Recentemente, declarações feitas pelo presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso, Sérgio Ricardo, classificaram o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) como um entrave ao desenvolvimento e como órgão que “atrapalha o pequeno produtor”. Embora críticas e debates sobre políticas públicas sejam legítimos, é necessário contextualizar e reconhecer que o Indea desempenha funções essenciais, que não apenas garantem a segurança alimentar interna, mas também sustentam a posição de Mato Grosso como potência mundial no agronegócio.
1. Guardião da sanidade animal e vegetal
O Indea é a linha de frente na prevenção e controle de doenças e pragas que podem dizimar produções inteiras.
• Programas de sanidade animal: O estado foi reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação, resultado de décadas de vigilância, controle e monitoramento. Esse status é vital para manter mercados exigentes, como União Europeia e países asiáticos, abertos à carne mato-grossense.
• Controle fitossanitário: Atua contra pragas como ferrugem asiática da soja e mosca-da-carambola, que poderiam comprometer milhões de toneladas de grãos e frutas.
Sem esse trabalho, eventuais surtos poderiam fechar fronteiras comerciais em poucos dias, causando prejuízos bilionários.
2. Abertura e manutenção de mercados internacionais
Para um estado que exporta para mais de 160 países, cada certificado sanitário emitido pelo Indea é um passaporte comercial.
• Países importadores exigem comprovação de sanidade — e só reconhecem laudos de órgãos oficiais de defesa agropecuária.
• O status sanitário conquistado pelo Indea é argumento decisivo em rodadas comerciais, ajudando a abrir novos mercados e manter acordos existentes.
• Mato Grosso, líder nacional em soja e carne bovina, não teria alcançado recordes históricos de exportação sem essa credibilidade internacional.
3. Segurança alimentar e proteção ao consumidor
Além de atender à demanda internacional, o Indea atua diretamente na segurança dos alimentos consumidos dentro do Brasil:
• Fiscaliza produtos de origem animal e vegetal, garantindo qualidade e evitando riscos à saúde pública.
• Controla o trânsito de animais e vegetais para prevenir a disseminação de doenças entre regiões.
• Protege o pequeno e o grande produtor ao manter um ambiente produtivo saudável e livre de ameaças biológicas.
4. Benefícios diretos ao pequeno produtor
Contrariando a ideia de que o Indea “atrapalha”, suas ações podem ser especialmente benéficas para agricultores e pecuaristas de menor escala:
• Proteção coletiva: um foco de doença em um pequeno rebanho, se não controlado, pode levar ao bloqueio de vendas para toda uma região.
• Acesso a programas de incentivo: muitos financiamentos e compras institucionais (como a merenda escolar) exigem comprovação de sanidade emitida por órgãos como o Indea.
• Assistência técnica: orientações sobre manejo sanitário e prevenção de pragas ajudam a reduzir perdas e melhorar a produtividade.
5. Referência mundial em defesa agropecuária
O Indea é frequentemente citado como modelo de eficiência na América Latina.
• Mato Grosso já recebeu missões técnicas internacionais para conhecer seu sistema de vigilância e certificação.
• O status de “livre de febre aftosa sem vacinação” é raríssimo e coloca o estado no topo da lista de confiabilidade para importadores.
• Esse reconhecimento aumenta o valor agregado dos produtos mato-grossenses, beneficiando toda a cadeia produtiva.
6. O equilíbrio entre fiscalização e desenvolvimento
A fiscalização agropecuária não é inimiga do desenvolvimento — é, na verdade, a sua garantia.
• Sem credibilidade sanitária, a produção perde valor e mercado.
• O papel do Indea não é “travar” a economia, mas impedir que falhas pontuais comprometam toda a cadeia produtiva.
• Melhorar processos, aumentar diálogo com produtores e investir em tecnologia são caminhos para aproximar ainda mais o órgão do setor produtivo, sem abrir mão da segurança
Dessa forma concluímos que o Indea não é um obstáculo ao desenvolvimento de Mato Grosso, mas um pilar que sustenta sua competitividade global. As conquistas sanitárias, a abertura de mercados internacionais e a proteção da produção — especialmente diante de um cenário de comércio global cada vez mais rigoroso — dependem de sua atuação técnica e constante.
Ao invés de enfraquecer a fiscalização, o desafio está em fortalecê-la, garantindo que pequenos e grandes produtores tenham acesso aos benefícios de um sistema de defesa agropecuária sólido, reconhecido e respeitado no mundo inteiro.
Max Campos é Servidor Público Estadual