Detalhes da denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual (MPE) e já recebida pela Justiça contra 25 réus que foram alvos da Operação Renegados, mostram que o delator do esquema, o policial civil aposentado, Hairton Borges Júnior, o Borjão, quase foi morto como forma de “queima de arquivo”, pois outros integrantes da organização criminosa estariam fazendo uma cota para contratar um pistoleiro para matar o delator. Imagens de encontros realizados por eles para discutir detalhes do plano e também áudios gravados de uma conversa fazem parte da denúncia.
Conforme o MPE e o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), a organização criminosa era composta por policiais e ex-policiais civis e militares que atuavam em diversos tipos de extorsão. Os réus são acusados de terem praticado crimes de concussão (receber ou exigir propina em razão do cargo que ocupa), roubo com uso de arma de fogo e violência, mantendo as vítimas sob seu poder, e tráfico de drogas.
A Operação Renegados foi deflagrada no dia 5 de maio deste ano em Mato Grosso para cumprir 22 mandados de prisão e outros 22 de busca e apreensão expedidos pela 7ª Vara Criminal de Cuiabá contra integrantes da uma quadrilha. Dos 22 alvos, 15 tiveram ordem de prisão cumprida pelo Gaeco no dia da operação. No dia 31 de maio, a juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Ana Cristina Silva Mendes, aceitou uma denúncia do MPE e transformou todos em réus.
A informação sobre as tratativas para contratar um pistoleiro foi levada ao Gaeco pelo próprio delator. Ele gravou uma conversa que teve com o réu Delisflavio Cardoso Bezerra da Silva e depois entregou o arquivo aos membros do Gaeco. Na denúncia, obtida pelo site RD News, o Ministério Público revela que os participantes da organização criminosa montaram um “escritório do crime” para praticar extorsão contra outras investigadas por outros delitos e também para embaraçar as investigações contra eles.
Conforme já divulgado por FOLHAMAX, membros da quadrilha usavam até rastreamento veicular para abordar traficantes e roubar drogas deles para depois extorquir esses criminosos exigindo dinheiro para devolver o entorpecente. O bando também extorquia homens mais velhos que saiam com menores de idade para manter relações sexuais e contava com a participação de servidores públicos com acesso a dados do Instituto de Identificação. Esses detalhes foram revelados por outro integrante da quadrilha, o ex-servidor Domingos Sávio Alberto de Sant’ana, de 60 anos.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, o réu Delisflásio Bezerra era um informante do grupo criminoso. No dia 21 de abril deste ano, ele procurou o delator Hairton Borges e contou sobre os planos de outros integrantes do grupo para juntar dinheiro e pagar um pistoleiro para matar o delator. Segundo ele, essa medida seria adotada porque havia a suspeita de que Borjão estava delatando o grupo. Por sua vez, Borges gravou a conversa.
Conforme Delisfásio, o policial civil Edilson Antônio da Silva, apontado como líder da quadrilha, se reuniu no dia 11 de fevereiro deste ano com o investigador Paulo da Silva Brito e o policial aposentado Evanir Silva Costa para discutir detalhes da cota destinada a pagar um pistoleiro. O encontro foi realizado na conveniência do Posto Santa Elisa, em Cuiabá, e durou 50 minutos, conforme apontam imagens de câmera segurança do local. Essas imagens também foram anexadas à peça acusatória.
Outro delator do esquema, Daniel de Paula Melo, confirmou ao Gaeco e entregou gravações de conversas que manteve com outros membros da quadrilha, reforçando a tese de que eles sabiam do acordo de delação premiada de Borjão e de Daniel.
O PROCESSO
Segundo a denúncia do MPE, as investigações tiveram início após um flagrante realizado contra Hairton Borges Júnior e um dos réus – o investigador aposentado da PJC, Evanir Silva Costa. Eles tentaram extorquir R$ 20 mil de um homem suspeito de tráfico de drogas que, por sua vez, denunciou que 6 policiais da PJC entraram indevidamente em sua residência, no bairro Altos da Glória, em Cuiabá.
Posteriormente ao inquérito policial que apurou a extorsão, Hairton Borges firmou acordo de colaboração premiada e confirmou detalhes sobre a existência da organização criminosa. A delação de outras duas pessoas, o policial militar Ananias Santana da Silva e o policial civil Daniel de Paula Melo, também teria contribuído com as investigações.