O jornalista Cláudio Natal foi citado pelo advogado Renato Gomes Nery como "grampeador", “blogueiro” e membro de um "escritório do crime" em uma representação disciplinar à Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), feita pelo advogado Renato Nery. Ele foi preso em flagrante nesta segunda-feira (26) durante uma operação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Natal foi encontrado com munições ilegais em frente ao condomínio Solar das Torres, no bairro Santa Cruz, em Cuiabá. A prisão ocorreu durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão vinculado as investigações sobre alteração de documentos e assessoramento a escritórios de advocacia suspeitos de envolvimento no homicídio de Renato Nery, morto a tiros em julho de 2024.
Nery, que havia denunciado Natal à OAB meses antes de morrer, descreveu o blogueiro como parte de uma rede que atuava em conluio com advogados para fraudar processos judiciais. Em junho de 2024, Renato Nery protocolou uma representação disciplinar contra o advogado Antônio João de Carvalho Júnior, na qual citou Cláudio Natal como um dos integrantes de um suposto esquema ilegal.
O documento, obtido pelo FOLHAMAX, descreve Natal como "blogueiro criminoso já condenado" e "grampeador", associado a um grupo que incluía médicos, grileiros e advogados suspeitos de manipular ações judiciais. “O blogueiro (estelionatário) Claudio Natal sempre se encarregando de noticiar, nas suas maledicentes linhas, inúmeras inverdades sobre a conduta social do advogado Renato (Representante). Por meio deste expediente ele lhe imputa ignominiosos qualificativos (canalha, usurpador de direitos etc.)”, diz trecho.
Nery alegou que Natal atuava para difamar adversários e pressionar juridicamente seus alvos, incluindo ele próprio. O advogado também acusou o blogueiro de auxiliar o "escritório do crime" — termo usado para se referir ao escritório de Antônio João, alvo principal da denúncia.
“O escritório profissional do advogado Antonio João de Carvalho Junior é denominado como "escritório do Crime" em Cuiabá, onde sempre aparece o envolvimento de vários famosos como Gaylussac Dantas de Araujo, que é advogado e sócio/parceiro do Filho do desembargador Sebastião de Moraes Filho, Mauro Thadeu Prado de Moraes”, diz outro trecho”.
Esta não é a primeira vez que Cláudio Natal tem seu nome envolvido em controvérsias relacionadas a Renato Nery. Em 2021, o jornalista foi processado pelo advogado após publicar uma matéria em seu blog acusando Nery de supostamente pedir R$ 1 milhão para comprar uma sentença judicial.
Na ação judicial, Renato Gomes Nery e Luiz Carlos Salesse alegaram que Cláudio Natal, responsável por um site de notícias, divulgou informações falsas e difamatórias. A matéria em questão, intitulada “Advogado é gravado pedindo um milhão para comprar sentença de desembargador em Cuiabá”, afirmava que Nery teria sido gravado em uma ligação solicitando o valor ao desembargador João Ferreira, que se encontra afastado por decisão do Conselho Nacional por outro caso, em troca de uma decisão favorável em um processo de terras.
NOVA FASE – As investigações da DHPP apontam que Natal, que se apresenta como jornalista e como perito judicial, está envolvido na alteração de documentos e no assessoramento a escritórios de advocacia. Ele também seria responsável por cerca de 15 dias antes das prisões dos militares envolvidos, ligar para a mandante do crime, Julinere Goulart Bastos, para providenciar dinheiro para custear advogados que defenderiam os policiais.
A primeira etapa do inquérito policial que apura o homicídio de Renato Nery foi concluída no dia 9 de maio, com o indiciamento do caseiro de uma chácara em Várzea Grande, Alex Roberto de Queiroz Silva, e o sargento da Polícia Militar, Heron Teixeira Pena Vieira, como envolvidos diretamente na execução do crime.
Os dois foram indiciados pelo crime de homicídio qualificado pela promessa de recompensa e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. As investigações da DHPP identificaram o casal Cesar Jorge Sechi e Julinere Goulart Bastos, moradores do município de Primavera do Leste, como mandante do crime. A motivação do crime foi uma disputa de terra.
Renato Nery foi assassinado aos 72 anos, atingido por tiros de pistola no dia 5 de julho de 2024, na frente de seu escritório, em Cuiabá. Ele foi socorrido e submetido a uma cirurgia em um hospital privado de Cuiabá, mas morreu horas depois do procedimento médico.