Tarde comum de quinta-feira, janeiro de 2025, quando 5 jovens migrantes do Maranhão, desembarcavam em Várzea Grande, ávidos pelo início da oportunidade de emprego na construção civil, anoiteceram mas não amanheceram, desapareceram sem deixar rastros
Dias repletos de angústia e incerteza recaíram sobre as famílias de Diego, Wallison, Wermison, Mefibozete e Walyson, enfrentando meses com o peso do sumiço. O desaparecimento de uma pessoa é um boletim de ocorrência. Na vida do familiar que fica, como dos jovens maranhenses, é o luto suspenso, e que, em muitos casos, suspenso para sempre. Vida e luto roubados pela violência!
Perto dali, no mesmo dia, em Lucas do Rio Verde, ossadas de 13 pessoas desaparecidas estavam sendo localizadas em covas de um cemitério clandestino, com sinais de pernas e mãos amarradas, indicando mortes violentas com a prática de tortura antes das execuções e ocultação dos cadáveres.
Dias seguintes, em Rondonópolis, encontrado outro cemitério clandestino, em uma área de mata, agora com restos de 11 corpos, dentre eles Pollicarpo Ferreira Alves, desaparecido desde o dia 13 de dezembro de 2024.
Em 6 anos, foram 12.459 desaparecimentos em Mato Grosso, e destes, apenas 1.836 pessoas foram localizadas, como no caso de Pollicarpo. Mas e as mais de 10 mil vidas restantes, a exemplo dos jovens maranhenses, estão ocultados em cemitérios clandestinos? Estão nas profundezas dos rios e lagoas? Vítimas de tortura e execução, com seus corpos ocultados em algum local jamais identificados?
No ano de 2024, o Estado registrou o alarmante número de 2.271 pessoas desparecidas, equivalente a 6 desparecimentos por dia, sendo o 6º no ranking brasileiro com esta triste estatística, a nossa taxa está próxima de 60 indivíduos sumindo a cada 100 mil habitantes.
A realidade contemporânea em Mato Grosso, segundo Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, como 6º colocado em taxa de desparecimento, denuncia que 10 mil pessoas não foram encontradas fisicamente e nem retratadas nos boletins de óbitos, e, consequente, há uma subnotificação de homicídios.
A este respeito, a reflexão trazida pelo Anuário é de que “Os estados das regiões mais violentas do país hoje, apresentam também os maiores crescimentos no número de desaparecimentos no período analisado” e que, em grande medida, coincide com “movimento de expansão de organizações criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho”.
A falta de presença da polícia nas ruas, nos bairros, tem sido um espaço fértil para o poder paralelo de vida e morte, promovido pelas facções, expandir o índice criminal de desaparecimento de pessoas, ou melhor, de mortes invisíveis, que, para além de não entrarem para as estatísticas de homicídio, não terão autores no banco dos réus. A máxima “Se não há corpo, não há crime e tampouco uma investigação” é, hoje, uma triste e preocupante realidade com a qual convivemos diariamente.
Por Ciro Rodolpho Gonçalves