes, e comentários de cunho sexual. Gestos e objetos obscenos diante das câmeras, com mensagens inoportunas em chats. O período pandêmico trouxe situações inesperadas. Estar dentro de casa não se tornou mais ambiente seguro onde elas estavam blindadas. A vítima pode estar sofrendo silenciosamente para manter o trabalho, mesmo o prestando de dentro do seu lar.
Está cada vez mais corriqueiro se deparar com histórias contadas por mulheres onde são vítimas virtualmente, através de sites, reuniões virtuais, aplicativos de redes sociais, intimidações, ou perseguições online.
Estejam onde estiver às violências estão como as acompanhar? Não é essa a forma correta de pensar. As agressões e acharques são fruto da forma que elas ainda são enxergadas. Objetos à disposição deles? Como já disse outrora um político bastante conhecido para uma deputada federal: “só não te estupro, porque você não merece.” Seria uma honra, então?
Piadas, histórias contadas por eles, e que trazem a exposição da mulher de alguma forma, pode se configurar em crimes cometidos dentro do ambiente de trabalho, em análise do contexto. A ninguém é obrigado ou obrigada passar por constrangimentos, humilhações ou agressões.
A verdade fica por conta das estatísticas, principalmente as brasileiras. A cada 8 (oito) minutos uma mulher é estuprada. De 10 (dez), cerca de 7 (sete) mulheres já sofreram violência ou assédio no trabalho.
Pensar em cada mulher, pelo fato de ser mulher, é saber que cada uma delas tem história de assédio para relatar, e, em regra, que elas padeceram. Não é piti, chilique ou mimimi, é crime!
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.