Opinião Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025, 13h:10 | Atualizado:

Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025, 13h:10 | Atualizado:

Frederico Murta

O poder supremo e o silêncio perigoso

 

Frederico Murta

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Frederico Murta

 

Vivemos tempos difíceis. E o que mais me preocupa não é a divergência de ideias — isso, aliás, é saudável e essencial em uma democracia. O que realmente me inquieta é o avanço de um poder absoluto que vem se sobrepondo aos demais, sem freios, sem limites e, pior, sem contestação. Você sabe bem de quem estou falando. 

Reconheço que não é confortável abordar esse tema, tampouco seguro, mas não posso me calar diante do que considero uma ameaça real à democracia brasileira.

A Suprema Corte tem ultrapassado, de forma sistemática, os limites constitucionais que deveriam guiá-la. Em um mesmo processo, atua como vítima, investigadora, acusadora e julgadora. Esse acúmulo de funções não apenas fere o devido processo legal — pilar do Estado Democrático de Direito — como também enfraquece a confiança da sociedade nas instituições. Se o próprio guardião da Constituição não a respeita, quem mais o fará?

Não se trata, aqui, de defender o ex-presidente Jair Bolsonaro ou qualquer outra figura pública. Trata-se de algo maior: o direito de qualquer cidadão — inclusive daqueles que representam um campo político específico — de se manifestar, ser ouvido e participar do debate público. Refiro-me, inclusive, ao seu direito de discordar de mim.

Quando se decide limitar o uso das redes sociais por meio das Big Techs e se impede que um dos principais líderes políticos do país se manifeste — seja por tornozeleira eletrônica, seja por censura direta — não estamos apenas diante de uma decisão jurídica. Trata-se de um ataque frontal à liberdade de expressão.

A preocupação de muitos, hoje, concentra-se na possibilidade de prisão de Bolsonaro. No entanto, a meu ver, há algo ainda mais grave em jogo: o silenciamento.

Até mesmo o atual presidente Lula, quando esteve preso, foi autorizado a conceder entrevistas de dentro da cadeia. Hoje, Bolsonaro está impedido até de se comunicar com o próprio filho. Que tipo de democracia é essa? Nem integrantes de facções criminosas, em prisões de segurança máxima, recebem esse tipo de restrição. Isso ultrapassa o razoável. Trata-se, claramente, de perseguição política.

Além disso, há uma evidente tentativa de desarticular toda uma corrente ideológica. A direita vem sendo, de maneira sistemática, excluída do debate público. Seu principal representante foi tornado inelegível e, agora, sequer pode se manifestar. Discordar de suas ideias é um direito; impedi-lo de falar, não. A liberdade de expressão só deve ser limitada quando houver crime claro, tipificado em lei — jamais por conveniência política ou pressão institucional.

Enquanto isso, o Senado — única instituição capaz de conter esses abusos — permanece em silêncio. Calado, omisso ou, talvez, apenas preocupado em garantir sua própria sobrevivência por mais oito anos de poder. E a sociedade? Em grande parte, está com medo. Medo de se posicionar, de falar, de se tornar alvo. E com razão: o risco é real. Mas é justamente por isso que precisamos falar. Porque nenhuma conquista, nenhuma estabilidade, nenhum mandato vale mais do que a nossa liberdade de expressão.

Nenhum poder é supremo. Em um Estado democrático, todos os poderes devem coexistir em equilíbrio, com responsabilidade e limites. A Constituição não é uma carta de intenções — é a regra máxima. Quando ela deixa de ser respeitada por aqueles que deveriam defendê-la, toda a estrutura começa a ruir. E é isso que estamos vendo acontecer.

Não escrevo para agradar. Tampouco para convencer. Escrevo porque acredito que calar, agora, é pactuar com o autoritarismo. E, se há algo que não podemos perder — jamais — é o direito de dizer o que pensamos.

Frederico Murta é delegado de Polícia Civil.





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Comentários (4)

  • ALEXANDRE

    Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025, 19h43
  • LULA NEM MORAES SÃO A SOBERANIA, SOBERANIA É O POVO
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  • Cuiabano

    Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025, 18h56
  • Lula foi proibido de dar entrevista em 2018. O que acha disso douto delegado?
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  • Só observo

    Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025, 14h40
  • Queremos ver quem soltou Lula ser julgado no Senado. Só isso.
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  • Citizenship

    Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025, 13h32
  • A proibição de que o pai Bolsonaro fale com o 03 Bolsonaro se dá no contexto em que ambos estão sendo investigados por crimes que atentam contra a soberania nacional, cuja finalidade evidencia-se das constantes publicações do 03 Eduardo nas redes sociais e de suas entrevistas. Os acontecimentos corroboram que ele está atuando para impedir inclusive senadores brasileiros em comitiva aos Estados Unidos, suprapartidária, consigam espaço para conversar em favor da abertura de negociações que permitam minimizar os danos previstos pelo tarifaço. Quanto às entrevistas, obviamente estavam sendo usadas para propagar a disseminação de crime. Tentar transformar difusão de articulações criminosas com liberdade de expressão não é correto. Se há dúvidas sobre se isso aconteceu, vejam no que a "festa da Selma" converteu-se.
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