Uma nova trend que homenageia caminhoneiros que morreram enquanto trabalhavam viralizou nas redes sociais com a música “Nova York”, de Chrystian & Ralf, duas semanas após a morte do cantor Chrystian. Em Mato Grosso, a tendência tem repercutido, já que mostra acidentes fatais que ocorreram em trajetos conhecidos pela quantidade de tragédias registradas, como a MT-251, que é uma das vias mais perigosas do estado por causa das estradas estreitas e falta de acostamento.
A música ‘Nova York’ bombou nos 90 pela batida envolvente e a letra cativante, mas, agora, voltou a tocar como nostalgia para os entes e familiares das vítimas, que lembram dos trabalhadores com carinho. Na tendência, os filhos, esposas e amigos criam galerias de fotos com os ‘heróis da estrada’, em momentos que estavam felizes, com a família e, principalmente, quando faziam o que mais amavam: viajar o país dirigindo.
Entre os milhares de trabalhadores que foram homenageados no Brasil, estava o caminhoneiro Valdecir Urnhani, de 52 anos, pai da engenheira florestal Ana Claudia Troleis Urnhani, que foi uma das pessoas que entrou na trend. Valdecir morreu enquanto ia buscar a esposa, que voltava do velório da mãe, no aeroporto, em Sinop, a 503 km de Cuiabá.
Ao g1, Ana contou que o pai era um grande amigo para todos que o conheciam e que para onde ia, levava a alegria. Valdecir morreu no dia 18 de setembro de 2022, quatro dias depois da sogra ter morrido por complicações em uma cirurgia para a retirada de um câncer. “Minha avó estava doente no Paraná e minha mãe foi para lá. Quando minha mãe voltou, meu pai saiu de Matupá para buscá-la no aeroporto. No caminho, uma caminhonete fez uma ultrapassagem indevida, e meu pai, para evitar a colisão, saiu da pista e caiu numa vala. Minha mãe ficou horas esperando por ele, mas meu pai nunca chegou”, relembrou.
Ana ainda disse que, por mais que amasse a profissão, ele temia os acidentes e queria aproveitar mais no ano seguinte, para viajar e passar mais tempo com a família. Segundo a engenheira, Valdecir passou por diversas situações desafiadoras, inclusive a pandemia da Covid-19, quando teve 85% do pulmão comprometido.
“Ele falava que tinha que trabalhar bastante para começar a viajar e o acidente foi logo quando ele queria começar as viagens. Meu pai era um amigão, me incentiva muito. As pessoas o adoravam. No ano anterior, ele ficou internado na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e sobreviveu à Covid, mas faleceu um ano depois, no acidente. Infelizmente, ele não teve tempo de curtir as viagens como planejado”, relatou.
A 648 km de Cuiabá, em Terra Nova do Norte, um outro acidente comoveu o estado ao vitimar o pai Alcides Genz, de 64 anos, e o filho Rafael Genz, de 30 anos. O acidente ocorreu no dia 30 de agosto de 2020, bem no ápice da pandemia da Covid-19.
A filha e irmã das vítimas, Diule Genz, contou ao g1 que o pai estava trabalhando, indo a Miritituba (PA) com o caminhão carregado de milho e foi com o filho porque estava em acompanhamento por causa da Covid, já que, no mês anterior, todos os membros da família tinham sido diagnosticados com a doença.
“Meu irmão era formado em administração e foi acompanhar o meu pai no caso de ele ter um mal-estar por causa da doença. Meu pai ainda estava se recuperando. O acidente ocorreu porque um outro caminhoneiro fez uma ultrapassagem forçada. Com isso, meu pai tirou o caminhão para a direita, que foi quando houve o tombamento e eles faleceram”, explicou.
De acordo com Diule, para homenagear os familiares, a filha dela, Bianca Rafaela Genz, de 15 anos, quis participar da trend. Na rede social, o post já ultrapassou 1 milhão de visualizações. “Minha filha era muito novinha na época do acidente, mas, assim como o resto da família, sente muita falta do avô e do irmão. Eles eram a figura que ela tinha de pai. Eles fazem muita falta”, ressaltou.
Por mais que a lembrança do acidente seja dolorosa, Diule disse que lembra do pai e do irmão com muito carinho e amor e se recordou do que conversou com Alcides um dia antes do ocorrido.