Opinião Terça-Feira, 11 de Junho de 2024, 08h:00 | Atualizado:

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Renato de Paiva Pereira

Irreverência e Vulgaridade

 

Renato de Paiva Pereira

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Renato de Paiva Pereira

 

O artigo que me proponho a escrever comparando músicas antigas e modernas pode parecer saudosista – de repente é mesmo. Eventualmente parecerá decepcionado quanto aos valores musicais atuais. É capaz também de passar a ideia de que escolhi duas excelentes músicas do passado e as comparei com o pior que existe hoje – possibilidade que também não descarto. Mas chega de “entretantos”, é hora de começar a crônica.

E ela começa com a letra da música do poeta Noite Ilustrada: “O neguinho gostou da filha da madame, que nós tratamos de sinhá”. Veja que o autor já introduz a ideia de conflito de raça, antepondo o Neguinho com a filha da Madame, que no linguajar do morro carioca é uma mulher branca de posses e cheia de pose.

Mas o compositor continua “Senhorita também gostou do Neguinho, mas o Neguinho não tem dinheiro pra gastar” sugerindo um atrito social e de raça: neguinho pobre se apaixona pela branca rica. 

O confronto, por enquanto somente sugerido, se materializa nos próximos versos: “A Madame tem preconceito de cor, mas não pôde evitar este amor”. Neste ponto já dá pra antever que o amor do Neguinho com a Senhorita vai prosperar. Aí o enredo fica bonito: “Senhorita foi morar lá na colina, com o Neguinho que é compositor”. Vejam a poetização do morro, aqui transformado em colina.

Outra música também vinda do Rio de Janeiro. Esta do Silvio Caldas, cantando a perda da amada com quem vivia no Morro do Salgueiro: “A porta do barraco era sem trinco/ E a lua furando nosso zinco/ Salpicava de estrelas nosso chão” observem a cena aqui descrita: as estrelas são desenhadas no chão do barraco pela claridade da lua que passa pelos buracos do telhado. Em seguida vem um dos versos mais bonitos da poesia brasileira: “E tu pisavas os astros, distraída” e arremata a estrofe e a música: “Sem saber que a ventura desta vida/ É a cabrocha, o luar e o Violão” ou em uma leitura despretensiosa: o amor, a natureza e a arte.

Noite Ilustrada e Sílvio Caldas são poetas/compositores populares, tanto que cantaram sambas da favela carioca. Usam um linguajar bonito e despojado, diferente dos também excelentes compositores Chico Buarque e Caetano Veloso, estes, sim, poetas eruditos. 

Faço essa ressalva para esclarecer que não fui atrás da sofisticação (Caetano/Chico) para contrapor com a música atual que transcrevo abaixo como comparação do passado com o presente. Eis a música de Jorge e Mateus:

” Toda vez que a gente briga/Ela diz que vai embora/Aquela mala me assusta/Pronta do lado de fora/. Aí eu bebo, aí eu bebo/ Bebo pra carai, bebo pra carai / Bebo pra carai...”

Encerro a crônica afirmando que sou um admirador da música Sertaneja (Tião carreiro e Pardinho, Liu e Leo, Felipe e Falcão etc.) e nada tenho contra o que chamam de Sertanejo Universitário e seus artistas. 

Viva todo estilo musical! Apenas insisto que essa tentativa de parecer audacioso nas letras da moda, está muito mais perto da vulgaridade do que da irreverência

Renato de Paiva Pereira





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