Na denúncia apresentada pelo procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, pedindo a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, é revelado que em 2020 um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) teria sido alvo de uma tentativa de extorsão. Á época, uma investigação chegou a ser cogitada para investigar o caso.
Uma conversa entre o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho e uma pessoa identificada como “Diogo da SEMT” revela que no dia 09 de abril de 2020, ele usou a ferramenta First Mile para obter dados de quem estaria tentando extorquir o membro do Judiciáiro matogrossense. First Mile é um equipamento clandestino e que "puxa a capivara" de servidores públicos que não cumpriam seus deveres funcionais.
A situação é mais um episódio da ‘Abin Paralela’, uma estrutura clandestina, dentro da inteligência brasileira, durante o governo de Bolsonaro que usou ferramentas de espionagem ilegal para monitorar adversários políticos, autoridades e cidadãos sem autorização judicial. As ações clandestinas eram realizadas contra opositores ou contra quem desagradasse o núcleo político de Bolsonaro e eram realizadas com a plena ciência do então diretor-geral da Abin e atualmente deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
No caso do desembargador mato-grossense, no entanto, a ferramenta não foi útil para auxiliar na identificação do suposto criminoso que o extorquia. Diogo diz na mensagem que tem um número extorquindo o presidente do TJ de MT. “Teria como obter os dados do celular?”, pergunta.
Carlos Afonso diz para ele mandar o contato afirmando que checará com Alexandre de Oliveira Pasiani, outro envolvido no esquema e que foi indiciado por falsidade ideológica posteriormente. “Qual o código? Ok. Vejo o que consigo”, garante Carlos.
Momentos depois, o diretor diz que nada foi encontrado. “Não foi encontrado... retornou “device offline”. Alguma chance de o número estar errado? Esse número é da Vivo, e eu testei a rede Vivo está operando ok no FirstMile. Mas o cara tá com ZAP ligado. Deve estar em wifi. Não vamos conseguir ajudar nessa”, explica Carlos. “Diogo da SEMT” então finaliza a conversa e agradece. “Ok!! Paciência!! Obrigado e desculpa a hora”.
OUTROS CASOS
Apesar do ‘First Mile’ ter sido utilizado aparentemente para uma “boa causa”, não era para isso que o equipamento era usado na maioria das vezes. O servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Hugo Ferreira Netto Loss, chefe de ações de combate ao garimpo e ao desmatamento, foi um dos alvos monitorados. O grupo político tentou incrimina-lo com "algo de Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul", conforme investigações da Operação Última Milha, deflagrada pela Polícia Federal (PF).
Além dele, outros servidores estaduais de Mato Grosso foram monitorados ilegalmente pela "Abin Paralela". Segundo as investigações da PF, Leonice Auxiliadora Campos Alves, que ocupava o cargo de técnico de Desenvolvimento Econômico e Social da Secretaria de Estado de Gestão (Seges), foi uma das monitoradas. Ela se aposentou em 2017.
Outro alvo dos grampos foi o tenente do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, Gustavo Correa da Silva Campos, que teve o nome acessado ao menos 20 vezes por uma pessoa identificada como Renato Pereira de Araújo. O sistema utilizado para a espionagem (First Mile) vem de Israel, e possui a capacidade de rastrear celulares a partir do número telefônico.
Carlos Nunes
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