Projeto de Extensão Lagoa do Jacaré é uma das ações realizadas pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em que a identificação local passa a denominar o próprio trabalho desenvolvido. Iniciado em 2021, e continuado desde 2023 com os nomes de “Educação Ambiental: conhecer para transformar” e “Intervenção Urbanística na Lagoa do Jacaré em Várzea Grande-MT”, a ação é conhecida simplesmente por Projeto de Extensão Lagoa do Jacaré.
O professor do curso do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos (PPGRH), Rafael Pedrolo de Paes, conta que o início do projeto é resultado de parcerias como com o Ministério Público Estadual, as secretarias estaduais de Educação e de Meio ambiente, a Prefeitura de Várzea Grande e o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). “O projeto tem quatro eixos principais, projeto executivo de desassoreamento, projeto executivo de drenagem, projeto executivo de esgoto pluvial e um projeto de educação ambiental”, explica.
A proposta do projeto é que a população entenda a situação da Lagoa do Jacaré e possa também ser atores participantes no processo de revitalização do local. “Esse entendimento de que aquela comunidade precisava de projetos executivos de engenharia veio após um outro projeto anterior, focado especificamente na área de educação ambiental”, relata o professor em referência ao trabalho do PPGRH, orientado pela professora Daniela Maimoni de Figueiredo, que apontou a necessidade de intervenções em engenharia e saneamento ambiental pela dificuldade de habitação.
As atividades do projeto tem um caráter amplo, principalmente voltado para a educação ambiental. “Quando a gente apresenta um projeto para ser executado de drenagem, de esgoto sanitário e de desassoreamento, a gente, e educação ambiental, a gente tenta avançar em vários sentidos. Por exemplo, a educação ambiental é para a própria população compreender em qual contexto ela está, que é o áudio anterior que eu mandei. E o que fazer para melhorar? Então a gente está propondo, por exemplo, o desassoreamento da lagoa, que tem o objetivo principal de aumentar o volume de armazenamento da água da lagoa para tender a voltar ao que era natural, explica o professor Rafael Pedrollo de Paes.
O docente compreende que em determinados locais esse restabelecimento é impossível porque estão com infraestrutura urbana, mas que com ações de restauração já em curso é possível que a Lagoa do Jacaré retenha mais água, sem o escoamento superficial para toda a região. O projeto de extensão avança também para enfrentar o problema do esgoto e de resíduos sólidos na água da Lagoa do Jacaré, com a coleta do que é produzido por aproximadamente duas mil pessoas para uma estação elevatória de esgoto.
“Essa estação elevatória de esgoto vai encaminhar esse esgoto produzido ali na comunidade da Lagoa do Jacaré para uma estação de tratamento de esgoto. O nosso projeto, então, em relação ao esgoto é de coleta e destinação por meio da estação elevatória para uma rede já existente numa base hidrográfica vizinha que vai encaminhar para a estação de tratamento de esgoto”, explica o professor sobre o projeto que na prática estabelece uma limpeza para a região da Lagoa do Jacaré.
Em paralelo o projeto de drenagem vai atuar para limitar o assoreamento em torno da Lagoa do Jacaré permitindo que a água chegue mais facilmente à lagoa. “Hoje, porque tem aterramento, a água está escoando, mas ela muitas vezes não consegue chegar na lagoa, porque ela fica parada, em função justamente dos aterros. Então, o Programa de Educação Ambiental, que tem acontecido desde 2022, na apresentação para a comunidade permite eles saberem o que a gente está propondo, o que pode ser construído, e de como melhor corresponder às propostas”, relata.
Segundo o professor Rafael Pedrollo do Paes, por problemas de habitação social, as pessoas passavam a procurar locais para morar desde a década de 1980. O resultado foi um aterramento na região de várzea, uma planície própria para inundação. “É um local que a gente na área de engenharia entende como uma própria esponja urbana, aquele termo que tem falado ultimamente. Isso aqui é natural, não precisava ser construído. Essa, “esponja urbana” passou a ser aterrada para a população morar”, pontua o professor apontando que foi um processo encampado por particulares e instituições públicas.
O resultado foi a construção de uma área de risco para moradias sociais. “A princípio entendiam que era uma coisa do tipo ganha ganha, todo mundo está ganhando com esse aterramento. As pessoas passaram a morar de maneira provisória em locais que são definitivamente de risco. Então não tinha ninguém estudando o que estava acontecendo. Houve vários casos de inundação, de contaminação de uma lagoa que existe lá, que é a Lagoa do Jacaré, de redução do volume da lagoa e piorando potencialmente, cada vez mais exponencialmente, as condições de habitação ali. Então se havia uma lagoa e alguém foi lá e aterrou, o espaço onde ficava aquela água foi para outro local e esse outro local foi para outra casa, foi para outra rua e esse é o problema geral”, analisa o docente.