Economia Terça-Feira, 20 de Maio de 2025, 23h:45 | Atualizado:

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CRÉDITO FABRICADO

Justiça de MT manda investigar "elo" entre grupo em RJ de R$ 1,8 bi e fundo

Bravano tem R$ 284 milhões a receber do Safras

GABRIEL AZEVEDO
Estadão

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A juíza Giovana Pasqual de Mello, em Sinop (MT), que aprovou o processo de recuperação judicial do Grupo Safras, ordenou investigações paralelas para apurar possíveis irregularidades financeiras e societárias do grupo que tenta reorganizar dívidas de R$ 1,78 bilhão. O principal alvo das investigações será a relação entre o Safras e o Bravano FIDC, seu segundo maior credor, com R$ 284,1 milhões a receber.

A recuperação judicial permite que o grupo continue operando enquanto negocia com seus credores. Porém, paralelamente, a magistrada determinou apurações sobre suspeitas levantadas por credores nos últimos meses. "Essas questões ainda carecem de provas concretas e individualizadas nesta fase processual", escreveu a juíza na decisão, mas determinou que sejam investigadas sem prejudicar o andamento principal do processo. O Ministério Público concordou com essa separação.

O Bravano FIDC é um fundo que compra direitos a receber do Grupo Safras (como duplicatas e contratos) e vende cotas para investidores. Por suas características, os valores devidos a este fundo não entram no processo de recuperação judicial - ou seja, o Safras precisa pagar integralmente, sem descontos. A relação foi classificada pelo perito judicial como "merecedora de investigação aprofundada".

A Carbon Participações, uma das credoras que se opõe à recuperação judicial, acusa o grupo de esconder seu verdadeiro controle. Segundo a empresa, o Safras estaria de fato nas mãos da Flowinvest, gestora que aparece na lista com R$ 98,8 milhões a receber. A credora afirma que o fundo Bravano foi originalmente criado com o nome "Safras Armazéns Gerais Fundo de Investimento" e apenas mudou sua denominação em abril de 2024.

Na contestação, a Carbon apresentou relatórios financeiros mostrando que a Safras recomprava antecipadamente seus próprios títulos do fundo, com operações de R$ 84,3 milhões em novembro e R$ 61,8 milhões em dezembro de 2024. O fundo chegou a render 387,84% do CDI em outubro passado, taxa considerada incomum no mercado.

Outro ponto que será investigado é um contrato assinado em agosto de 2024, que dava a dois fundos (Axioma e Alcateia) o direito de comprar 60% do Grupo Safras por apenas R$ 100 mil - valor irrisório para uma empresa desse porte. Em troca, esses fundos prometeram captar até R$ 400 milhões para injetar no grupo em três anos.

A Carbon afirma que este contrato foi registrado na Junta Comercial do Paraná e depois retirado dos registros "a pedido das próprias partes", em movimento que sugeriria tentativa de ocultação. Os donos originais do Safras - Pedro de Moraes Filho e Dilceu Rossato (ex-prefeito de Sorriso) - teriam dado procurações a representantes desses fundos para reorganizar a estrutura da empresa.

Na decisão, a juíza concluiu que "a opção de compra não foi exercida pelos Fundos, a composição societária permanece junto aos sócios originários, bem como a gestão das companhias é feita por tais pessoas, sem qualquer ingerência dos fundos". No entanto, reconheceu que o contrato prevê a figura de um "observador" que acompanha todas as decisões do grupo e tem acesso a documentos internos.

A decisão judicial determina que, se os fundos quiserem exercer a opção de compra durante a recuperação, precisarão de autorização prévia da Justiça. Os representantes mencionados no contrato serão informados oficialmente sobre essa exigência.

Outros processos vão investigar acusações de "desvio de ativos", "dilapidação de patrimônio" e alegações de "apropriação indébita, estelionato e fraude contra credores". A administradora judicial AJ1 terá 15 dias para reunir documentos e mapear transações entre as empresas do grupo e seus sócios.

Além da Carbon, outros cinco credores contestaram formalmente o pedido de recuperação: Transportadora Locomotiva, Márcio Antônio Giroletti, Agropecuária Pedra Preta Brianorte, Valdir Bobbi e João Marcelo Barros Massarolo. Parte deles acusa a Flowinvest de controlar secretamente o Grupo Safras através do contrato de compra futura.





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