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Cidades Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025, 18h:10 | Atualizado:

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“Roda de Vivências” encerra Curso de Letramento Racial e Antirracismo

 

Da Redação

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O senso de comunidade e o compartilhamento de experiências conduziram a última atividade do Curso de Letramento Racial e Antirracismo, do Poder Judiciário de Mato Grosso (PJMT), nessa sexta-feira (13 de junho). A “Roda de Vivências” promoveu um debate de acesso aos direitos e conquistas, ao reunir vozes negras, ciganas, indígenas e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT). O evento foi realizado pelo Comitê de Promoção da Equidade Racial do PJMT e mobilizou servidores, magistrados e sociedade civil nos ambientes virtual e presencial, no auditório Desembargador Gervásio Leite, na sede do Tribunal de Justiça, em Cuiabá.

Indígenas

Conduzida pela historiadora, professora e doutora em sociologia Silviane Ramos, a roda de vivências permitiu que diferentes vozes compartilhassem parte de suas trajetórias. A anciã da roda, Francisca Navantino (Chiquinha), representante indígena do povo Paresi e doutora em Antropologia Social, deu início às falas ao contar sobre sua luta pela demarcação de terras, educação indígena e a aplicação tardia de leis constitucionais.

“Depois da Constituição, achei que os governos aplicariam o que estava ali. Me decepcionei. Foi só agora que começaram a discutir e implementar aquilo que já estava assegurado há décadas. Tivemos que passar por muito sofrimento para sermos ouvidos. Se não fosse a demarcação, estaríamos quase desaparecidos”, destacou a educadora, que também integra o Conselho Estadual de Educação.

O reconhecimento constitucional de que os povos indígenas são parte essencial do Brasil, com identidade, cultura e direitos próprios, foi lembrado por Francisca Navantino. Ela reforçou a necessidade de políticas públicas específicas. “Nossa luta é por políticas públicas diferenciadas, por uma educação e saúde baseadas na cultura. Estamos no processo de descolonização: antes queriam que esquecêssemos a cultura, agora estamos voltando a ela. A educação indígena nasce da ancestralidade. A saúde também. O desenvolvimento econômico deve partir da cultura. Sem isso, não há identidade”, asseverou a educadora.

Ciganos

Na busca por reconhecimento, também estão as três etnias ciganas presentes no Brasil (Rom, Calon e Sinti). Sobre elas e as demandas da sua comunidade, a liderança cigana, Marcos Gattass, falou da invisibilidade dos grupos. “Nos sentimos pesquisados e desvalorizados ao mesmo tempo”. Gattas também destacou a importância de espaços de discussões e aprendizado, como o Curso de Letramento Racial e Antirracismo. “Está sendo de grande importância para mim. É um grande aprendizado. É importante que conheça quem somos nós, ciganos”.

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Negros

Na ocasião, o presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir), Manoel Silva, lembrou-se dos desafios da população negra e da falta de perspectivas. “Muitos não conseguem entrar numa faculdade. Trabalham como operadores de caixa, frentistas. Não porque sejam profissões ruins, mas porque as oportunidades não chegaram. A menina de 13 a 15 anos precisa cuidar do irmão porque a mãe vai trabalhar. O menino precisa trabalhar cedo para sustentar a família. Essa é a realidade da maioria da população do Brasil, que é negra”.

Durante sua fala, Manoel se apresentou como uma exceção do sistema, por concluir o ensino superior. “Sou uma exceção estatística. Tive uma tia freira e estudei no colégio particular como bolsista. Uma educação que trabalhava com valores e diversidade. Aprendi sobre religiões de matriz africana, povos indígenas, outros saberes que me acrescentaram. Sou o primeiro dos três filhos homens da minha família a concluir o ensino superior. Tenho graduação em jornalismo, letras e duas pós-graduações. Sigo sonhando com o mestrado e o doutorado”, disse Manoel.

A Roda de Vivência foi encerrada pela presidente da Comissão de Defesa da Igualdade Racial da OAB-MT, Roberta de Arruda Chica, que destacou o papel da OAB na construção de espaços para transformação social.

“O artigo 3º da Constituição já aponta o caminho da igualdade, do tratamento isonômico. Mas o que o Tribunal de Justiça fez aqui foi mais profundo: trouxe o letramento pela equidade. É isso que precisamos buscar. Minha mãe sempre me ensinou que, por tudo o que percorri, tenho a obrigação de retribuir. Por isso, encaro esses momentos como aprendizado. A cada fala, levo algo para mim”, reforçou a advogada.

Durante a mediação da conversa, Silviane Ramos produziu um poema de encerramento. “Sou gente de utopias. Ainda acredito nos sonhos. Sonho com um prato chamado equidade. Todos os dias, luto com fome e fé por cada pedaço”, começou. Ela destacou a importância do encontro como espaço de resistência e partilha. “Essa roda linda, potente e presente, giramos juntos, resistindo e existindo. Que venham mais encontros, mais mesas partilhadas, mais momentos de bem-viver, onde o cuidado é semente e a Justiça, alimento”.

A fala-poema deu destaque para o tema central do evento, o letramento racial. “É farol que acende a memória e desfaz o silêncio imposto pela história. É abrir os olhos, escutar o coração, reconhecer o racismo na estrutura e também na ação. Educar para não repetir. Formar para transformar”, concluiu Silviane.





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