O Santos transferiu seu confronto com o Flamengo, válido pela primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em agosto de 2016, para a Arena Pantanal. Os santistas tinham uma dívida com um grupo de empresários que haviam comprado um mando de jogo no ano anterior e, para resolver a parada, mandaram o jogo para Cuiabá, capital do Mato Grosso. A partida ilustra, de certo modo, a dinâmica financeira do estádio que representou o estado mato-grossense na Copa do Mundo de 2014. O cidadão pagou caro pelo ingresso – R$ 83 em média. A renda líquida, cerca de R$ 1,2 milhão, foi dividida entre o clube paulista e os empresários a quem devia. Já o governo do Mato Grosso recebeu apenas R$ 43.060 pelo aluguel do estádio. Isso na melhor das hipóteses. No jogo em que o governo se deu “bem”.
Como se pode supor a partir do resultado financeiro da melhor partida da temporada, a conta da Arena Pantanal não fecha. O estádio consumiu em torno de R$ 6 milhões dos cofres públicos do governo estadual em 2016 – a Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer do Mato Grosso administra o estádio. Os custos têm a ver com a limpeza, a segurança e a manutenção. Já as receitas ficaram bem abaixo disso. Só R$ 100 mil foram arrecadados pelo governo por meio de aluguéis. O resultado, portanto, é um prejuízo de R$ 5,9 milhões na temporada. Se a arena fosse sustentável, sua arrecadação daria conta de suas despesas e, com sorte, ainda renderia uns trocados para o governo. Como não é, o saldo negativo tem de ser coberto com dinheiro público mato-grossense.
A Arena Pantanal não é um estádio parado. Longe disso. Na temporada de 2016 foram realizadas 41 partidas de futebol profissionais nela. Só o Castelão, entre os “colegas” de Copa, recebeu mais jogos. A maior parte são confrontos do Campeonato Estadual, algumas vezes com rodadas duplas no mesmo dia, em sequência, mas também há a Copa Verde, um regional, e a Série C, a terceira divisão nacional. Só que nesses jogos, diferente de um da primeira divisão, como Santos x Flamengo, é prejuízo para todo lado. Dos 28 duelos válidos pelo Estadual, em 26 os clubes foram para casa com prejuízo – ou seja, tiveram de tirar dinheiro de seus caixas para cobrir as despesas da partida. Nesse contexto deficitário o governo estadual dá uma mão aos times locais e não cobra nada em aluguel. Logo agrava a sua própria situação e também sai no prejuízo.
A situação da Arena Pantanal se agravou. Do lado das receitas a boa notícia é que, se em 2015 o governo estadual passou a temporada inteira sem arrecadar um único centavo com o estádio, em 2016 os R$ 100 mil representam um acréscimo. Mas as despesas subiram. Os mato-grossenses gastaram R$ 4,2 milhões em 2015, valor que aumentou para R$ 5,9 milhões em 2016. A média de público piorou. Caiu para 1.400 pessoas por jogo. A média de ocupação também. As arquibancadas ficaram 97% vazias por toda a temporada de 2016. Embora o governo tenha se esforçado em levar mais eventos para o estádio, como feirões de carros e festas como a Oktoberfest, os números confirmam o que se previa antes da Copa: a Arena Pantanal continua a desperdiçar dinheiro público em conta-gotas.