Ray Nagin era o prefeito de Nova Orleans quando veio o furacão Katrina. Ele enfrentou a situação. Foi ele que chamou a atenção dos EUA para o tamanho do desastre que acorrera com a cidade.
Foi ele que colocou o governo George Bush contra a parede sobre esse assunto. Virou uma espécie de herói da cidade. Este prefeito acaba de ser condenado à prisão pela Justiça norte-americana. A história é interessante, talvez mostre como funciona a cobrança judicial em países anglo-saxônicos.
O prefeito terá uma pena entre 12 e 18 anos em regime fechado. Seu advogado, falando para a imprensa, acredita que a pena será entre 12 a 14 anos de cadeia. Para abreviar, ele pode ficar no mínimo 12 anos na cadeia.
O tamanho do crime dele? Recebeu direto da corrupção, comprovadamente, 200 mil dólares em dinheiro. Ou algo como 500 mil reais. Foi provado ainda que ele viajara com a família para a Jamaica em jato privado pago por empreiteiras que tinham contratos com a recuperação de Nova Orleans.
Também viajou para o Havaí, Nova York e até mesmo onde o Saints, time de futebol da cidade, iria jogar determinada partida. Tudo isso juntado, incluindo os 200 mil dólares em dinheiro, deu cerca de 500 mil dólares.
Ou, no câmbio atual, algo como um milhão e duzentos mil reais. Se comparado com o tamanho das coisas não republicanas do Brasil e Mato Grosso não parece piada de salão? O prefeito, espécie de herói da cidade, vai tomar aquele tamanho de cadeia por uma quantia em dinheiro que nas tantas coisas não republicanas nacionais e estaduais seria para preencher buraco no dente.
Continuo com história de outra realidade. Fora condenado um pouco antes um deputado federal pela Louisiana que tinha mais de 20 anos de Washington. Ele recebeu uma pequena quantia de dinheiro, mas sabe qual foi o motivo principal da condenação?
Num arranjo com empresa norte-americana para vender sei lá o que para país africano, ele conseguiu que ela pagasse os estudos de suas duas filhas na Universidade de Harvard. Como é curiosa a vida, hoje uma delas é médica e a outra advogada, ambas formadas em Harvard e o pai, por isso, tomará cadeia por muitos anos.
Mais um dado nesse tipo de história comparativa. Empreiteiros que participaram da corrupção também foram para a cadeia. A coisa pipocou mais para o lado dos políticos porque lá a tal de delação premiada funciona mesmo. Quando eles se viram apertados, entregaram todo mundo. Já pensou isso nestas plagas?
Outro ponto. Lá, diferente daqui, não há progressão de pena. Não existe essa de trabalhar durante o dia e ficar preso à noite. É regime fechado mesmo. Você, leitor, acha que neste assunto está correta a cultura anglo-saxônica ou a ibero-católica da América Latina?
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e articulista política