A ex-deputada federal e cantora gospel Flordelis leu nove livros na prisão para reduzir a pena pelo assassinato a tiros do então marido, o pastor Anderson do Carmo, na garagem de casa, em Niterói (RJ). Na lista, obtida pela coluna, aparecem desde clássicos nacionais de Machado de Assis e de José de Alencar até obras estrangeiras sobre nazismo e Holocausto.
Resenhas podem diminuir a pena em quatro dias após serem validadas na Justiça. Ao todo, Flordelis eliminou somente 36 dias dos 50 anos e 28 dias aos quais foi condenada como mandante do homicídio triplamente qualificado de Anderson, ocorrido em junho de 2019.
A maioria das obras lidas por Flordelis é do gênero romance, mas livros que abordam o nazismo e o Holocausto também se destacam. As notas da ex-parlamentar variaram de seis a nove em cada resenha.Confira as sinopses dos livros e as notas obtidas por Flordelis em ordem de leitura:
“O Pequeno Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry: narra aventuras de um príncipe que viaja por planetas, encontra diferentes personagens e se depara com lições sobre a vida. Esse clássico da literatura infantil francesa, admirado por adultos, aborda reflexões sobre amor e amizade. Nota da resenha: 7;
“O Diário de Anne Frank” (1947), de Anne Frank: detalha os dias antes e durante o confinamento da família Frank e de outros judeus no Anexo, onde se esconderam em Amsterdã, antes de serem capturados pela Gestapo e levados a um campo de concentração nazista. A história, baseada em fatos reais, retrata o Holocausto sob a ótica de Anne, que era uma adolescente na época. Nota da resenha: 8;
“A Menina que Roubava Livros” (2005), de Marcus Zusak: conta a história de Liesel Meminger, que encontra a Morte (narradora) por três vezes na Alemanha nazista de 1939 a 1943, assim como a amizade dela com o judeu Max. A jovem protagonista surrupia obras, como o próprio título escreve, desde que o irmão dela morreu e o coveiro deixou um livro sobre a neve. Nota da resenha: 8,5;
“A Voz Submersa” (1984), de Salim Miguel: o romance retrata a sociedade brasileira durante a Ditadura Militar (1964-1985) a partir da visão do autor do corpo de Edson Luís Souto, estudante morto nos braços de uma multidão sob protesto que, no fim, o deixou na escadaria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 1968. A narração, que mistura alucinação e realidade, se dá em tom de desabafo a partir de uma ligação telefônica da protagonista. Nota da resenha: 6;
“O Menino de Pijama Listrado” (2006), de John Boyne: num cenário de Segunda Guerra Mundial e de Holocausto, a história apresenta Bruno, filho de 8 anos de um militar alemão e que desconhece o extermínio judeu. Após se mudar com a família, fica intrigado com crianças “de pijama” que vivem atrás de uma cerca. Uma delas é Shmuel, menino da mesma idade com quem constrói uma amizade e vive aventuras. Nota da resenha: 6,5;
“Dom Casmurro” (1899), de Machado de Assis: um dos romances mais famosos do autor, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), o livro conta a história de Bentinho e Capitu desde a infância até a vida adulta. A narração, sob a perspectiva dele, mescla dúvida e ambiguidade em tons subjetivos. Mais de um século depois, a pergunta “Capitu traiu Bentinho?” permanece sem resposta e levanta debate. Nota da resenha: 8;
“A pedra esculpida” (2008), de Guillaume Prévost: primeiro livro de uma trilogia que torna Samuel um herói. O garoto teria uma vida normal se não fossem os sumiços frequentes do pai após a morte da mãe. Quando o jovem decide procurá-lo no aniversário de 14 anos, o mistério se transforma numa aventura que perpassa locais e épocas da História. Nota da resenha: 7,5;
“Senhora” (1875), de José de Alencar: publicado originalmente como folhetim, é um dos expoentes do Indianismo, primeira fase do Romantismo brasileiro, e conta a história de Aurélia, deixada pelo noivo, Fernando, quando era pobre. Ambicioso, o homem aspirava a se casar com uma mulher rica. Só que a protagonista recebe uma volumosa herança do avô, o que muda o rumo da história. Nota da resenha: 9;
“Inocência” (1872), de Alfredo d’Escragnolle Taunay: romance regionalista apelidado de “Romeu e Julieta sertanejo” que apresenta a vida no sertão de Santana do Paranaíba, em Mato Grosso do Sul, na época. A obra foca no triângulo amoroso formado por Inocência, que, prometida em casamento ao negociante de gado Manecão, se apaixona por Cirino, que fingiu ser médico e salvou a jovem de 18 anos após uma doença. Nota da resenha: 7.
De acordo com a Resolução 391/2021 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pessoas privadas de liberdade podem ler até 12 livros a cada 12 meses para diminuir a punição, chegando à remição de 48 dias, no máximo. A leitura precisa ser comprovada mediante a apresentação de uma resenha literária.
Como a coluna revelou, Flordelis também fez cursos de teologia básica, de automaquiagem e de auxiliar de enfermagem, entre outros, na prisão para eliminar 7 meses e 8 dias de pena. A conclusão do ensino fundamental e a aprovação no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), sozinhas, lhe tiraram 5 meses e 27 dias da punição.