Política

Quarta-Feira, 23 de Junho de 2021, 23h35

GUERRA JURÍDICA

Estado demite mais 31 efetivados sem concurso; grupo tenta voltar na Justiça

Já são 61 servidores que perderam os cargos por decisão judicial

DIEGO FREDERICI

Da Redação

 

O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Pública de Mato Grosso (Sinterp-MT), Gilmar Brunetto, lamentou as demissões da Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência, e Extensão Rural (Empaer) determinadas pela Justiça. Nesta quarta-feira (23), o Diário Oficial publicou o desligamento de mais 30 trabalhadores do órgão.

Ao todo, já são 61 pessoas que perderam seus postos de trabalho nos últimos dois dias. “Para nós é uma grande injustiça. Sessenta e uma famílias de trabalhadores que prestam serviços há 30 anos a Empaer foram demitidas”, lamentou o sindicalista.

As demissões ocorrem em razão do cumprimento de uma antiga discussão na Justiça sobre o processo de contratação destes profissionais – engenheiros, pesquisadores, veterinários, auxiliares de escritório, vigias etc. Os trabalhadores foram admitidos no início dos anos 1990 por meio de um processo seletivo externo autorizado pelo então governador Jayme Campos – ou seja sem concurso público.

Uma decisão judicial de 2001, porém, determinou a demissão dos trabalhadores, que vem sendo discutida desde então. Gilmar Brunetto chama a atenção para o fato de que somente 20 anos depois, em 2021, o Estado tenha autorizado as demissões no momento em que um Projeto de Emenda à Constituição (PEC), para regularizar estes profissionais, foi aprovada em primeira votação por 23 deputados estaduais da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).

“A nossa esperança é a PEC. Mas o que mais chama a atenção é a velocidade com que essas demissões, que se arrastam há anos na Justiça, vem ocorrendo num momento em que 23 deputados estaduais votaram a favor do projeto que regulariza esses trabalhadores”, observou Gilmar Brunetto.

O sindicalista revelou ainda que o Sindicato e os trabalhadores souberam da decisão de 2001, que determinou as demissões, somente em 2019 após questionamento à própria Empaer. Brunetto também indaga os motivos dos trabalhadores não serem chamados para efetuar suas respectivas defesas no processo administrativo, do Poder Executivo de Mato Grosso, que determinou os desligamentos.

De acordo com o representante do Sinterp-MT, um termo de ajustamento de conduta (TAC), com a participação do Ministério Público do Estado (MPMT), chegou a ser discutido para manter os postos de trabalho. A proposta, no entanto, não foi aceita pela Procuradoria-Geral do Estado.

Gilmar Brunetto lembra também que a Empaer é uma empresa que dá “lucro social”. “A empresa tem lucro social, lucro indireto. Não dá lucro igual uma mineradora e uma metalúrgica”, assinalou.

Segundo o site da Empaer, a organização tem a missão de “gerar conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável do meio rural, com prioridade à agricultura familiar”.  Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), no Brasil, apontam que 75% dos alimentos consumidos pelos brasileiros tem origem em pequenas propriedades rurais.

AÇÃO NA JUSTIÇA

Gilmar Brunetto também revelou que o sindicato ingressou com uma ação no Poder Judiciário de Mato Grosso contra as demissões, no último dia 21 de junho. O processo tem como objeto a “primeira leva” de trabalhadores que deixaram o órgão, de 31 pessoas.

Na ação, o Sinterp alega que o Empaer havia informado por meio de uma comunicação interna (CI) a demissão de todos os empregados públicos admitidos após a Constituição de 1988 – onde os 31 trabalhadores estão inclusos. Com base no documento, a PGE teria recomendado o desligamento imediato dos profissionais.

O Sindicato, no entanto, aponta que a referida CI, que comunicou a demissão, é baseada numa decisão judicial que determinou a regularização da “condição funcional materializada por toda a relação de empregados admitidos em ocasião posterior a promulgação da Constituição Federal de 1988”, ou seja, sem determinar objetivamente a realização de concurso público ou mesmo a própria demissão dos trabalhadores.

O Sindicato pede a reintegração dos servidores que constam na CI, sob pena de multa de R$ 150 mil.

