Uma série documental produzida em Cuiabá traz a história de 10 mulheres, que transformam a realidade em torno de si e que podem ensinar algo para todas as outras. Mulheres de (Re) Existência, é o projeto que tem a premissa de contar, em forma de poesia, imagem e som, a história dessas mulheres.
Idealizada por Dani Paula e com produção musical da artista cuiabana Estela Ceregatti, cada um dos 10 episódios terá foco em uma personagem, entre anônimas e conhecidas. Os vídeos, de 9 minutos cada, serão transmitidos gratuitamente no Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros, em 02 de abril.
Ao GD, Dani Paula contou todo o seu processo criativo, produção e propósito do projeto em contar cada uma das 10 histórias.
Gazeta Digital: Como você teve a ideia de criação do Mulheres de (Re)Existência?
Dani Paula: Eu sou escritora. Antes disso eu já tinha homenageado, em memória, 10 artistas brasileiros no salão Jovem Arte, já tenho livros publicados e tenho esse trabalho de escrita já há algum tempo.
A série começou quando eu era superintendente da Assembleia Social e a gente precisava, durante a pandemia, homenagear mulheres e nós nos perguntávamos "como é que a gente faz isso se a gente trabalha só com o mutirão social?". Foi a partir disso que tive a ideia de ouvir mulheres e contar a história delas.
A gente conseguiu ouvir à distância as mulheres e a Karen, que é uma fotógrafa, fez um ensaio fotográfico delas enquanto o Marquete pegou as imagens com a minha voz e meu texto e fez, de forma artesanal, a nossa primeira edição.A segunda edição já saiu maior, melhor e mais elaborada. Agora essa terceira edição está ainda mais bonita. A gente quer, além de fazer uma homenagem, trazer histórias onde a gente se sinta representada nessas mulheres.
Gazeta Digital: Como foi realizada a produção e até que ponto você atuou na construção da série?
Dani Paula: Mulheres de (Re) Existência é um projeto meu. Às vezes a pessoa fala rapidinho e sai um "resistência", mas eu quero ir para além do sentido de resistir, para o sentido de re-existir, de existir novamente e de dizer que mais uma vez estamos aqui.
Esse projeto foi desenhado por mim. A concepção é minha e a parte de realizar uma escuta afetiva também. Meu mestrado é em resolução de conflitos e mediação na área de psicanálise, então eu escuto essas mulheres de forma afetiva e depois eu monto um texto poético onde eu vou contar a biografia dessas mulheres.
Gazeta Digital: Quais foram os critérios para escolha de cada uma das mulheres que aparecem na história?
Dani Paula: Foi difícil. Eu quero contar a história de todo mundo, então é muito difícil para mim escolher só 10. Eu quero mesmo é ouvir, meu Deus, eu quero contar isso e escrever uma poesia disso. Ali tem mulheres que eu já conhecia e mulheres que tive o primeiro contato.
O único critério de escolha foi querer contar a história dessas mulheres. É claro, também, que eu perpassei, fizemos um fio condutor que nos fizesse algo em que todo mundo se sentisse representado.
Eu quis que todas essas narrativas dialogassem com a gente, com todas nós mulheres.
A ideia é a gente dar voz, colocar mulheres no pódio, mostrar a relevância e a importância de mulheres num estado onde se mata muito mulheres, onde é muito difícil para a gente existir.
Gazeta Digital: O que você sentiu ao produzir e contar essas histórias? Como foi seu processo criativo?
Dani Paula: Eu me emocionei muito, eu me emociono muito. A conversa com as mulheres não tinha tempo para terminar. Então, essa entrega de uma para outra, foi muito importante e muito simbólica para mim. Eu aprendi com essas 10 mulheres coisas para levar para o dia a dia, até as crises existenciais. Todas elas me ensinaram alguma coisa.
Depois de ouvir cada uma delas, eu peguei delicadezas, sutilezas, coisas que nem sempre formavam uma ordem cronológica. Eu falo dos passos de cada uma delas, da maneira que se vestem, eu tento descrever o perfume que eu senti. Esse processo criativo passou muito pela linguagem poética e por uma capacidade de presença daquela escuta.
Então, existe aí também um reconhecimento de algo que talvez nem elas percebessem que fazem. Eu não vou falar somente das mulheres, eu vou entregar um olhar novo sobre elas, que é o olhar da poesia. E assim, no mundo tão brutal, a gente tem que falar da linguagem poética como se fosse uma flor desabrochada no asfalto.
Cada um tem seus processos criativos. O meu é, depois que escrevi o texto, eu não mexo mais. Acho que eu confio tanto na poesia, na escrita, na palavra, que quando ela nasceu de mim, ela é melhor do que eu mesma.
Gazeta Digital: Qual foi a maior dificuldade encontrada no seu caminho desde a concepção até finalização da temporada?
Dani Paula: O senso de responsabilidade. Eu escutei uma história confiada a mim e que tinha que transformar aquilo em algo delicado e que contasse algo. Então, acho que é um senso de responsabilidade mesmo, de honrar a história dessas mulheres. O mais difícil para mim mesmo foi olhar e pensar "está aqui e é isso que eu consegui tirar dessa experiência".
Gazeta Digital: Como foi o processo de financiamento do projeto?
Dani Paula: Ele é fruto de uma emenda impositiva do deputado Paulo Araújo para o Instituto Brasil. Então eu sou uma contratada do Instituto Brasil para escrever os textos da concepção do trabalho para poder fazer o projeto. A abertura da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) também é importantíssima. Tanto a emenda impositiva quanto a Secel foram fundamentais. É fundamental fazer essas articulações para poder fazer com que o recurso chegue aos artistas e aos produtores para que a gente consiga fazer trabalhos assim.
Gazeta Digital: Qual a principal mensagem que você quer de passar com a série?
Dani Paula: Todas nós temos uma história para contar e essa história é graciosa, bela, que agracia as pessoas e que abençoa as pessoas.
Todas nós, inclusive a criança, a menina de 5 anos que tá engatinhando na vida, a anciã de 100. Tem sempre alguma coisa preciosa para contar. Acho que o principal desse projeto é a história por si, é algo que toma essa troca, toma essa entrega, toma essa vida que ela vai ter algo para te contar.