A vendedora alvo de comentários de cunho sexual feitos pelo médico Victor Sorrentino diz "aceitar as desculpas" do médico. Em novo vídeo publicado nas redes sociais (veja acima) por Sorrentino, na noite da sexta-feira (4), o médico aparece pedindo novamente desculpas pela ação.
Victor Sorrentino foi detido em 30 de maio, no Cairo, capital do Egito, após o vídeo em que faz perguntas com conotações sexuais a vendedora viralizar na internet. Agora, ele aparece nesse novo material ao lado da mulher.
"Como represento as mulheres egípcias e o povo egípcio, somos um povo hospitaleiro e carinhoso que recebemos visitante de todas as partes do mundo, é suficiente para mim que ele peça desculpas, e vou aceitar suas desculpas", disse a vendedora.
O conteúdo foi gravado e traduzido simultaneamente nos idiomas português e árabe. O G1 consultou a influenciadora Patrícia Oliveira, responsável pela página Vida no Egito, e ela validou as falas traduzidas.
Pedidos de desculpa
Esse não é o primeiro vídeo de desculpas feito por Sorrentino após o caso ganhar repercussão. Antes de ser detido, Victor voltou à loja e gravou um vídeo de desculpas onde afirmou que se tratava de "uma brincadeira brasileira" e disse ser "um cara muito brincalhão".
"Isso é uma brincadeira brasileira, que pode ser vista como brincadeira de mau gosto - eu acho que é. Uma brincadeira assim: 'bah, não precisava fazer isso'. Mas eu sou assim... Bom, você viu ontem, eu sou um cara muito brincalhão, estou sempre brincando. E filmei isso, e as pessoas ficaram ofendidas por você", disse no material, diante da vendedora.
No começo desta semana, na quarta-feira (3), a família de Sorrentino divulgou uma carta em inglês e árabe onde pede desculpas pelo que aconteceu.
Assinam o documento os pais de Victor, Migel e Maria Cristina Laindes Sorrentino, os irmãos Guilherme, Patricia e Daniela Sorrentino e a esposa Kamila Monteiro.
Vídeo de duplo sentido
No primeiro vídeo publicado pelo brasileiro na internet, Sorrentino está em um bazar turístico, no país africano. Uma mulher, atendente do estabelecimento, mostra como é feito o papiro, espécie de papel usado pelos antigos egípcios para escrever.
O médico aparece perguntando a ela em português: "Vocês gostam mesmo é do bem duro, né?" Depois, em tom de deboche, ele ainda afirma: “E cumprido (sic) também fica legal, né?". A vendedora, que não entende direito o que foi dito, responde “sim”, enquanto ele e os amigos riem.
Após a repercussão do vídeo, ele restringiu o acesso dos perfis nas redes sociais.
Chegada do material às autoridades
O caso ganhou notoriedade após circular em redes de ativistas de defesa dos direitos das mulheres. Um dos primeiros a tomar conhecimento das imagens foi o ativista LGBT antirracista Antonio Isuperio, morador de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Ele recebeu o vídeo de Fabio Iorio, que mora em Londres, na Inglaterra. A partir daí, Isuperio acionou a rede de mais de 2 mil ativistas mulheres, no Brasil e no Egito, incluindo atrizes e influenciadoras brasileiras.
O Ministério Público egípcio assumiu o caso, mantendo o brasileiro detido em prédio público do governo local. Segundo o órgão, no dia 1º de junho, a detenção seria prorrogada por mais quatro dias, aguardando as investigações.
Segundo o Ministério Público do Egito, o médico expôs a "vítima a insinuações sexuais e insinuações com palavras, a sua transgressão aos princípios da família e valores da sociedade egípcia, sua violação da santidade da vida privada da vítima e seu uso de sua conta online privada para cometer esses crimes".
Aulas de português
O G1 conversou com o professor de português que dava aulas à vendedora. Ele disse acreditar que a mulher "não entendeu a conotação" da fala dirigida a ela.
"Vejo que ela realmente não entendeu como piada", disse Rodrigo Andrade.
Na avaliação do professor, a moça interpretou de modo literal a fala de Sorrentino. "Até porque ter essas sacadas com uma língua que não é a sua, às vezes, é complicado mesmo", disse.
A mesma interpretação foi exposta pelo Ministério Público do Egito, em nota divulgada no dia 1º de junho.
"Ficou claro no clipe que a menina foi ridicularizada e parecia sorrir distraída, sem saber do abuso verbal", disse a entidade.
Jo?o Paulo
Sábado, 05 de Junho de 2021, 20h49