Em sua fala na tribuna da Câmara de Cuiabá, a vereadora Maysa Leão destacou a campanha Agosto Lilás, que convoca a população para o combate à violência contra a mulher. Em seu discurso, a parlamentar destacou que, ainda hoje, as vítimas são julgadas e culpadas pela sociedade pelo mal sofrido e pouca responsabilidade de atribui aos seus algozes.
Para a vereadora, cobrar leis mais rígidas aos agressores não é medida resolutiva, mas uma maneira de “se eximir” da responsabilidade, uma vez que os casos de feminicídio têm crescido em Mato Grosso, que figura entre os campeões de estupros e violência doméstica. Leis mais severas têm sido argumento recorrente nos discursos do governador Mauro Mendes (União) e secretário de Estado de Segurança, Cesar Roveri. Este último, por sua vez, chegou a mencionar que o feminicídio é um “fenômeno social” e que o combate deve começar dentro de casa, com a educação de meninos, não só por parte das ações de segurança.
A vereadora citou a violência contra a jovem Juliana Garcia dos Santos, espancada com mais de 60 socos pelo então namorado, Igor Cabral. Em entrevista, no domingo (3), a vítima relatou que, assim que passou a ser agredida, lutou para se manter consciente e não sair do elevador, único lugar que havia câmeras com imagens acessadas em tempo real pela portaria do prédio. Era a esperança de que fosse socorrida, o que não aconteceu.
“Ela sabia que não podia sair do elevador para que fosse filmada, para que tivesse provas. Porque se sabe que na nossa sociedade, a palavra da mulher vale muito pouco. Temos denúncias em Mato Grosso, que casos semelhantes, de um célebre agressor que bateu na mulher grávida de 8 meses e terminou as agressões fora do elevador. Ele segue por aí, com denúncia de mais de 10 mulheres, ele sequer perdeu a OAB”, alega a vereadora.
Em sua avaliação, além de sustentar laços em sociedade e dizer o quanto a mulher é importante, cabe a sociedade mudar a conduta de “ter zero” tolerância com agressores.
“Não se cabe a pergunta do que ela fez. Quando a doutora Cristiane foi assassinada, de forma vil e violenta, e deixada no carro no Parque das Águas, com os óculos no rosto, como se tivesse dirigindo, rasgos em seu corpo, sinais de horas de sofrimento e de uma mulher que lutou pela vida. Este homem alegou surto”, descreve a parlamentar.
O caso citado é de Cristiane Castrillon da Fonseca Tirloni, assassinada a facadas por Almir Monteiro dos Reis, na casa em que ele residia no bairro Santa Amália, em Cuiabá. Ambos tinham se conhecido em um bar, na noite anterior. Após matar a mulher, ele abandonou o corpo no parque, limpou sua casa e chamou outra mulher para ir até lá, na tentativa de forjar um álibi de que teria passado a noite com esta moça.
Com frequência, autores de feminicídio pedem exame de insanidade mental, alegam surtos, problemas de saúde e emocionais para justificar a violência cometida com suas companheiras.
“Mesmo com um vídeo, um rosto quebrado, uma prova cabal, ainda se pergunta (à vítima) ‘por que uma mulher conheceu um homem naquele dia e foi para a casa dele?’. A pergunta não é essa. A pergunta é ‘como um homem que conhece uma mulher na primeira noite tem a coragem de rasgar seu corpo, de estuprá-la, violentá-la, destruí-la. Como? E
sta é a pergunta”, argumenta a vereadora.
Ela ainda destaca as condições em que, apesar da violência física sofrida, ainda vem os julgamentos e perguntas como “por que estava lá? Por que vestia esta roupa? Por que não saiu do relacionamento? Aconteceu porque não sabe escolher direito”.
“Toda vez que fazem estas perguntas jogam nas costas na mulher a culpa pela violência da qual ela foi vítima. Precisamos falar do comportamento dos agressores”, afirma. Ela ainda cita que não há botão do pânico disponível nos 142 municípios e que a delegacia da mulher não está aberta 24h, mas somente em dias da semana, das 8h às 18h.
“Não podemos resumir esta pauta a dizer que precisamos de leis mais duras. Dizer isso é se esquivar da responsabilidade”, acusa.
Somente este ano, 27 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso.