Opinião Terça-Feira, 08 de Setembro de 2015, 12h:10 | Atualizado:

Terça-Feira, 08 de Setembro de 2015, 12h:10 | Atualizado:

Joacir Carvalho

Os seios da moda

 

Joacir Carvalho

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Desde o início da humanidade, nas mais diversas civilizações, houve a necessidade do homem criar mecanismos de sobrevivência: a caça, a reprodução, moradias e, também, as vestes, como artefato de proteção às intempéries climáticas.

Com o passar dos séculos, as roupas foram se transformando em sinônimo de poder e status, à medida que o conceito de moda foi se estabelecendo e ganhando a importância que se tem hoje em dia. A cada estação do ano cria-se um novo padrão de tecido, novas cores, novos modelos, outros desenhos de sapatos, brincos, pulseiras, entre outros artefatos. Em torno de todo esse movimento do modismo, aparecem as indústrias produzindo materiais cada vez mais sofisticados, oportunizando aos criadores da moda, produtos cada vez mais criativos e com tecnologia avançada, numa busca frenética do aprimoramento da beleza e da estética corporal. 

A escolha de uma roupa traz consigo inúmeros significados psicológicos, sociais e culturais, de forma que a moda, considerada por muitos como algo fútil, é, na verdade, uma peça chave para a construção e compreensão da personalidade. Sua influência vai além do vestuário, pois está estreitamente relacionada às noções de identidade, poder e diferenciação. Nesse contexto, a cirurgia plástica encontrou um caminho fértil, cuidando das imperfeições e corrigindo os segmentos do corpo em desarmonia com o todo. E, assim, caminha de mãos dadas com as demais áreas, em busca da beleza física e do equilíbrio emocional, fatores importantes em nossa sociedade moderna.

Porém, como o corpo humano não pode ser tratado da mesma forma que um tecido de estação, que pode ser substituído no momento seguinte, a cirurgia plástica não pode ser considerada como modismo. Quando tratada desta forma, o resultado será em prejuízo ao próprio corpo e contra o conceito de beleza física, que ela preconiza e busca realizar.

Foi o que aconteceu nas cirurgias para o aumento das mamas, com o uso das próteses de silicone. Bastou aparecer alguém famosa com uma projeção exagerada das mamas, para que outras mulheres começassem a imitá-la, e aí o que se presenciou foi um aumento progressivo de pacientes em busca de próteses de volume cada vez maior.

Existe uma lei em física que se aplica perfeitamente nesses casos: quanto maior o volume, maior será o peso, quanto maior o peso, maior será a ação da gravidade, e como resultado, mais rápida e intensa será a queda das mamas. É exatamente isso que tem acontecido nas pacientes que colocaram próteses exageradamente volumosas, em busca de um modismo que, em corpo humano, não podemos admitir.

Recentemente começaram a surgir notícias de que as mulheres agora preferem mamas menores e mais leves, pois deixam o corpo mais bonito e de forma mais estética. Traduzindo: a moda agora seria de mamas com silicones menores. Mas o que realmente está acontecendo é que as pacientes que colocaram próteses de grande volume agora estão querendo trocá-las por outras bem menor. Os motivos são queixas de dor, postura inadequada e queda acentuada das mamas. 

Essa troca trará consequências, sem dúvidas. O aumento exagerado das mamas causou a flacidez excessiva dos tecidos e, com isso, a sua queda. Para reduzi-las através da troca das próteses e fazer a correção da flacidez das mamas, o cirurgião terá que usar outra técnica cirúrgica que, inevitavelmente, deixará na paciente uma cicatriz em torno da aréola, outra saindo da aréola até o sulco mamário e, finalmente, uma outra no sulco mamário, formando uma imagem de T invertido ou âncora, para reduzi-las. Portanto, esse foi o preço que se pagou pelo simples “seios da moda”. 

O nosso organismo não é roupa e, portanto, não pode ser considerado e aplicado a ele um modismo. Não só em relação ao silicone de mamas, mas também a projeção das nádegas, piercing, tatuagens e tudo mais que possa ser feito com base em um modismo exacerbado da sociedade atual. 

A beleza se traduz na busca do equilíbrio harmônico do nosso físico. Cada corpo possui uma estrutura e obedece a uma fórmula de beleza física, única e impossível de se copiar. Então é necessária uma análise profunda para que, ao se decidir por seios pequenos ou grandes, a paciente tenha a certeza de que, independentemente da moda atual, ela estará satisfeita com seu corpo, não o tratando como se fosse um manequim vestido com as roupas da estação. Desta forma, certamente ela estará evitando problemas psicológicos e estéticos futuros, bem como olhando para o seu corpo da forma correta, como deve ser.

*Dr Joacir Rodrigues Carvalho é médico, especialista em Cirurgia Plástica e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, e membro efetivo da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e Internacional de Cirurgia Estética.

 





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Comentários (1)

  • antonio carlos

    Terça-Feira, 08 de Setembro de 2015, 23h06
  • Boa dr. Joacir, equilíbrio físico e mental. Como dizia Juca Chaves "...a frase amarga da realidade, tire os seus seios do prato de sopa."
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