“É um trabalho sinodal, preparatório para a COP30, que visa à remissão da dívida pública e da dívida ecológica, uma proposta que Papa Francisco havia sugerido em sua mensagem pela Jornada Mundial da Paz. Neste ano jubilar da Esperança é uma mensagem muito importante. Espero motivar os reitores a serem construtores de pontes de integração entre as Américas e a Península Ibérica, trabalhando por uma justiça ecológica, social e ambiental”, Papa Leão XIV, em video mensagem dirigida aos Reitores de Universidades Católicas reunidos no Rio de Janeiro, entre 19 e 24 de Maio de 2025, para celebração dos Dez anos da publicação da Encíclica Laudato Si, pelo Papa Francisco.
Durante esta semana, com término neste próximo sábado, o Movimento Laudato Si, as Pastorais da Ecologia Integral, as Escolas Católicas, Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Comunidadees Eclesiais, enfim, mais de 1,4 bilhão de católicos e milhões de evangélicos que abraçam o ecumenismo, além de adeptos de outras religiões não cristãs, em algum momento, estarão celebrando este marco importante e indelével na caminhada ecológica, inspirados pela tenacidade, visão de futuro, procupação com os mais frágeis e vulneráveis e inúmeras exortações, que, ao longo de seus 12 anos de Magistério, o Papa Francisco deixou como um marco, uma bússula, um legado na caminhada ecológica/ambiental, pela saúde do Planeta Terra, também denominado de “Nossa Casa Comum”.
O ano de 2015 foi extremamente emblemático, representou e continua representando um marco nas preocupações, nas ações socio transformadoras e nas mobilizações proféticas pela saúde do nosso planeta que está gravemente enfermo, em leito de UTI; embora ainda muito tímidas, a meu ver, tanto por parte dos governantes, quanto da população em geral e, também, por parte da hiearquia da Igreja Católica, do empresariado, enfim, pelas diversas lideranças que deveriam estar demonstrando, por ações, uma preocupação real com o processo acelerado da degradação ambiental, princilamente com a gravidade da CRISE CLIMÁTICA, que tanto nos afligem.
Somente após a publicação da Laudato Si, é que a ONU aprovou em Setembro de 2015, e instituiu os Objetivos do Desenvolvimento (ODS), 17 objetivos e 169 metas para orientar os países a definirem políticas públicas voltadas ao equacionamento dos principais desafios mundiais, presentes, em maior ou menor grau em todos os país. Esta é a Agenda 20230 da ONU, muito importante na caminhada e na luta ambientalista ao redor do mundo, inclusive no Brasil.
Foi também em 2015, na COP21, entre de 30 de novembro a 11 de dezembro. que foi aprovado o ACORDO DE PARÍS, um marco na luta contra as mudanças do clima (aquecimento global/crise climática), que, apesar de ter entrado em vigor em 2016, muitos discursos, declarações pomposas e poucos progressos tem sido feito, principalmente em relação ao fim da produção e uso de combustíveis fósseis, que são responsáveis por 75% da emissão dos gases de efeito estufa, deixando o Planeta `a mercê de um processo contínuo e nefasto de destruição.
Voltando ao ano de 2015, primeiro, no dia 24 de Maio, apenas dois anos após o início de seu Pontificado, o Papa Francisco “surpreendeu” o mundo ao publicar a Encíclica Laudato Si, que não era e nem é apenas “mais uma encíclica” que os Papas geralmente publicam para orientar e exortar tanto os fiéis quanto a hierarquia da Igreja Católica, boa parte bem arredia aos ensinamentos e do magistério do Papa Francisco, principalmente quando ele fala da “opção preferencial pelos pobres”, contra o clericalismo, por uma Igreja Sinodal, uma Igreja em saída e, muito mais, quando Francisco “abraça” a causa ambiental e lhe dá uma dimensão muito maior e mais profunda do que o simples cuidado apenas com a natureza, a biodiversidade animal (que muitas vezes exclui os humanos), incorporando a humanidade neste contexto, que passa a denominar de ECOLOGIA INTEGRAL, onde tudo está interligado: natureza, seres humanos e Deus, o Criador.
Na elaboração da Laudato Si, o Papa Francisco acercou-se de cientistas e estudiosos das questões ambientais, ecológicas, das questões econômicas, políticas, sociais e religiosas, oferecendo uma sólida fundamentação teológica, científica e cultural e, mais, inserindo tais preocupações (a Laudato Si) no contexto da Doutrina Social da Igreja, fundada na Encíclica “Rerum Novarum”, de 1891, de Leão XIII, de quem o nosso atual Papa Leão XIV, escolheu como nome, da mesma forma que o Papa Francisco inspirou-se em São Francisco de Assis, ao assumir o “Trono de São Pedro”.
Por esta razão além de tantos tributos, merecidamente, ao Papa Francisco, iniciamos esta reflexão transcrevendo a saudação do Papa Leão XIV, aos reitores das Universidades Católicas, que, pela segunda vez se reunem para refletirem sobre não apenas este legado do Papa Francisco, mas para dar continuidade a esta caminhada, que a Igreja Católica, ainda um pouco tímidamente, a meu ver, continua e continuará percorrendo.
