Chico Ferreira
A taxação de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é assunto em toda a imprensa, inclusive internacional, e causou forte reação do setor produtivo de Mato Grosso, especialmente das entidades do agronegócio. O líder americano usou como justificativa para a medida supostas censuras a redes sociais nos EUA e perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, além de desequilíbrio comercial. O comunicado prevê a taxação a partir de 1ª de agosto.
Para o professor e economista da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Mário Munhoz, a medida tem potencial para causar uma crise ampla na economia brasileira e atingir em cheio o consumidor final, como a “dona Maria”, que vai ao mercado e deve sentir a alta nos preços.
“Essa medida anunciada pelo presidente Trump, se ela entrar em vigor, tem um potencial para causar uma grande crise no Brasil. Uma consequência imediata, que já está ocorrendo só com o anúncio, é o aumento do dólar. E quando o dólar aumenta, ele desencadeia diversas consequências”, explicou o professor.
Segundo Munhoz, o efeito cascata começa com a alta do dólar, que encarece tudo o que o Brasil importa: cereais, combustíveis, insumos agrícolas e medicamentos. Essa pressão leva o Banco Central a subir a taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), o que encarece o crédito, reduz o consumo e trava o crescimento.
O impacto pode chegar até à mesa do consumidor com o aumento no preço de itens básicos, como o pão. Isso porque a produção de trigo, por exemplo, depende de insumos importados que ficam mais caros com a alta do dólar, consequência direta da queda nas exportações.
“A taxa Selic influencia todo crédito no Brasil. O Banco Central sempre que tem ameaça de aumento de inflação, ele aumenta a Selic. Essa espiral é muito negativa: aumento do dólar, aumento da Selic, e consequência direta na mesa do cidadão comum. Por exemplo, o trigo que a gente importa já vem mais caro”, disse.
E não para por aí. Até alimentos produzidos aqui dentro, como carne, milho e soja, podem sofrer impacto. “A carne, por exemplo, está cada vez mais dolarizada. Com a suspensão de exportações para os Estados Unidos, pode até ter uma queda de preço momentânea no mercado interno. Mas no geral, o aumento do dólar encarece os insumos da produção agrícola, e isso pressiona o preço de grãos como milho e soja, inclusive aqui no Brasil”, disse.
Sobre Mato Grosso, o professor explicou que o impacto direto da medida pode ser menor em relação a estados como São Paulo, pois os produtores mato-grossenses exportam mais para a China do que para os Estados Unidos. “Essa consequência para o cidadão comum, para dona Maria que vai para a prateleira do supermercado, ela é clara. Ela é também para o comércio e serviços, porque desaquece a economia. A taxa Selic aumentando, desaquece a economia, crédito mais caro. Então nós estamos criando aí um cenário bastante preocupante de crise”, explicou.
Questionado sobre a promessa do governo Lula de "punir" os Estados Unidos com a mesma moeda, ou seja, aplicando também uma tarifa de 50%, Munhoz alertou que uma guerra comercial não é o melhor caminho.
“Se o Brasil revidar, simplesmente, e falar: vamos também aumentar em 50% o que a gente compra dos Estados Unidos’, é uma guerra. E como toda guerra, quem sai perdendo é o cidadão de menor renda. Vamos ter inflação ainda maior. Isso afeta remédios, peças de máquinas, veículos… Tudo que compramos dos Estados Unidos pode ficar mais caro”, disse.
O professor defendeu que o Brasil busque estratégias mais inteligentes e menos agressivas, como alternativas diplomáticas ou até a revisão de regras de patentes em setores estratégicos. “Uma possibilidade é usar a lei das patentes, por exemplo, facilitando a produção de medicamentos genéricos. Isso prejudica os EUA, mas sem causar tanto impacto para o consumidor brasileiro”, disse.
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