Um médico psiquiatra foi condenado a mais de 20 anos de prisão por abusos sexuais cometidos contra pacientes em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio. Os crimes de Cláudio Roberto Azevedo só foram descobertos graças a coragem de uma das vítimas, que o denunciou à polícia.
A Justiça condenou Cláudio a 20 anos e seis meses de prisão em regime fechado pelos crimes de estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude.
Ele trabalhava em uma clínica popular no centro da cidade. Cláudio foi preso em maio do ano passado, depois que denúncias chegaram à polícia de que ele se aproveitava da condição de médico para cometer os crimes.
A defesa do psiquiatra nega que ele tenha praticado qualquer crime e disse que vai recorrer da sentença. O Conselho Regional de Medicina não se pronunciou sobre o que vai acontecer com ele, que continua com o registro ativo.
As vítimas eram todas mulheres, moradoras de Itaboraí e São Gonçalo. De acordo com as investigações, o psiquiatra recebia as jovens na companhia dos responsáveis mas, depois de um tempo, pedia para ficar sozinho com as mulheres. Era naquele momento que os abusos aconteciam.
Uma das pacientes que se tratavam com o médico buscou ajuda por causa de uma depressão, mas conta que se deparou com momentos de horror.
"Ele que era para me ajudar, para falar o jeito de eu melhorar, só piorou. Eu entrei com uma perspectiva totalmente diferente e ele fez totalmente o contrário. Eu saí de lá totalmente assustada e em choque ainda. Todo dia ainda lembro disso, tive muito pesadelo com isso. É difícil, mas tenho que tentar de alguma forma, né?", disse a adolescente, que preferiu não ser identificada.
Outras vítimas
A primeira denúncia foi o ponto de partida para que os investigadores descobrissem novas vítimas do médico. Pelo menos outras quatro foram encontradas, incluindo uma criança de 11 anos.
Segundo documento da Justiça de Itaboraí, a menor fazia acompanhamento para tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. As consultas eram sempre presenciadas pela mãe da menina, mas, nos últimos três atendimentos, Cláudio pediu que a mulher se retirasse do consultório sob a alegação de que faria uma terapia cognitiva com a paciente.
De acordo com as investigações, o médico tocou por diversas vezes nas partes íntimas da menina. O psiquiatra ainda disse para a criança que queria namorar com ela.
Outra vítima disse que tinha procurado ajuda devido a duas tentativas de suicídio. A jovem também contou que a consulta era presenciada pela mãe e que o médico pediu que a responsável se retirasse da sala.
Primeiro, Cláudio teria colocado as mãos por dentro da blusa da vítima e alisou os seios. Em seguida, apertou o abdômen da adolescente com os dedos.
As denúncias foram peças-chave para que a polícia conseguisse prender o psiquiatra.
"A prova técnica em relação aos abusos era difícil de se chegar. Foram reunidas provas de testemunhas, foram ouvidas as cinco vítimas, onde se deu credibilidade . No caso da criança, ela foi ouvida por um especialista, onde ela narrou, inclusive, que o ato libidinoso lhe causou dor. Então esse ato foi chocante, causou um trauma nessa criança, na mãe também", afirmou a delegada Norma Lacerda, responsável pelas investigações.
A clínica onde os atendimentos aconteciam está fechada.
"Infelizmente, o juramento de Hipócrates foi rasgado, completamente abandonado por esse médico, que se aproveitava de sua condição de credibilidade social para praticar crimes realmente nefastos contra pessoas que já vinham passando por problemas muito severos", disse Ramon Ferreira, advogado de uma das vítimas.
"A informação nos deu a possibilidade de tirar esse médico de circulação, porque ele foi preso preventivamente na época da investigação, permaneceu preso durante o processo criminal, e agora vai continuar atrás das grades, que é o lugar dele", afirmou a delegada.
Cláudio está preso na penitenciária de Bangu 8, na Zona Oeste do Rio.
"Qualquer pessoa, toda mulher, até mesmo homem, que passa por um abuso, que passe por qualquer coisa parecida, não pode sentir vergonha, sentir culpa, tem que denunciar, independentemente se for médico, se for alguém da família. Alívio de ser menos um na sociedade a fazer essas coisas. Alivio por mim, pelas outras garotas, por todo mundo que podia estar nas mãos dele", afirmou uma das vítimas.