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ABANDONO

Marco da religiosidade cuiabana, igreja segue sem restauro

 

MARIANA DA SILVA
Gazeta Digital

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Próximo ao aniversário de 305 anos de Cuiabá, um dos mais importantes símbolos da religiosidade na Capital, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, está fechada desde 2022 e segue sem previsão de abertura aos fiéis. Naquele ano, o tempo foi interditado pela Defesa Civil por conta dos danos e problemas na estrutura que ameaçavam a construção histórica.

No dia 20 de março deste ano, por meio do perfil no Instagram da Paróquia Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, o responsável pela paróquia, padre Pedro Canísio, publicou uma nota esclarecendo sobre o processo da restauração. Na postagem, o religioso informou que a paróquia não tem recursos próprios para contratar profissionais técnicos para agilizar os procedimentos de elaboração de projeto.

Ele relembrou que em 26 de abril de 2023 participou de reunião juntamente com membros da comissão da Festa de São Benedito 2023 e o governador Mauro Mendes, onde apresentaram proposta com orçamento do profissional para a elaboração do Projeto Arquitetônico de Restauro da igreja.

É dito que o governador entrou em contato via telefone e comunicou ao secretário de Cultura do Estado de Mato Grosso sobre a decisão de destinar à paróquia o valor necessário para contratar e pagar honorários de prestação dos serviços do arquiteto. Foi acordado com o secretário para agilizar com a Mitra Arquidiocesana Paróquia do Rosário e São Benedito orientações para montar processo e assim requerer o valor. Da mesma reunião participou também o secretário-Chefe da Casa Civil, que se prontificou a empenhar-se para que a liberação dos recursos acontecesse no menor prazo possível.

Em 25 de julho do mesmo ano foi protocolado o requerimento junto a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT). Já em setembro, o arquiteto protocolou o projeto arquitetônico para apreciação e análise ao IPHAN, que em dezembro deu parecer favorável, dando 6 meses para apresentação do projeto executivo. Contudo, a entrega do projeto pelo arquiteto para a paróquia depende do pagamento das parcelas dos serviços prestados nesta etapa.

No final de outubro, tomaram conhecimento, através de acesso ao SIGCon, de que o projeto tinha sido arquivado, sem breve comunicação com o Departamento Jurídico da Mitra, responsável para acompanhar o processo. A justificativa foi a insuficiência de recursos para atender ao requerimento da Mitra.

Em 2024, no mês de janeiro, informaram que não foi autorizada liberação da verba, pois era necessário aguardar para incluir o valor no orçamento de 2024, sendo necessária atualização dos dados e inserção no SIGCon, gerando novo protocolo, que aconteceu em 08 de março de 2024. 

O pároco reforça que têm sido cobrado sobre recursos repassados para a paróquia e o que estaria fazendo com estes, mas esclarece que até o momento, não receberam recurso algum.

Interdição, danos estruturais e risco aos fiéis

Ao  o padre Pedro Canisio disse que a igreja está interditada pela Defesa Civil desde meados de maio de 2022, tanto para celebração de missas quanto visitas. 

No local, a reportam constatou que a estrutura apresenta infiltrações, rachaduras nas paredes, danos no piso, telhado, no sistema de ar condicionado, comprometimento das madeiras causado por cupins e da umidade do solo, entre outros problemas estruturais. Danos estes que ofereciam risco aos devotos e frequentadores desde aquela época e vêm se agravando devido à demora para as obras. Além disso, carece de alvará do Corpo de Bombeiros e da Prefeitura, bem como implantação de sistemas de prevenção contra incêndios, saídas de emergência e para raios.

Desde então as missas têm sido realizadas de forma provisória no salão paroquial. Para o padre, embora haja um espaço para realizar as missas e celebrações, ainda não é o ideal, pois a igreja é a casa de Deus de forma definitiva. Segundo o pároco, por não ter recursos próprios suficientes para a obra, algo que foi atestado nas finanças da paróquia, é necessário que o governo faça o investimento para recuperar o patrimônio.

“Foi exigida a comprovação da incapacidade financeira da paróquia para essa recuperação. Fizemos um levantamento financeiro dos últimos anos e comprovamos essa incapacidade, e com isso estamos hoje no compartilhamento de responsabilidade com o governo do Estado para arrumar recursos e manter a igreja”, disse.

A última grande reforma ocorreu de 2004 a 2006, inclusive com reforço na estrutura da igreja com pilares de concreto para a sustentação. No entanto, a situação ainda é precária, não sendo possível receber fiéis e visitantes no local.

Para uma nova reforma, a estimativa total de orçamento é de R$ 6 milhões, incluindo toda a obra, sendo necessários R$ 150 mil iniciais para pagar o projeto arquitetônico antes do início de qualquer movimentação na obra. Até o momento o arquiteto não recebeu, pois o repasse ainda não foi feito à paróquia. O projeto executivo só será feito mediante pagamento.

O pároco pede com urgência que ocorra a liberação do valor para pagar o arquiteto para que o andamento ocorra, já que está tudo parado no momento. “Precisamos no menor prazo possível essa liberação pela Secel, é urgentíssimo necessário para continuar o projeto, depois apresentar o projeto executivo ao Iphan e aguardar o tempo de análise para eles aprovarem ou não. Se eles aprovarem na apresentação, conseguiremos avançar nessa etapa prévia e partir para o restauro”, reforça.

Para o padre Pedro, o sentimento é de tristeza de ver o local fechado, algo que é compartilhado com os fiéis e devotos. “Estamos sem nossa casa principal. São Benedito, o padroeiro e Nossa Senhora do Rosário estão com a casa totalmente danificada. Está demorando para recuperar esse patrimônio e receber os fiéis com espaço digno para realizar nossa assistência religiosa e espiritual. O espaço em que estamos agora não é ruim, mas não é nossa casa, onde crescemos desde pequenos, os fiéis falam a todo momento e nos questionam sobre a obra. É muito triste”, lamenta.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) informou que o andamento do processo para viabilizar o projeto arquitetônico da Igreja do Rosário e São Benedito depende da correção e atualização de pendências documentais. As informações já foram passadas à Mitra Arquidiocesana de Cuiabá.

História do local

Construída no pé da colina por volta da década de 1730, mas com registros anteriores de 1720, às margens do córrego da Prainha, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito é um dos marcos fundadores de Cuiabá próximo ao local onde Miguel Sutil descobriu as minas de ouro que alavancaram a colonização da região.

De fachada branca e simples dos tempos coloniais, seu interior guarda altares, decoração e adornos no estilo barroco-rococó, com rica talha dourada.

Tombada em 1975 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1987 pela Fundação Cultural de Mato Grosso e incluída no perímetro tombado do Centro Histórico de Cuiabá em 1993, é palco da Festa de São Benedito, a mais longa festa religiosa do estado. Por fim, a igreja e seu entorno foram incluídos no tombamento do Centro Histórico de Cuiabá, tombado em 24 de março de 1993.





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