MPE descobre que deputado de MT dobrou salário filha de investigado para tentar sair ileso

 

O deputado estadual e primeiro-secretário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT), Guilherme Maluf (PSDB), teria aumentado o salário de uma servidora comissionada da Casa de Leis com o objetivo de que o pai da funcionária, Wander Luiz dos Reis, não revelasse sua atuação aos investigadores no âmbito da "Operação Rêmora". A investigação, deflagrada pelo Gaeco, apura a atuação de uma suposta organização criminosa que estaria cometendo fraudes em licitações na Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT). 

Maluf e Wander são acusados de participação no esquema. O ex-servidor da Secretaria de Educação foi preso na 1ª fase das investigações, mas hoje está em liberdade. “Neste sentido, apontam os autos que, após a deflagração da primeira fase da nomeada Operação Rêmora decorrente da investigação em tela, a fim de garantir que Wander Luiz dos Reis não revelasse sua atuação aos investigadores, Guilherme Maluf buscou dar-lhe aporte econômico indiretamente, fazendo aumentar a remuneração de Renata Lucia Cintra Cunha dos Reis, filha de Wander, servidora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso ocupante de cargo de provimento em comissão”.

O Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco) do Ministério Público Estadual denunciou Maluf em petição assinada pelos promotores de justiça Antonio Sergio Cordeiro Piedade, Carlos Roberto Zarour César, Marcos Bulhões dos Santos e Samuel Frungilo na última terça-feira (10).  Segundo o órgão, Renata Lucia Cintra Cunha dos Reis passou a ter salário líquido de R$ 3.220 mil para R$ 5.361 mil.

Ela conseguiu o acréscimo através de uma gratificação. “No mês de junho de 2016, a remuneração de Renata dos Reis passou a ser composta pelo seu vencimento base no valor de R$ 3.570,00, bem como por uma gratificação denominada GAP no valor de R$ 3.570,00. Assim, sem que houvesse acréscimos ou descontos extraordinários, descontados o imposto de renda e a contribuição previdenciária, Renata dos Reis passou a receber remuneração líquida no valor de R$ 5.361”, diz a denúncia.

A representação segue relatando que a viabilização do acordo ocorreu por meio de exoneração da filha de Wander Luiz dos Reis e a sequente nomeação num outro cargo comissionado na AL-MT. Na ocasião, Guilherme Maluf era o presidente do Poder Legislativo de Mato Grosso. “A fim de que se pudesse justificar o aumento de remuneração, Renata dos Reis foi trocada de cargo, tendo sido exonerada do cargo comissionado de Assessor Adjunto da Presidência pelo ato nº 237/2016 e nomeada para ocupar o cargo de provimento de comissão de Assessor Parlamentar pelo Ato nº 240/2016, ambos os atos publicados em 6 de julho de 2016”, detalha.

De acordo com o MP-MT, Guilherme Maluf integraria o núcleo de liderança da organização criminosa sendo beneficiário direto de parcela da propina arrecadada, além de, “valendo-se dos enlaces políticos proporcionados pelo cargo eletivo por ele ocupado, fazer as articulações necessárias para o desenvolvimento dos esquemas criminosos engenhados para solicitar e receber propina”. A “Rêmora” foi uma operação deflagrada em maio de 2016 pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e que investiga a atuação do ex-secretário da Seduc-MT, Permínio Pinto, além do empresário Alan Malouf, do deputado Guilherme Maluf, que junto a empresários e servidores públicos operavam um esquema de recebimento de propina em troca do repasse de informações privilegiadas a empreiteiros que disputavam licitações para projeto na Secretaria de Educação.

Permínio Pinto e Alan Malouf chegaram a ser presos, mas já se encontram soltos. Ambos respondem a ação na Vara de Combate ao Crime Organizado de Cuiabá e já confessaram ter participado do esquema criminoso.

OUTRO LADO

Por meio de nota, o deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB) informou que recebeu a denúncia com "estranheza", já que não são apresentadas provas. Ele nega as acusações de atrapalhar as investigações e intimidação de testemunhas ou acusados.

O tucano ainda negou ter participado de fraudes na Secretaria de Educação. "O deputado Guilherme Maluf reafirma que não tem envolvimento com qualquer possível irregularidade ocorrida na secretaria de Educação e que confia na justiça, onde comprovará sua inocência", diz a nota.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

O deputado estadual Guilherme Maluf disse, através de sua assessoria, que recebeu com estranheza a denúncia do MPE, já que durante toda a investigação não foi apresentada nenhuma prova contra ele.

O deputado contesta com veemência a tese de ‘embaraçamento’ da investigação ou tentativa de intimidação de qualquer dos acusados, argumento falso utilizado por um deles para sair da cadeia.

Ele assegura que forneceu ao MPE todas as informações solicitadas e continua à disposição para qualquer esclarecimento.

O deputado Guilherme Maluf reafirma que não tem envolvimento com qualquer possível irregularidade ocorrida na secretaria de Educação e que confia na justiça, onde comprovará sua inocência.