Opinião Segunda-Feira, 17 de Março de 2014, 09h:11 | Atualizado:

Segunda-Feira, 17 de Março de 2014, 09h:11 | Atualizado:

Rodrigo Vargas

O nada e o lugar nenhum

 

Rodrigo Vargas

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Poderiam ser as crateras abertas no asfalto novo. Poderia ser o acabamento grosseiro das obras prontas. Ou a paisagem desoladora da "trincheirona" da Jurumirim.

Mas nada, a meu ver, simboliza com mais precisão as desventuras cuiabanas rumo à Copa do Mundo do que o trabalho de um pequeno grupo de operários que há duas semanas se esforça para fixar meia dúzia de trilhos ao viaduto da UFMT.

Eles merecem todo o meu respeito. Estão ali para ganhar o sustento, enfrentando chuva, sol e a fumaça tóxica dos escapamentos. É gente honesta, em relação à qual não cabe crítica alguma.

Esta realidade, porém, não torna menos patética a cena que eles se viram obrigados, pelas demandas do próprio ofício, a protagonizar nos últimos dias.

Morador do Coxipó, onde também fica a sede do Diário de Cuiabá, passo pelo local muitas vezes ao longo da semana.

Já havia me habituado às linhas surreais daquele corrimão da passarela. Comecei até mesmo a identificar nele certo valor artístico.

Mas jamais irei me acostumar à ridícula instalação daqueles trilhos. É como se, em lugar dos operários em seus macacões laranja, estivesse ali um telão gigante de LED exibindo, em um milhão de cores e alta definição, a palavra "OTÁRIO".

Não, senhores e senhoras, aqueles operários não estão em cima do viaduto para cumprir uma necessidade da obra, como afirma o governo. Eles estão a fazer parte de uma destrambelhada ação de propaganda.

Imagine a reunião dos marqueteiros do governo. A eleição e a Copa se aproximando. A insatisfação popular crescente. Os poucos metros de trilhos, sonho antigo da capital, instalados em um viaduto na vizinha Várzea Grande.

Então algum iluminado sugere, com aquele brilho no olhar de quem reinventou a roda: "Vamos instalar trilhos em Cuiabá". Bingo!

Apesar da experiência pedagógica dos protestos durante a Copa das Confederações, apostavam que a população reagiria bovinamente à notícia, de braços ao alto em júbilo.

Perderam feio. A linha "UFMT-Shopping Três Américas" motivou desprezo nas ruas e virou piada nas redes sociais. A busca por usos alternativos para a estrutura ocupou o tempo livre de muita gente.

Eu, por exemplo, acho que o trecho deveria ser aberto à visitação dos estrangeiros que vierem à cidade para a Copa. O ponto alto de um city tour honesto.

"Quer saber o que é o Brasil, meu nobre gringo? O Brasil é isso", diria o guia, antes de apontar para o viaduto incompleto e mal-acabado, com os seus vistosos trilhos importados, ligando o nada ao lugar nenhum.

RODRIGO VARGAS é jornalista em Mato Grosso





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