Na madrugada do dia 15 de julho de 2024, comerciantes do Shopping Popular de Cuiabá foram acordados com o alerta de que suas barracas e mercadorias estavam em chamas. Em poucos minutos, o fogo iniciado no ar-condicionado rapidamente se espalhou e consumiu o prédio de dois andares e tudo o que havia dentro dele. Com um prejuízo financeiro e emocional, um ano depois os lojistas lutam para se reerguer. Atualmente, cerca de 80% dos pequenos empreendedores ocupam espaço improvisado, ao lado da antiga galeria, enquanto esperam a obra do novo centro comercial ficar pronta.
O GD esteve no local e escutou alguns relatos sobre o recomeço dos comerciantes. Os empreendedores falam sobre como foi difícil retomar as vendas, mas demonstram otimismo sobre o futuro e seguem trabalhando para ter o sustento de cada dia.
Henrique Carmindo de Selles, 67, trabalha há 8 anos no local. Em setembro do ano passado, a reportagem do GD o entrevistou enquanto os comerciantes estavam alojados sob tendas na avenida Carmindo de Campos. Na época, o idoso comentou sobre o calor que enfrentavam e a falta de rotatividade de clientes. 10 meses depois, o empresário segue no conserto e vendas de overboard, triciclo e patinete, agora em condições melhores com uma banca climatizada.
Assim como outros lojistas, Selles precisou recorrer a empréstimo para recomeçar e investiu R$ 30 mil em produtos. Para o comerciante, o fluxo de clientes já se aproxima do registrado antes do incêndio.
“Foi difícil. Quando queimou, nós perdemos tudo. Demorei uns dias para começar novamente, tive que começar trabalhando sem mercadoria e depois fui comprando, fiz alguns empréstimos. Depois que voltamos para cá, trabalhamos bastante, estamos praticamente quase normais como era antigamente”, relata o empresário.
Wesley de Souza Silva, 37, também teve que improvisar até conseguir retornar a vender em um box. No começo, contou com a ajuda de familiares, amigos e de uma 'vakinha online' para arrecadar dinheiro suficiente para a compra de novas mercadorias. Ao todo, foram investidos R$ 50 mil.
“Foi uma das coisas mais tristes que já vivenciei. Levei um susto na madrugada e foi bastante difícil, estou superando ainda. Fomos improvisando nossas vendas, fomos para a rua, trabalhamos lá na frente, foi bastante dificultoso, bastante calor. Mas, estamos reconstruindo tudo aquilo que a gente perdeu”, afirma o empreendedor.
Otimismo e expectativa
Silva estava há 14 anos com sua loja de eletrônicos e acessórios para celulares no Shopping Popular. Segundo o vendedor, o comércio está melhorando, assim como o atendimento e conforto para os clientes que agora contam com estrutura climatizada no espaço provisório, inaugurada em dezembro do ano passado.
O empresário espera que as vendas melhorem no novo prédio, previsto para ser inaugurado em 2026.
“A expectativa é grande, faz muitos anos que estamos aqui. Em breve, voltemos com o melhor ambiente para atender os nossos clientes”, acrescenta.
Adriano Maia, 38, está há 19 anos no camelô. Ainda jovem, começou vendendo brinquedos, depois roupas e agora possui uma loja de eletrônicos e sons automotivos. Após o incêndio, contou com a ajuda de fornecedores, que deram crédito e prazo maior de pagamento.
Ao GD ele afirma que, apesar dos dias difíceis, os afetados pelo incêndio acharam uns nos outros o conforto para continuar a exercer a profissão.
“É uma memória que acho que não vai apagar. Dias difíceis, não só para mim, mas para toda a comunidade da família popular. A gente brinca aqui que envelheceu. Foi um ano de muita luta. Para passarmos o que a gente passou, é só com Deus para nos levantar”, explica Maia.
“O que sabemos fazer é trabalhar, família popular, você pode vir aqui de domingo a domingo, que você vai encontrar o produto que você precisa”, finaliza.
Novo prédio
A Associação do Shopping Popular, criada em 1995, investe em torno de R$ 60 milhões na construção de um novo prédio.
A construção foi iniciada em dezembro de 2024 e deve ficar pronta no ano que vem. O custeio da obra vem do capital de investidores e arrecadações dos próprios lojistas associados por meio das taxas cobradas pelo aluguel das bancas.
O novo camelô manterá as 319 vagas de estacionamento, mas amplia o número de lojistas de 600 para 700.