O dia 15 de março é libertador, por se comemorar o ‘Dia da Escola’. O verbete ‘escola’ advêm do termo grego ‘sklolê’, que tem como significado tempo livre, lazer, repouso e descanso. As mulheres alçaram aos bancos escolares muito tempo após os homens, sendo educadas para estar a servir e andar a passos lentos no quesito aprendizado.
A denominação de escola para os gregos apresenta sentido voltado ao bem querer, ao que é bom, deixando que a obrigação não se perfaça em algo doloroso, sendo vista a busca do conhecimento como atividade de lazer. A filosofia despontava como área de extremo saber para que os homens dela pudessem desfrutar. Historicamente as mulheres pouco são lembradas, pela impossibilidade de capacitação e aperfeiçoamento não lhes ser um direito.
Por muito tempo as escolas foram lugares sem possibilidade de discussão de educação não sexista e não machista, pois era contaminada por ‘indicadores silenciosos’ que moldavam os comportamentos de meninos e meninas. Por óbvio, o que lá era ensinado, corroborado com o viés patriarcal que dominava as famílias, não havia outra forma de se enxergar os desdobramentos que isso tudo viria a desaguar na vida adulta de homens e mulheres. Assim, ficava fácil perceber as estatísticas de violência doméstica e familiar, assédios, e outros delitos cometidos contra elas.
O desrespeito sempre foi tamanho, fazendo eco ao preconceito a gerar situações de muita desigualdade e vulnerabilidade para elas. Algo que é contado e recontado por diversas vezes e por diferentes pessoas, tende a se tornar realidade certa. E foi assim. Os espaços ‘preparavam’ mulheres e homens para seguirem ao androcentrismo naturalizado. Ora, se com eles no comando está bom, para que tentar qualquer forma de mudança? Não foram preparados e preparadas para estar em coletividade a tratar igualmente, tendo como premissa a igualdade de gênero.
Na atualidade se percebe com nitidez que algo não foi construído com pontes sólidas de equidade. Ao menor sinal de tentativa de lucidez, não faltam aqueles a chamar de ‘mimimi’ a busca pelo ideal. Quem estaria disposto a perder espaço de poder? É perda de espaço de poder a ascensão delas?
Os delitos sexuais e feminicidios cometidos contra elas são, sem dúvida, reflexo dos problemas sociais que não foram enfrentados em tempo oportuno. A visibilidade feminina tem tentado ‘as duras penas’ ganhar corpo, mesmo em tempos de resistência.
As opressões são tão claras, que a palavra ‘gênero’ passa a ser tratada como algo a ferir, ou, até um palavrão para alguns e algumas.
As mulheres, em tempos atuais, ocupam grande parte das cadeiras e bancos escolares em busca da sonhada capacitação que lhes foi relegada por muito tempo. Elas ganham espaço nos concursos de provas e títulos, pelo aperfeiçoamento agora admissível.
A Conferência Mundial de Mulheres realizada no ano de 1975 cuidou de evidenciar como discriminação às mulheres toda distinção fundada no ‘sexo’, e que tenha como objetivo a exclusão ou destruição de reconhecimento de gozo de exercício de direitos por elas.
Os direitos humanos devem ser vistos como forma de conscientização de todos, todas e todes. A educação é libertadora, devendo representar o embate dos interesses sociais nesta máxima perspectiva.
Harmonizar-se com padrões impostos é o mais desnecessário em termos educacionais. Deixar de lado os papéis de gênero que tendem a aprisionar corpos e mentes, é o buscado para não se reproduzir modelos de outrora.
Que a data traga a mais absoluta meditação sobre o mundo em que vivemos, e o que queremos...
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.