No mês de junho, as lavouras de milho ganham um novo significado. Mais do que um momento de colheita, a época se transforma em celebração do trabalho no campo e da união familiar em torno de receitas transmitidas de geração em geração. Pamonha, curau, canjica, bolo, pipoca, polenta e muitas outras receitas, o milho é o verdadeiro protagonista da gastronomia.
Palavra de origem indígena caribenha, milho significa sustento da vida. Desde os tempos mais antigos, o grão alimenta gerações e cada espiga carrega os resultados de muito trabalho. Originário da América Central, começou a ser cultivado há cerca de 10 mil anos pelos maias e astecas, que o consideravam sagrado. Levado à Europa no século XV, o milho se adaptou a diferentes climas e passou por melhorias genéticas que geraram diferentes variedades. No cenário nacional, o protagonismo do milho também é realidade no campo. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Mato Grosso é o maior produtor de milho do Brasil, responsável por quase um terço de toda a produção. Com o passar dos anos, ele tornou-se elemento essencial de festas, como as juninas, de tradição e de partilha.
Realizadas simultaneamente ao período de colheita em Mato Grosso, as festas juninas fortalecem laços de comunidade. O milho que, segundo relatório do Ministério da Agricultura (Mapa), é o segundo grão mais cultivado no país e do qual o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, ganha destaque tanto nos pratos quanto na decoração dessas celebrações. Embora muitos associem a festa junina à homenagem aos santos católicos, há quem diga que sua origem remonta à Europa pré-cristã, quando o solstício de verão no hemisfério norte era celebrado com rituais ligados à colheita e à proteção das plantações.
Na família do delegado do núcleo Vale do Teles Pires, da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), Willian Piloni, esta celebração é uma tradição que veio do avô, da época em que moravam no Paraná, e que agora, em Alta Floresta, ele continua. “O começo da minha história com o milho foi através da pipoca e do milho cozido nas festas juninas. Eu nasci em Curitiba e faz 23 anos que eu estou em Mato Grosso, e sempre quando podemos, fazemos uma festa junina para poder estar comemorando”, afirma.
Entre as receitas que guarda na memória, Willian leva consigo o afeto depositado pela mãe no bolo de milho e ao reunir a família para a produção de pamonha. “O bolo de milho feito pela minha mãe é sensacional, então com certeza é a receita mais especial, e em segundo lugar, a pamonha, em que todo ano, quando estamos colhendo, já é tradição juntar todos na roça para tirar o milho. A pamonha reúne todos os amigos e a vizinhança, que vão atrás de fazer a pamonha, é um negócio bem comunitário mesmo”, acrescenta Piloni.
Conforme o vice-presidente Leste da Aprosoja Mato Grosso, Lauri Jantsch, o milho é uma cultura que não somente agrega valor a propriedade, como também à família. “Quando o milho pendoa e solta a espiga, logo ele dá milho verde. Então, todo mundo fica esperando que o milho esteja verde para fazer a pamonha ou, a gente tem mais costume lá em casa de comer o milho cozido. E o dia que a gente vai fazer a pamonha, é dia de festa, muito legal, que é encontro de amigos. Não é só o caso de fazer a pamonha, mas sim encontrar os amigos. O milho é mais uma cultura que agrega na família, agrega na propriedade e a gente nota a importância da cultura, e o quanto ela vem crescendo”, ressalta.
Hoje, o milho carrega o sentimento de comunidade e tem funcionado como uma espécie de elo entre o passado, o presente e o futuro. Assim, o milho desempenha um importante papel não apenas na agricultura, mas na cultura brasileira, como símbolo de união, partilha, sabor e prosperidade.
Segundo o associado do núcleo de Diamantino, Mário Antunes Basílio, sua relação com o milho é antiga e vem de Santa Catarina, onde nasceu, até Mato Grosso, onde está há 40 anos. “Eu nasci já na fazenda, meu pai produzia. O milho é um produto básico, tanto para a alimentação animal, como humana. O milho verde é tradição, você assar no fogo, cozinhar, é uma das coisas mais tradicionais. Na época do milho verde, ninguém reclama. Todo mundo vai na lavoura e sai satisfeito com o milho. Então isso é uma alegria para nós, o milho realmente está na memória de todos os brasileiros e faz parte hoje da nossa cultura”, frisa.
Vindo de família italiana, o agricultor destaca a combinação que mais ama. “A polenta, a polenta frita com queijo no café da manhã é fantástica. O milho verde é motivo de você reunir a família, o panelão e todo mundo participa, as crianças, os filhos, os netos. É maravilhoso”, conta.
Seu filho, o produtor André Zortéa Antunes, faz parte da terceira geração da família que vive da agricultura. “Cada início de safra, de safrinha, é uma lágrima que sai nos olhos, de todas as lembranças, da própria polenta de família. A gente vê o milho como uma esperança, um alimento essencial não só para nós, mas para os animais também. Vamos iniciar a colheita do milho com o agradecimento a Deus por nos dar essa oportunidade e, principalmente, por ter criado essa cultura tão boa”, enfatiza André.
Ao unir tradição, sabor e produtividade, o milho reafirma seu papel na agricultura, na alimentação e na cultura brasileira. Da lavoura à mesa, ele conecta gerações, histórias e saberes. A Aprosoja Mato Grosso está comprometida em apoiar o fortalecimento da cadeia produtiva do milho, promover o desenvolvimento sustentável e valorizar as tradições que o tornam essencial. Em cada grão, em cada espiga, está presente o esforço de milhares de produtores rurais que com dedicação e inovação contribuem para o desenvolvimento do país.