Por que ainda estamos permitindo que criminosos usem o nome da advocacia para extorquir inocentes?
Imagine receber uma ligação dizendo que você tem dinheiro a receber de um processo judicial antigo. Tudo parece legítimo: documentos com brasões da República, sentenças assinadas por juízes reais, nomes e fotos de advogados verdadeiros. Tudo muito convincente — e completamente falso.
Esse é o Golpe do Falso Advogado, um crime que vem crescendo silenciosamente no Brasil e que já enganou milhares de pessoas — muitas delas idosas, vulneráveis ou simplesmente mal informadas sobre o funcionamento do Judiciário. Em maio de 2025, a OAB registrou 2.181 ocorrências formais desse golpe. Mas quem atua no sistema sabe: o número real é muito maior.
É uma fraude que usa o prestígio da advocacia como isca e a confiança do cidadão como armadilha. E o mais grave: os golpistas estão ficando mais sofisticados a cada dia. Baixam peças de processos reais, falsificam sentenças, clonam fotos de profissionais, usam perfis com nome e sobrenome de advogados verdadeiros e ainda criam sites falsos de escritórios. Tudo isso para dar credibilidade a uma mentira cara: o pagamento “antecipado” para liberar valores que nunca existiram.
Estamos diante de uma crise silenciosa de confiança no sistema de Justiça, que precisa ser tratada como um grave problema social. Porque é isso que esse golpe provoca: prejuízo financeiro, trauma emocional e vergonha. E muitas vítimas sequer denunciam, com medo de parecerem “ingênuas”.
Mas aqui vai o recado: a culpa não é da vítima. A culpa é do criminoso.
E é dever de todos — advogados, imprensa, instituições públicas — alertar, educar e agir.
A OAB, por sua parte, tem se posicionado com firmeza desde o início. Produziu cartilhas de prevenção, vem ampliando os canais de denúncia e cobrando providências das autoridades competentes. Em nenhum momento titubeou no enfrentamento desse tipo de crime. Ao contrário: tem se mostrado vigilante, combativa e comprometida com a proteção da cidadania e da imagem da advocacia.
Mas isso não basta. É preciso que a informação chegue antes do golpe. E, para isso, precisamos da imprensa como aliada. Esse é um convite — e também um desafio — para os jornalistas que não têm medo de pauta quente e útil: falem sobre isso. Repercutam. Denunciem. Chamem especialistas.
Se você é vítima ou conhece alguém que caiu nesse golpe, denuncie.
Se você é advogado, informe seus clientes.
Se você é jornalista, ajude a romper esse ciclo de silêncio.
A advocacia é uma instituição essencial à Justiça. E nunca será cúmplice, ainda que involuntária, dessa nova geração de estelionatários digitais.
Jackson Coutinho é advogado. Corregedor-Geral Adjunto da OAB-MT (2016–2018). Foi Juiz Membro do TRE-MT (2017–2024), Corregedor-Geral Adjunto da OAB-MT (2016–2018);