É comemorado no dia 19 de maio, o Dia Mundial de Doação de Leite Humano. A data surgiu por proposição durante o V Congresso Brasileiro de Bancos de Leite Humano, através do I Fórum de Cooperação Internacional em Bancos de Leite Humano, em Brasília, setembro do ano de 2010.
A linda iniciativa visa fomentar a importância da doação que salva a vida de inúmeros recém-nascidos. Por muitos fatores, algumas mulheres não conseguem amamentar os seus filhos e filhas ao nascerem, necessitando da doação de leite materno por mulheres que produzem em excesso.
O mundo se mobilizou para que os países adotassem a data como um marco nos calendários. No Brasil foi oficializada pela Lei nº 13.277/2015, que instituiu a data acima mencionada como de comemoração e reflexão. É sabido que o leite materno é fundamental para a recuperação de recém-nascidos prematuros, abaixo do peso, e para os internados por conta de enfermidades.
A figura da “ama de leite” ou “mãe preta” foi muito difundida durante a época da colonização do Brasil e do mundo. As mulheres foram utilizadas para amamentar crianças, principalmente quando as mães estavam impossibilitadas. Outra situação historicamente foi visível durante o período escravagista, pois as mulheres negras eram reconhecidas como mais fortes que as brancas. Logo, o leite pelas mulheres negras produzido, teria, hipoteticamente, mais valor para a saúde dos bebês.
Em terras brasilis, a figura da “mãe de leite”, muitas vezes, escravas negras, eram emprestadas, vendidas ou cedidas para determinadas famílias abastadas, com a finalidade de amamentar os filhos e filhas dos senhores e senhoras. Não raras vezes, os recém-nascidos das escravas “amas de leite” eram afastados da mãe ou vendidos, para que elas se dedicassem exclusivamente aos filhos e filhas dos seus “donos e donas”.
Historicamente existe um grande acervo iconográfico de telas expostas em museus, onde as “mães de leite” foram retratadas alimentando os bebês das sinhás. O pintor Lucílio de Albuquerque exibiu no Salão de Belas Artes, no ano de 1912, no Rio de Janeiro, um quadro pintado em óleo sobre tela onde a descrição é a verdadeira visão da época: Mulher negra e jovem sentada ao chão, forte, corpulenta, braços fortes e pés graúdos amamentando um bebê branco, com o seu neném negro deitado ao seu lado. A escravidão, mesmo após a Abolição, trazia para mulheres negras esse “ofício”, de maneira que os jornais publicavam a seguinte procura: “Preta, com muito bom leite, prendada e carinhosa”.
Outros anúncios, retirados da tese de doutorado da doutora Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro, concluído na UnB, retrata a tortura da escravidão das mulheres negras: “Vende-se uma crioulla de 18 anos de idade, sem o menor defeito, muito elegante e propria para ama de leite por ter um filho recém nascido: lava, engomma e cozinha perfeitamente (...)”. “Aluga-se para ama de leite, uma preta de 17 dias de parto, com uma filha, muito carinhosa, garantindo-se a sua boa conducta (...)”.
Nos dias atuais, a data existe para ecoar e promover a possibilidade de vida plena e saudável para bebês que desse alimento necessitam. Os locais de coleta de leite materno possuem todo respeito com as doadoras, que, além de pensarem em seus rebentos, através da solidariedade, promovem o amor da doação.
Pesquisa divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso, em dezembro de 2.023, divulgou que a coleta de leite humano entre os meses de janeiro a outubro do citado ano, havia beneficiado aproximadamente 1,5 mil bebês prematuros na Baixada Cuiabana, e nas regiões Sul e Médio Norte.
A data vale lembrar trecho do poema de Cora Coralina intitulado “Mãe é quem fica”: “Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica. Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica. Fica neles.”
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29.