O Ministério Público do Estado (MPMT) denunciou quatro policiais militares da Rondas Táticas Móveis (Rotam) acusados das execuções do advogado Renato Nery e Walteir Lima Cabral. Outras duas vítimas também sofreram tentativas de homicídio de um grupo, apontado como um “esquadrão da morte” que se intitula como “Gol Branco”.
A denúncia foi assinada na última quarta-feira (11) pelo promotor de justiça Henrique Pugliesi contra os policiais militares Jorge Rodrigo Martins, Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Leandro Cardoso. Eles chegaram a ser presos preventivamente no início do mês de março de 2025 mas já se encontram em liberdade.
Segundo as investigações, os militares forjaram um confronto para esconder a arma utilizada no crime contra Nery e manipular a cena do segundo homicídio. As inconsistências apontadas indicam que a ação foi planejada para simular uma troca de tiros e atribuir a posse da pistola a supostos criminosos.
Renato Nery foi morto a tiros em 5 de julho de 2024, em frente ao seu escritório em Cuiabá. O crime estaria ligado a uma disputa na justiça por terras avaliadas em mais de R$ 40 milhões.
Os suspeitos de serem os mandantes da execução, Cesar Sechi e Julinere Goulart, estão presos. Os quatro policiais denunciados compunham o chamado "núcleo de obstrução", encarregado de dificultar as investigações.
Caso o Poder Judiciário aceite a denúncia, o “grupo de extermínio” vai responder por homicídio qualificado, tentativa de assassinato, organização criminosa, falsidade ideológica e abuso de autoridade. Seis dias após a morte de Nery, os mesmos agentes mataram Walteir e atiraram contra outras duas vítimas.
Perícias confirmaram que a pistola Glock 9mm, usada nos crimes, pertencia à Polícia Militar de Mato Grosso. Áudios e mensagens extraídos dos celulares dos policiais comprovaram a articulação dos acusados para alinhar depoimentos falsos.
Em um grupo no WhatsApp, os PMs discutiam como evitar contradições nas versões. Um dos integrantes, Wailson Ramos, chegou a "naturalizar" a violência, afirmando que confrontos deveriam terminar em mortes.
Relatórios periciais revelaram que uma foto de Renato Nery foi salva no celular de Wailson um dia após o assassinato. Além disso, pesquisas sobre o caso foram encontradas nos dispositivos.
Os diálogos mostram preocupação com as investigações e tentativas de uniformizar relatos com base no boletim de ocorrência. As conversas revelam ainda um conteúdo macabro.
Num dos diálogos, conforme a denúncia, os PMs falam sobre uma pessoa identificada como “15”, que segundo eles “está demais esse ano”, que ele “não para”, além de que “só pensa em matar, matar, matar”. O MPMT sustenta que os crimes foram cometidos com uso de aparato estatal e que há risco de fuga.
Dois dos denunciados, Leandro Cardoso e Jorge Rodrigo, já respondem a um processo derivado da "Operação Simulacrum", que apurava ações de um grupo de extermínio também formado por militares. A decisão sobre a prisão preventiva será analisada pela 7ª Vara Criminal de Cuiabá.