O recente conflito entre o governo do presidente Donald Trump e a Universidade de Harvard evidencia uma nova fase de tensão entre o poder executivo dos Estados Unidos e o setor educacional e que escala para uma disputa nos tribunais do país. No dia 22 de maio de 2025, o governo norte-americano revogou o direito da universidade de emitir os documentos necessários para que estudantes estrangeiros possam permanecer legalmente no país — decisão que impacta diretamente mais de 6.000 alunos da instituição, incluindo calorias com início previsto de curso já em agosto. Logo em seguida, a medida foi derrubada judicialmente, porém o embate não aparente estar perto do fim.
A justificativa oficial do Departamento de Segurança Interna inclui a recusa de Harvard em compartilhar dados dos últimos cinco anos sobre seus alunos internacionais. O governo busca identificar estudantes envolvidos em atos violentos ou subversivos. Além disso, acusa a universidade de negligência no combate ao antissemitismo no campus e de manter uma postura institucional hostil, segundo a gestão atual, às diretrizes nacionais de segurança e ordem. Em resposta, Harvard considera a medida uma forma de retaliação política e já moveu uma ação judicial, alegando violação da Constituição e ataque à autonomia acadêmica.
O impacto da medida extrapola os muros de Harvard. Com mais de 1,1 milhão de estudantes estrangeiros atualmente matriculados em instituições americanas, cerca de 10% do total, o país se consolida como o maior destino de estudantes internacionais no mundo. Essas matrículas representam uma receita anual superior a 40 bilhões de dólares para os EUA. A medida, portanto, não apenas ameaça a estabilidade educacional de milhares de jovens, mas também levanta dúvidas sobre a atratividade e previsibilidade do sistema educacional americano.
A insegurança jurídica e diplomática provocada pela decisão começa a inibir o avanço dos processos de admissão. Mesmo que a suspensão da medida seja possível, e até provável segundo alguns analistas, o dano à confiança já está em curso. Universidades de outros países, como Canadá, Reino Unido, Alemanha e Austrália, comemoram discretamente o episódio, por apresentarem alternativas mais resultados e seguras para estudantes globais que têm em estar sujeitos a decisões políticas repentinas e radicais.
Harvard, a mais antiga e uma das universidades mais prestigiadas do mundo, é considerada um símbolo de excelência acadêmica e de diversidade cultural. A exclusão de estudantes estrangeiros de seu corpo discente não é apenas uma receita institucional, mas também um sinal preocupante de como diretrizes geopolíticas e ideológicas estão interferindo diretamente na produção de conhecimento e no livre intercâmbio acadêmico internacional.
Esse episódio se inseriu num contexto mais amplo de pressão sobre instituições de ensino tradicionalmente associadas a posturas progressistas. Harvard, ao lado de outras universidades como Princeton, Yale e Columbia, tem sido criticada pela administração Trump por manter políticas de inclusão e diversidade considerandos a “ordem conservadora” que o governo busca importante.
O desfecho desse impasse dependerá do andamento judicial, da mobilização diplomática dos países afetados e do resultado da opinião pública internacional. A curto prazo, pode haver um efeito em cascata, com as universidades americanas revendo seus processos de admissão e políticas de cooperação. A médio e longo prazo, é possível que os EUA percam a liderança como principal destino global de estudantes internacionais, o que pode afetar não apenas a economia educacional, mas também sua influência cultural e científica no cenário mundial.
Em suma, o conflito entre Harvard e o governo Trump vai muito além de uma disputa administrativa: ele coloca em execução o modelo de educação aberta, global e colaborativa que os EUA sempre defenderam, e do qual sempre se beneficiaram.
Gavur Kirst é especialista em educação superior internacional e está à frente da empresa Gold Tassel Programas Universitários.
Ademir
Sexta-Feira, 30 de Maio de 2025, 20h02