Residindo há 4 anos em Chapada dos Guimarães, Mariana Castilho veio para o Brasil para fazer mestrado e mudou-se com apenas o filho, que na época tinha 6 anos. Sem falar português e nunca ter visitado o país, a venezuelana demorou um pouco mais de um mês para chegar até o município mato-grossense.
O trajeto tinha como ponto de partida San Juan de Los Morres, cidade em que Castilho residia há 15 anos. A família teve que atravessar a fronteira para a Colômbia, uma vez que a embaixada estava fechada. Após conseguir o visto, teve que pegar um voo para o Panamá, por não ter voos diretos para o Brasil.
Castilho é formada em pedagogia e em 2020 passou para um mestrado na Universidade Federal da Bahia. Pelas aulas serem ministradas online, por causa da pandemia, a venezuelana optou por morar para Chapada. A escolha foi por ter uma maior facilidade, uma vez que o pai de seu filho já havia se mudado, em 2008, para fazer mestrado em Geografia na Universidade Federal de Mato Grosso.
No princípio, a professora relata que foi complexo apreender um idioma novo enquanto tinha aulas na faculdade. Mas com o tempo, ela aponta que foi se adaptando e se sentiu acolhida pelos vizinhos que a incentivaram e ajudaram com o português.
"Eu cheguei só com uma mala e uma criança, e pessoas maravilhosas que consegui nos apoiar no começo. Eu tinha vizinhos que compartilhávamos quintal, eles sentavam comigo para explicar detalhes e corrigir meu português. Fazíamos comidas juntos para eu tentar praticar e entender o português. Em casa falávamos espanhol, agora se fala ‘portunhol’, relembra a estrangeira.
Além das aulas, a venezuelana também passou a vender comidas típicas, como Arepas, um pão a base de milho, para ter mais contato com nativos e ajudar no começo difícil. Apesar dos entraves, Castilho relata que se apaixonou pele municípios e após a conclusão do mestrado, concluiu um curso de turismo.
A paixão pela paisagem vêm desde quando estava Venezuela, quando além de ser professora universitária, tinha de fazer guias turísticos, por conta da crise, aos finais de semana. No país vizinho, ela guiava principalmente em sua cidade natal, em Maracay, que fica na região costeira.
“É Maravilhosa a diversidade que tem no Brasil, tanto de biomas e culturas. Um mini continente. Muito rico, eu chegueia a Chapada e me apaixonei pela natureza, por Mato Grosso”, comenta.
Sobre as diferenças culturais, a venezuelana comenta que no Brasil ela sente certos movimentos sociais, e que para ela, julga que nesse sentido a seu país nativo ainda está se organizando. “Eu sinto que aqui existe ainda essa liberdade de expressar-se de qualquer jeito, e existe um respeito com os outros, em que cada um tem a possibilidade de expressar tanto com seu corpo, com sua arte, com seu jeito. Aqui o brasileiro quando não gosta de alguma coisa, ele realmente luta para conseguir e faz sua voz valer. Em Venezuela, isto é algo que ainda está em desenvolvimento, através de todo um processo político, e que há essa necessidade, essa luta”, argumenta.
Em contrapartida, a estrangeira relata que a sociedade venezuelana possui uma cultura em que as mulheres mais respeitadas. “Eu sinto que a Venezuela é um país muito matriarcal, a onde a mulher leva a voz, aqui sinto que a voz da mulher é um poucochinho mais diminuído, apesar de muitos movimentos e muita luta nesse sentido”, finaliza a professora.