Certa vez, tive a oportunidade de atravessar o Pantanal a bordo de uma chalana de Luxo, descendo o rio Paraguai entre as cidades de Cáceres e Porto Murtinho (MS).
Comigo iam outros jornalistas, donos de hotéis e pousadas, além de representantes das pastas de Turismo nos dois Estados.
O objetivo da viagem era formatar e tornar realidade um roteiro turístico em comum, em meio a paisagens espetaculares.
Viagem lenta, serpenteando com o rio, com tempo de sobra para observar. Nossos vizinhos discutiam que tipo de público estaria mais disposto a enfrentar aquela jornada. E também especulavam em quais feiras internacionais o trajeto seria mais bem acolhido.
Entre nossos representantes, porém, o debate nem havia começado. Uma polêmica havia surgido entre os representantes de Poconé e Cáceres, cada qual achando que seu município era mais adequado a abrir o passeio. Intrigas, caras amarradas e nenhum avanço.
Nem é preciso dizer que o projeto não foi à frente. E duvido que tenha sido por culpa dos vizinhos. Eu sei, é pedir para levar pancada elogiar qualquer aspecto positivo dos pantaneiros do Sul. Mas é inegável que, ao longo dos anos, eles têm sido mais competentes em explorar o potencial turístico de seu território.
Bonito e Jardim, só para ficar no exemplo mais evidente, são destinos reconhecidos internacionalmente.
Quando foi escolhida para sediar uma Copa do Mundo, Cuiabá tinha tempo e potencial para mudar, ao menos em parte, esta escrita. O desafio era grande, mas, se bem sucedido, poderia transformar a capital em um importante centro de atração.
Nunca faltou potencial. Em um raio de 200 quilômetros, quem desembarca por estas bandas tem diante de si um mosaico de cenários pantaneiros (transpantaneira, rio Paraguai e as baías de Chacororé e Siá Mariana) e do cerrado (Chapada, Nobres e Jaciara).
A própria capital, se bem tratada, poderia render surpresas aos visitantes. Antiga, pitoresca, tradicional, orgulhosa de suas raízes, quente, musical e colorida, Cuiabá tem muito mais a oferecer do que seus próprios moradores costumam imaginar.
Faltando menos de 70 dias para a competição, porém, o cenário é um misto de confusão e pasmaceira. Confusão na capital, retalhada por obras que não acabam nunca. Pasmaceira nas atrações do entorno.
Não tenho dúvida de que os turistas virão em grande número para ver os jogos de seus países e, no caminho, conhecer um pouco do Brasil.
O gol, porém, seria causar uma impressão tão boa que fizesse o visitante voltar, ou, ao menos, recomendar o destino aos parentes e amigos na volta para casa.
Nesta partida, a julgar pela avaliação dos diversos jornalistas gringos que aqui estiveram recentemente, estamos perdendo feio. Alguns dirão que se trata de uma ardilosa conspiração internacional. Eu, velho ranzinza e turrão, insisto em chamar de realidade. A essa altura do campeonato, pouco resta além de torcer para que todos, eles e eu, estejamos errados.
RODRIGO VARGAS é jornalista em Mato Grosso
Luiz Blanco
Terça-Feira, 08 de Abril de 2014, 18h22