Em 10 de julho de 1998, os adolescentes Adileu Santos, o Baby, 13, Edgard Rodrigues de Arruda, o Indinho, 14, e Reginaldo Dias Magalhães, o Nado, 16, foram executados a tiros na rua 27 de Dezembro, popularmente conhecida como “Beco do Candeeiro”, no centro histórico de Cuiabá, Mato Grosso. As investigações conduzidas pelo Ministério Público levaram a um único suspeito: um ex-policial militar, que acabou absolvido por falta de provas após submetido a júri popular, em 2014.
Uma estátua construída pelo artista plástico Jonas Correa um mês após os crimes, e colocada na Praça Senhor dos Passos, a cerca de 100 metros de onde aconteceram as execuções, é, ao mesmo tempo, um tributo a Baby, Indinho e Nado e um protesto contra a infindável violência praticada contra pessoas em situação de vulnerabilidade.
Sempre tive interesse em escrever sobre a chacina do Beco do Candeeiro, mas sempre acabava adiando o projeto. Até que em 2015 resolvi que não dava mais para procrastinar. Com a ajuda do veterano jornalista Ademar Adams, que também é advogado, tive acesso aos cinco volumes que compõem os autos do processo.
Na primeira leitura das cerca de 1200 páginas tive a convicção de que estava diante de uma história que precisava ser contada com mais profundidade do que a imprensa chamada policial costuma fazer. Ali encontrei não só detalhes da própria chacina, mas inúmeras outras histórias que se entrecruzam obedecendo sempre um roteiro de dor, sofrimento e morte.
Durante dois anos entrevistei as mães de Baby, Indinho e Nado, alguns de seus parentes e amigos, bem como ex-integrantes dos grupos chamados de “Meninos do Porto” e “Meninos do Centro”. Os únicos que não quiseram falar, apesar de minha insistência, foram as autoridades do Judiciário que trabalharam no caso.
Quando o livro já estava em fase de conclusão, fiz um esboço e apresentei um projeto de publicação para órgãos públicos, entidades e editoras que julguei que poderiam ter interesse. Ledo engano. Mas isso não me desanimou. Segui em frente e concluí o livro mesmo sem ter nenhuma perspectiva de publicação. Decidi que a obra seria publicada nem que fosse em formato digital.
Em 2018, o edital “300 Anos de Cuiabá” da secretaria municipal de Cultura foi um fio de esperança, afinal o Beco do Candeeiro foi a primeira rua de Cuiabá, e nada melhor do que se tentar compreender como esse monumento histórico tornou-se na cracolândia que é hoje. Mas o meu projeto não foi selecionado, assim como não foi em agora em 2020 no edital “Estevão de Mendonça”, da secretaria estadual de cultura.
Tentei uma campanha de financiamento coletivo online que acabou não dando certo. Só consegui terminar o livro graças à generosidade de alguns amigos que fizeram doações em dinheiro e com isso consegui, por exemplo, viajar até Lucas do Rio Verde para entrevistar uma das mães.
Agora minha cartada final é uma parceria com uma editora de Cuiabá para uma publicação independente. Estamos trabalhando com o sistema pré-venda, ou seja, a pessoa compra o livro antes e recebe depois. Serão impressos 200 livros e para pagar pela impressão preciso vender 75 exemplares antecipadamente.
Escrever “Beco Sem Saída: A Chacina do Beco do Candeeiro” foi um processo por vezes angustiante. Nunca foi minha intenção produzir um dramalhão, longe disso, mas como não se compadecer da dor das mães, da terrível violência que esses meninos sofreram, dos inúmeros seres humanos que ainda sofrem no Beco do Candeeiro com o descaso do poder público e dos cidadãos de bem?
Meu livro não diz quem matou Adileu, Edgard e Reginaldo. Aliás, essa nunca foi minha intenção. O que sempre quis foi, contando suas histórias, devolver a humanidade a esses “capitães do asfalto”. Evitar que suas mortes caiam na vala comum do esquecimento e, quiçá, evitar que novos Babies, Indinhos e Nados, ao invés de educação, segurança e saúde, recebam do poder público somente uma prematura sentença de morte.
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Johnny Marcus é jornalista formado pela UFMT, com passagens pelos jornais A Gazeta, Correio de Mato Grosso e Circuito Mato Grosso, revista RDM e locutor da rádio Centro América FM. Também é professor de inglês e português.