O juiz da 7ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça (TJMT), Jean Garcia de Freitas Bezerra, intimou 39 vítimas de uma organização criminosa que roubava carros de luxo em Cuiabá e que depois os anunciava na plataforma de vendas OLX. Na lista estão médicas, empresários e até um juiz do Poder Judiciário Estadual.
Numa decisão do último dia 1º de setembro, o juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra negou o pedido de liberdade de 9 réus que fariam parte da organização criminosa - Felipe Jacob de Oliveira, Gustavo Firmino da Silva, Josenil de Arruda Campos Júnior, Cássio Bruno Vieira da Silva, Wender Ferreira de Assis, Rosana dos Anjos Marques, Janderson Paiva de Souza, Alex Lima Ferreira, além do suposto líder do bando, Wellington de Moura Sanches, o “Tatu”. De modo geral, os réus alegaram falta de provas e “inépcia da inicial” - denúncia frágil, sem elementos que possam indicar a prática de crimes.
O argumento não foi aceito pelo juiz. “As alegações de ausência de justa causa por não haver indícios suficientes de autoria e materialidade também devem ser refutadas, já que estes restaram demonstrado nos elementos de informação angariados durante a fase inquisitorial, principalmente através dos depoimentos das vítimas”, analisou o magistrado.
Na sequência, Jean Garcia de Freitas Bezerra realizou uma série de intimações, a testemunhas e vítimas do bando, que deverão prestar depoimentos entre os dias 17 e 21 de outubro de 2022. No rol de pessoas prejudicadas pela quadrilha, que tiveram veículos roubados ou sofreram outros tipos de violência da organização criminosa, estão pelo menos duas médicas, um pastor, uma doutora em agronomia tropical, uma corretora de imóveis, uma dentista, e diversos empresários.
Chama a atenção, porém, que entre as vítimas está um magistrado do TJMT, que também deverá prestar depoimento numa data que ainda será definida pelo próprio magistrado, que possui essa prerrogativa. Alexandre Elias Filho, juiz de direito em Mato Grosso, teve uma caminhonete roubada no ano de 2020, na Praça Popular, em Cuiabá.
QUADRILHA
Segundo o processo, um relatório técnico elaborado em 2021 após a quebra de sigilo bancário apontou que Wellington de Moura Sanches, o “Tatu”, movimentou valores expressivos entre o período de janeiro de 2018 a setembro de 2019, no total de R$ 2,9 milhões, e que 20% deste montante não foram identificados. A Polícia Judiciária Civil (PJC), que investiga organização criminosa, ainda revelou que houve uma grande movimentação de valores, no período do afastamento de sigilo, entre as contas correntes de Edson da Silva Taques Junior, Rosana dos Santos Marques, que também fariam parte da quadrilha, a RBR Veículos – empresa que seria utilizada para a lavagem de dinheiro -, e Wellington Sanches.
Foram identificados o fracionamento de depósitos e saques, além de uma “confusão patrimonial” entre os investigados. De acordo ainda com as investigações, a quadrilha liderada por Wellington Sanches “recrutava” criminosos para os roubos de carros de luxo – fornecendo, inclusive, armas de fogo e locais para guarda dos veículos.
Posteriormente, os bens eram comercializados a preços abaixo do valor de mercado em plataformas online de vendas, como a OLX e também o Facebook. “Recrutavam criminosos para praticar as subtrações dos veículos, fornecendo armas de fogo, contratando locais para guarda dos automóveis, falsificando documentos, adulterando placas e vendendo veículos abaixo do preço, em sites como OLX e no Facebook”, diz trecho do processo.
Wellington de Moura Sanches possui extensa ficha criminal, com crimes cometidos também no interior de Mato Grosso.