Pouco lembrada, ou celebrada, a data do aniversário de Mato Grosso, 9 de maio, só foi oficialmente instituída há pouco mais de 20 anos. O mestre em História e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Suelme Fernandes, avalia que o motivo para esta demora foi a pressão e força política de Cuiabá, que é mais antiga que o próprio estado. Isso porque quando a Capitania de Mato Grosso foi criada a cidade escolhida como capital foi Vila Bela da Santíssima Trindade, o que incomodou a elite de Cuiabá, que já era uma cidade bem estabelecida e poderosa. 

Mato Grosso ficava em uma área de domínio Espanhol, conforme o Tratado de Tordesilhas. Contudo, os irmãos Paes Leme (Fernão Dias Paes Leme e Pascoal Moreira Cabral Leme), bandeirantes, desbravaram o território e chegaram à região de Cuiabá em 8 de abril de 1719, onde encontraram ouro. 

Conforme explicou Suelme, quando a cidade de Cuiabá já estava bem consolidada os portugueses decidiram averiguar o restante do território em busca de ouro, até que chegaram ao Rio Guaporé, na altura de onde hoje fica Vila Bela da Santíssima Trindade. Cuiabá pertencia à Capitania de São Paulo, mas como a intenção era tomar as terras para a Coroa Portuguesa, decidiram então, em 9 de maio de 1748, criar a Capitania de Mato Grosso, o que facilitaria este processo e a administração do território. 

‘Então empurrou a capital para lá. Cuiabá não gostou, porque a cidade já era muito maior, já estava muito desenvolvida. A elite cuiabana ficou muito brava com essa história’, disse o historiador. Em 1750 veio o Tratado de Madrid, que substituiu o de Tordesilhas, mas foi apenas em 1777, com o Tratado de Santo Idelfonso que os limites territoriais desta região foram definidos. 

A instituição do 9 de maio como data para o aniversário de Mato Grosso só ocorreu por meio da lei nº 8.007, de 26 de novembro de 2003, de autoria do então deputado estadual João Malheiros.  

‘A instituição da data é algo muito recente, (...) não existia praticamente, a gente celebrava o aniversário de Cuiabá como se fosse de Mato Grosso’, disse Suelme.   O historiador afirmou que a elite cuiabana nunca aceitou o fato de não ter sido a primeira capital e, por ter o domínio político no território, evitou que o 9 de maio fosse a data comemorada.

‘Eles preferiam comemorar o 8 de abril para reforçar a força de Cuiabá. Então é uma briga de disputa de memórias, tem a ver com as elites políticas cuiabanas que nunca reconheceram que a primeira capital do estado fosse Vila Bela da Santíssima Trindade. Mas aí o João Malheiros propõe isso, e é legal ter sido um cuiabano (...), ele fez uma correção histórica’.