O coronel reformado do exército, Etevaldo Caçadini, seria o líder de um grupo de extermínio que contava com a participação de militares das Forças Armadas, empresários e outros civis, que tinham como alvo “comunistas, corruptos e criminosos”. FOLHAMAX teve acesso à decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a deflagração da 7ª fase da Operação Sisamnes nesta quarta-feira (28), da Polícia Federal, que apura as circunstâncias da morte do advogado Roberto Zampieri, assassinado em Cuiabá no fim de 2023.
Conforme a representação da Polícia Federal, investigações da Polícia Civil de Mato Grosso, que foram remetidas ao STF, localizaram uma “agenda” de Etevaldo Caçadini com informações de organização administrativa e logística de um grupo intitulado “Comando C4”, que tinha o objetivo de “caça comunistas, corruptos e criminosos”. “A partir das informações coletadas pela Polícia Civil do Mato Grosso, com destaque para as anotações constantes da agenda apreendida na posse de Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas (também conhecido como Coronel Caçadini), vieram à tona fortes indícios dando conta da existência, em tese, de uma organização criminosa armada autointitulada Comando C4, supostamente constituída pelo Coronel Caçadini e integrada por militares (da ativa e da reserva), bem como civis, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas”, revelou a Polícia Federal.
Preso desde janeiro de 2024, às portas de completar 70 anos de idade, o coronel reformado do Exército já ingressou com diversos pedidos para ser beneficiado com a prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. A aparente condição “frágil” do oficial militar de alta patente, aliados à sua idade avançada, entretanto, podem mascarar a figura do líder de um grupo que possui até mesmo uma “tabela” de pagamentos por espionagem e mortes .
Conforme as investigações, o assassinato de um “comunista, corrupto ou criminoso” da categoria “figuras normais” sairia por R$ 50 mil. Já a morte de deputados custaria o dobro (R$ 100 mil), seguida pela de senadores, cujo preço “por cabeça” foi estabelecido em R$ 150 mil.
No topo da lista está a classe “Ministros/Judiciário”, onde o "Comando C4" cobra R$ 250 mil. “Houve, também, apreensão de um documento, intitulado ‘Comando C4 (Comando de Caça (Comunistas, Corruptos e Criminosos)’, com indicação de divisão estruturada de administração, pessoal, armamento e valores. Destaco os valores: Figuras Normais - 50 mil, Deputados- 100 mil, Senadores- 150 mil, Ministros/Judiciário - 250 mil”, revelam os autos.
MISSÃO CUMPRIDA
A agenda de Caçadini também traz informações sobre a morte de Roberto Zampieri, executado a tiros em dezembro de 2023 por um dos réus que já se encontra preso, identificado como Antônio Gomes da Silva. “Consta a apreensão de uma agenda em poder de Etevaldo Caçadini, com informações relacionadas ao homicídio de Zampieri e com uma série de menções a situações que são correlacionadas aos eventos que antecederam o homicídio de Zampieri”, diz a representação da PF.
Há ainda a menção de outros crimes, que o grupo chama de “Missões”. Um terceiro agente envolvido na morte do advogado, o instrutor de tiros Hedilerson Fialho Martins Barbosa, teve uma conversa com o sargento do exército, Gilberto Louzada da Silva, que seria ligado a outro oficial militar, identificado como Peterson Venites Komel Junior (Ten. Peterson).
Peterson teria repassado a Hedilerson o contato de um “membro” de seu grupo na organização criminosa, intitulada de “Equipe Alpha”. “Peterson Venites Komel Junior, por seu turno, parece ter oferecido o contato de Gilberto Louzada para Hedilerson Barbosa, como sendo integrante de sua equipe, denominada ‘Equipe Alpha’. Também foram localizados diálogos relevantes entre Hedilerson e Gilberto Louzada, cujo contato seria apontado como ‘Gilberto (Ten. Peterson)”, relatam as investigações.
Na sequência, conforme os autos, o sargento Gilberto demonstrou “preocupação” durante um contato telefônico com o “semblante” do instrutor de tiros, comentando que ele deveria ser patrocinado “dignamente” por suas “missões”. “Fala capa, espero que tudo bem com vc! Achei vc com o semblante bem cansado ! Espero que estejas sendo ao menos patrocinado dignamente nessas missões!?”, narra a mensagem.
As investigações também revelam que encontraram uma série de fotos de crimes e homicídios no telefone celular de Hedilerson, incluindo o monitoramento de Roberto Zampieri. Após a execução do advogado, o suspeito recebeu uma mensagem dizendo “missão cumprida”.
LETALIDADE BÉLICA
Na representação da Polícia Federal, o ministro Cristiano Zanin determinou as prisões do produtor rural Aníbal Manoel Laurindo - suspeito de ter “encomendado” a morte do advogado em razão de uma disputa judicial de terras em Mato Grosso -, Etevaldo Caçadini, Antônio Gomes da Silva, Hedilerson Barbosa e Gilberto Louzada. Zanin também determinou o uso de tornozeleira eletrônica contra outros suspeitos, identificados como Salezia Maria Pereira de Oliveira, titular da linha telefônica que recebeu ligações do coronel Caçadini, inclusive no dia da morte de Roberto Zampieri, o especialista em tecnologia da informação, Davidson Esteves Nunes - sócio de Hedilerson na Albcom Sistemas, que também teria contribuído para os crimes, José Geraldo Pinto Filho, que teve conversas com Hedilerson sobre o plano da morte do advogado e Peterson Venites Komel Júnior, o "Ten. Peterson", que comandaria um núcleo do grupo intitulado “Equipe Alpha”.
Em sua decisão, o ministro do STF mostrou preocupação quanto aos suspeitos, a quem denota que possuem um potencial de letalidade “imensurável”, além de advertir que o caso é de “gravidade extrema”. “A letalidade potencial da organização é imensurável, dada sua elevada capacidade operacional e bélica, notadamente porque integrada por agentes que pertencem ou pertenceram às Forças Armadas e que receberam treinamento militar especializado. Assim, a hipótese criminal se reveste de gravidade extrema, a justificar resposta imediata desta Suprema Corte”, advertiu o ministro do STF.
Zanin também justificou as prisões e o uso de tornozeleira eletrônica entendendo haver um risco concreto de fuga, tendo em vista que a “organização pode disponibilizar a seus agentes expertise e meios para ocultação e travessia de fronteira”. Além da morte de Zampieri, o ministro revela a suspeita de que o grupo teria assassinado um homem de nome Marcelo da Silva.
As investigações sobre a morte de Roberto Zampieri tiveram início com as suspeitas de um esquema de vendas de sentenças no Poder Judiciário de Mato Grosso que chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também teria se tornado um "balcão de negócios jurídicos".
Marcos Justos
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