Definição de pelego: é um termo depreciativo utilizado no jargão do movimento sindical para se referir aos líderes ou representantes de um sindicato que em vez de lutar pelo interesse dos trabalhadores, defende secretamente os interesses do empregador, ainda que tal atitude seja descoberta, cedo ou tarde.
A palavra tem como origem o pelego utilizado pelos cavaleiros gaúchos. Trata-se de um pedaço de lã de carneiro, colocado sobre a sela e preso por uma tira de couro chamada barrigueira, para que não escorregue. Sua função é amaciar o assento do arreio.
Em razão dessa posição intermediária, por analogia, passou a definir aquele que deveria representar os trabalhadores, mas os amacia, ou melhor, negocia para que esses não lutem por seus interesses.
Leonel Brizolla trouxe esta expressão para a política, a fim de definir aqueles que estão sempre atrás de uma boquinha, são sempre governistas e vão contra o próprio partido para defender seus interesses imediatos, como cargos ou uma eleição facilitada. Brizolla dizia que os pelegos são altamente nocivos à política e à sociedade, comparava-os aos empresários sem ideologia que entram para a política, que pelo poder financeiro, vem substituindo os antigos coronéis.
Em Mato Grosso tem dois bons exemplos desse “peleguismo”. O primeiro é o do Partido Republicano, o PR, e o outro é o do Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB.
O PR governou o estado por sete anos e é sócio majoritário do governo atual comandando várias secretarias importantes e seus parlamentares dão total sustentação ao governo na Assembleia Legislativa. Com a recusa do senador Blairo Maggi de concorrer novamente ao governo, coisa que eu duvido, parte do PR tenta desesperadamente se alinhar ao “oposicionista” senador Pedro Taques, que vem liderando algumas pesquisas de intenção de votos para o governo. Fica difícil de entender o resultado dessa equação, como que um partido que está no poder há 12 anos, direta ou indiretamente, vai se alinhar a alguém que se intitula oposição e que por várias vezes criticou o que foi feito e o que não foi feito nesta gestão, inclusive, denunciando publicamente casos de corrupção? Como se vê, o pelego não tem muito senso de ridículo e está se lixando para a opinião pública. A partir do momento que seus interesses estão sendo atendidos e garanta a sua boquinha, o resto que se exploda. Mas o caso do PR, por ser um partido sem história, fruto de uma fusão do Partido Liberal e do Prona (do meu nome é Enéas), menos mal, muito pior, e até certo ponto incompreensível, é o caso do PSDB. Partido que se coloca a nível nacional como único com chances reais de derrotar o PT.
O PSDB de Mato Grosso a exemplo do nacional foi criado por pessoas corajosas dotados de um ideal, que não se furtavam em ir para o sacrifício se fosse para o bem do partido, pensando sempre num projeto maior. Como foi o caso do ex-deputado Luis Soares, que juntamente com o economista Paulo Ronan, foi um dos fundadores do partido. Soares trocou uma eleição garantida de deputado estadual para concorrer ao governo do estado, sabendo que não teria a menor chance de se eleger, mas com a convicção de que uma candidatura própria do partido era um grande passo na construção da sigla que, posteriormente, governou o país por oito anos e o estado por seis. Politicamente e economicamente falando, pode se dividir a história em antes e depois dos tucanos, tanto a nível nacional como estadual.
Outro exemplo que podemos dar é do ex-senador Antero Paes de Barros, que mesmo sabendo de todas as dificuldades da eleição de 2006, quando Blairo Maggi concorreu à reeleição, com a máquina na mão e o apoio do governo federal e uma estrutura milionária, Antero não se acovardou, manteve hasteada a bandeira do partido.
Muitos dizem que o partido diminuiu de tamanho. Eu já acho que foi seus líderes que se apequenaram, em que pese alguns de seus líderes atuais terem relativo sucesso nas urnas dão as costas para a história política. História essa que nos mostra que ao se sujeitarem a ser coadjuvante, ir a reboque, é o caminho mais curto para o fracasso e o ostracismo. Prova maior disso, é o Partido dos Trabalhadores, PT, que na história contemporânea talvez tenha sido o partido, que a partir de sua fundação original, em menos tempo chegou ao poder. Muitos riam e debochavam, quando meia dúzia de petistas com suas bandeiras, iam para a praças e para as ruas fazer barulho, defender candidatura própria, mesmo não tendo a menor capacidade financeira de visitar um município a cem quilômetros da capital. E isso se estendia por todos os estados e na maioria dos municípios. E foi assim, superando todas as barreiras, não se importando com os deboches, com as ironias, o PT chegou ao poder, completando 12 anos em 2014, e se depender dos pelegos do PSDB ficará mais quatro.
Há um tabu, que vem reiteradamente sendo derrubado, porém persiste na cabeça dos medíocres, dos alienados, que é se basear em uma pesquisa de intenção de voto, a sete ou oito meses da eleição, para definir candidato. Alguns exemplos recentes, que citarei aqui, mostrarão o quão insignificantes são essas pesquisas. Começaremos citando o caso da eleição Roberto França versus Frederico Campos. Todas as pesquisas e todos os analistas políticos davam como certa a vitória de Roberto França, porém o vencedor foi Frederico Campos.
Outro caso típico foi o da eleição de Luiza Erundina em São Paulo. No estado vizinho de Góias, Marcone Perillo saiu candidato com dois por cento de intenção de votos contra 76% de Iris Rezende. Perillo ganhou a eleição e até hoje comanda o estado. Dante de Oliveira, quando foi candidato à reeleição a governador perdia feio para Júlio Campos nas pesquisas, com uma diferença de mais de 30%, deu Dante. Blairo Maggi, em 2002, tinha 3% contra 60% de Antero, deu Blairo. Wilson Santos, na eleição de 2004 para prefeito de Cuiabá, terminou o primeiro turno com 22% atrás nas pesquisas para Alexandre César, deu Wilson. E finalmente a eleição para prefeito de Cuiabá em 2012, em que Lúdio Cabral começou com 3% de intenção de voto contra Mauro que tinha 56% de intenção de voto. Lúdio foi para o segundo turno, porém não foi eleito, mas imprimiu uma vexatória derrota política a Mauro Mendes e hoje já desponta como um dos favoritos a candidato ao governo do estado.
Tudo que um partido político precisa hoje, se realmente tiver a pretensão de alcançar o poder, é de um mínimo de tempo de TV, coragem, um nome limpo, que transmita confiança e experiência, e militância nas ruas. E parece que a executiva nacional tucana percebeu isso, e segundo uma reportagem do jornal Folha de São Paulo dessa semana, baixou uma resolução com indicativo de candidatura própria em todos os estados e isso pode fazer toda a diferença na disputa para presidente. Aqui em Mato Grosso o PSDB tem o legado de Dante de Oliveira, tem militância, basta motivá-la, e o nome já se apresentou, falta coragem.
Em outra oportunidade falarei dos pelegos do PT.
Rodrigo Rodrigues é jornalista
Wando Viera
Quinta-Feira, 06 de Março de 2014, 11h07