 

LISTA DOS DEMITIDOS NESTA QUARTA  

FRANCISCO SERGIO GOMES – Vigia

CARMENCITA MARIA STEFANELLO TABAREL - Extensionista Rural I

JACANAN LOPES DIAS DE SOUZA - Agente de Serviço

NEUCIR LUIS PARAVISI - Extensionista Rural III

JOAQUIM SANTIAGO SOBRINHO - Extensionista Rural I

HELIO GASPAR KUOOS KIST - Engenheiro Agrônomo

ARMANDO CARLOS DA SILVA PASSINI - Extensionista Rural I

SEBASTIAO SANTANA - Operário Rural

GENI MARIETA MATTE - Extensionista Rural I

MARCELO SALES PEDROSO - Operador de Máquinas e Equipamentos Industriais

CARLOS ALBERICO RODRIGUES DE LIMA - Extensionista Rural I

SEBASTIAO LIMA SOARES - Extensionista Rural III

ESMERALDO DE ALMEIDA - Extensionista Rural III

JOSE DOS REIS - Extensionista Rural III

MARIA DE FATIMA FLOR - Extensionista Rural III

EVALDO STEIGENBERGER - Extensionista Rural III

CARLOS ALBERTO QUINTINO - Extensionista Rural III

DEUSIMAR MUNIZ LIMA - Extensionista Rural I

SERGIO MAZETO - Extensionista Rural III

AUGUSTA MARIA DE FIGUEIREDO PEREIRA – Recepcionista

ANTONIO JOAO CARDOSO MURTINHO - Extensionista Rural III

MANOEL ALCIDES PAULA DE ALMEIDA - Extensionista Rural III

MARIA APARECIDA DA SILVA - Auxiliar de Escritório

CAMILO SAVIO TAVARES LOPES - Extensionista Rural III

ELLEN SILVA DA COSTA – Recepcionista

JURELINO MONTEIRO CALDAS - Extensionista Rural III

AUREA SOARES LEITE DE FARIAS - Auxiliar de Escritório

LUCIMARA LENHARO LONGO - Extensionista Rural III

MALVINEIDE DE MIRANDA FREITAS - Extensionista Rural III

VALMIR RIBEIRO DE FRANCA - Extensionista Rural III

 

Comentários (6)

  • fui |  24/06/2021 14:02:59

    E ainda tem gente parabenizando a justiça, fala sério, eu sou concursada mas não concordo com isso, a maioria ali são trabalhadores simples e embora tenham feito processo seletivo apenas, mas estão trabalhando estão produzindo, merecem seu salario e merecem se aposentar, agora perto de se aposentar são jogados no olho da rua, sério que concordam com isso?Porque a justiça demorou tanto para agir, e agora vai condenar idosos a pobreza.

  • Coveiro |  24/06/2021 10:10:35

    Uma das maiores aposentadorias do Estado senão me engano entrou pela porta dos fundos e depois efetivou devido favores politicos. Realmente a modinha pegou.

  • jose |  24/06/2021 10:10:12

    Realmente pode ser uma tristeza perder o emprego, o que é aceitável. Porém, essa briga jurídica já se arrasta a anos, e o desfecho era previsível. Vida que segue amigos.

  • servidor concursado |  24/06/2021 08:08:42

    Parabéns ao Ministério Publico e ao judiciário pelo cumprimento da lei. Entretanto, não são apenas dois ou três que estão irregularmente efetivados. Se o Ministério Publico quiser realmente moralizar e cumprir a lei peça aos órgãos publicos que envie a relação dos servidores concursados e dos estabilizados e vejam quantos estabilizados estão dentro das carreiras como se tivesse feito concurso e tendo todos os direitos dos concursados. Antes tarde do que nunca eu ainda espero ver a lei ser cumprida para todos. Porque eu tivesse que estudar e muito para ser aprovado no concurso publico e não justo que aqueles que entraram com bilhetinho terem os mesmos direitos que eu conquistei via concurso publico.

  • Antonio Luis |  24/06/2021 08:08:25

    Quer trabalhar sem concurso? é isso mesmo? já pensou se a moda pega?? na própria PGE tem gente lá sem concurso tem 12, 14 anos. Só ir lá que vc encontra uma meia dúzia lá rindo e tomando café.

  • pedalada |  24/06/2021 07:07:50

    Entraram por processo seletivo, tranquilo, mas permanecer como efetivado é sacanagem, quantos concursos já tiveram durante esse tempo, porque não fizeram?

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