Empresários bolsonaristas de Campo Novo do Parecis, a 396 km de Cuiabá, têm levado supostos venezuelanos a estabelecimentos comerciais da cidade em uma espécie de “promoção de palestras” para que eles relatem como era viver no país em que moravam e como o Brasil pode se transformar em uma Venezuela em caso de uma eventual vitória do Partido dos Trabalhadores no segundo turno.

Vídeos que circulam em aplicativos de mensagens e encaminhados ao , dois venezuelanos aparecem falando de socialismo, comunismo e a miséria vivida no país vizinho. Esse enquadramento é explorado maciçamente pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores.

A tentativa dos empresários, segundo denúncia encaminhada à reportagem, é pregar um pânico contra a candidatura do ex-presidente Lula (PT) e ao mesmo tempo pressionar os funcionários a aderir a candidatura de Bolsonaro. Em um dos vídeos recebidos pela reportagem, uma mulher não identificada e que se diz venezuelana, aparece “palestrando” dentro da Castelini, loja de vestuários localizada no centro da cidade.

O empreendimento tem como sócios Rafael Antonio Bonatti e Sandra Fabiana Martins Segala, segundo consta na base de dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). “Eu não quero que o seu país [Brasil] e o meu país [agora o Brasil] passe o mesmo que nós [venezuelanos] passamos”, diz a mulher, que também afirma ter compadecida espontaneamente na loja.

Ainda de acordo com a denúncia, a venezuelana tem sido levada para outras empresas e comércios da cidade para falar sobre liberdade, comunismo e socialismo. Ao lado dela, na Castelini, aparecem Eliane Helena (de camisa amarela), dona da empresa de transporte rodoviário Everest Transportes e Andreia Giacomet (de camisa cinza), uma das cooperadas do Grupo Giacomet (produtores rurais).

A gravação de 1 minuto e 33 segundos continua e a mulher diz que quando os governos socialistas vencem eleições não querem mais deixar o poder. “Se você pensa que o seu país está ruim, não é assim. Você tem o poder de escolher o que comer, o que dizer, como expressar-se, o que vestir”, explica.

Outro empresário de Campo Novo, Sebastião Carlos Pim, dono de uma loja de calçados, também gravou um vídeo com um venezuelano. No vídeo gravado em uma rua do centro da cidade, ele se refere ao homem como Bráulio e diz tê-lo conhecido naquele dia.

“(..) Você me contou Bráulio porque que não deve votar no Lula, fala pra mim e para o pessoal”, diz Pim. Braulio, por sua vez, responde: “Eu acredito que se votar pro Lula, o brasileiro fica fudido, porque ele é um comunista. E isso foi o que aconteceu em nosso país. Nós votamos por um comunista e por culpa desse comunista bloquearam toda economia e agora veja como sofre o povo todo com fome”.

O homem ainda conta que largou filhos, irmãos e parentes em busca de uma nova oportunidade no Brasil. Ao final do vídeo, o empresário cita o slogan bolsonarista Deus, Pátria, Família e Liberdade.

Em outra denúncia, um print de um grupo de WhatsApp lista 8 empresas de Campo Novo do Parecis que, supostamente, “são PT”. O cabeçalho é intitulado “Lista PT Campo Novo, Tangará e Sapezal''.

No último dia 10 de outubro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) divulgou uma nota técnica para coibir o assédio eleitoral. Segundo o documento, trata-se de “uma conduta abusiva que atenta contra a dignidade do trabalhador, submetendo-o a constrangimentos e humilhações, com a finalidade de obter o engajamento subjetivo da vítima em relação a determinadas práticas ou comportamentos de natureza política durante o pleito eleitoral”.

Além das recomendações aos empregadores, a nota orienta procuradores e procuradoras a promoverem ações institucionais conjuntas com os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), de forma a coibir a prática de coação ou assédio eleitoral no âmbito das relações de trabalho.