Além do LEGADO contido na Encíclica Laudato Si, que neste sábado 24 de Maio, volto a repetir, o Papa Francisco passa a ser identificado também como o Papa que convocou e presidiu o Sínodo dos Bispos da Pan-Amazônia, que em seu final também publicou a Exortação Apostólica, “Querida Amazônia”, em que fala de seus quatro sonhos: Um sonho social; Um sonho cultural; Um SONHO ECOLÓGICO, e, Um sonho Eclesial, enfatizando que a Igreja neste imenso território Sul Americano, onde Provost, hoje Papa Leão XIV exerceu seu magistério, tanto como Padre Missionário, Agostiniano e como Bispo em uma Diocese na Amazônia Peruana, tornando-se, inclusive um cidadão peruano por opção, ao naturalizar-se, repito, que a Igreja deveria também ter um rosto amazônico, integrando-se `as diversas culturas e povos existentes da região, caminhando entre os pobres e oprimidos desta parte da América Latina.
Outro Legado do Papa Francisco foi a sua maneira afável, aberto ao diálogo com os pobres, como os camponseses, os idosos, as mulheres, os jovens, os trabalhadores, enfim, com todos os segmentos demográficos e sociais, enfatizando a Amizade Social, como contido na Encíclica Fratelli Tutti, que tem uma grande interação com os temas tratados no Laudato Si.
Cabe, também, ressaltar os seus tres “Ts”: TERRA, TETO e TRABALHO, como bases para o resgate da cidadania e da dignidade humana, em seu pronunciamento `a multidão que o acolheu e o aplaudiu na Bolívia.
Foi pensando sobre a indignidade da pobreza, da miséria e da fome que o Papa Francisco estabeleceu/criou o DIA MUNDIAL DOS POBRES, para que a Igreja, pelo menos em um dia, no mundo todo possa refletir tanto sobre as condições de pobreza em que ainda vivem quase um BILHÃO de pessoas, mas também, sobre as causas estruturais que contribuem para a existência dos pobres na face da terra e que, tanto em relação `a Ecologia e aos Pobres, o que nutre a caminhada da Igreja e das pessoas não os discursos e promessas demagógicas dos donos do poder, mas sim, a esperança, as ações socioambientais, a mobilização profética, capazes de denunciar os paradígmas da ECONOMIA DA MORTE, o capitalismo selvagem, que explora os trabalhadores, não respeita os direitos dos consumidores e nem os limites da natureza e muito menos os direitos das futuras gerações.
Em lugar dos paradígmas que alimentam os atuais modelos econômicos, inclusive o modelo capitalista e neo capitalista, o Papa Francisco nos deixou mais um legado quando fala da ECONOMIA DA VIDA, em sua proposta de uma economia solidária, da agroecologia como forma de combater a degradação dos solos, do ar, das águas, a chamada ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA, inspirada no modelo de São Francisco de Assis e de Santa Clara.
Para que esta ECONOMIA DA VIDA possa prosperar, a ênfase do Papa Francisco foi no sentido de construirmos um grande PACTO GLOBAL PELA EDUCAÇÃO, uma educação crítica, criadora, “antenada” para os desafios do presente e do futuro, incluindo neste, as dimensões de uma profunda revolução científica e tecnológica; mas resguardando os espaços para uma verdadeira Educação ambiental/ecológica, a que eu denomino de “Educação ecológica libertadora”, tudo isso tendo a Laudato Si como inspiração.
Finalmente, apesar de que nesta reflexão não é possivel de apontar, mencionar todos os legados do Papa Francisco, não podemos esquecer a Exortação Laudate Deum e o Concílio dos Bispos para refletirem sobre a Igreja Sinodal (em saída, samaritana, ao lado dos pobres e profética, “antenada” aos problemas e desafios mundiais).
Na Exortação apostólica Laudate Deum, publicada em 04 de Outubro de 2023, oito anos após a publicação da Laudato Si, o Papa Francisco retomou sua ênfase em relação `a Ecologia Integral e, principalmente, para as causas e consequências da Crise Climática.
Esta Exortação Apostólica foi dirigida “a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática”, principalmente, mas não exclusivamente, aos participanres da COP 28, complementa as preocupações, a necessidade de cuidarmos melhor do planeta terra, a começar dos espaços mais próximos de nós ( pensar globalmente a agir localmente), tendo sempre bem presente “que o grito da terra é também o gemido e o clamor dos pobres, oprimidos e injustiçados”, considerando que as consequências da degradação dos biomas e dos ecossistemas, enfim, a destruição planeta, as catástrofes ecológicas/ambientais afetam de uma forma muito mais intensa os pobres e mais vulneráveis social, politica e economicamente.
Mesmo que Francisco nos tenha deixado há pouco tempo e não esteja entre nós para celebrar os DEZ ANOS DA LAUDATO SI, o seu legado permanecerá como uma búsula a nos orientar na caminhada em defesa da casa comum, da ecologia integral, a organização das Pastorais da Ecologia integral Brasil afora e no combate aos crimes ambientais, que, para a Igreja são os pecados ecológicos, que, com esperança, mirando em uma verdadeira conversão ecológica, daremos passos seguros rumo `a uma verdadeira CIDADANIA ECOLÓGICA planetária, presente em todos os países e em todos os territórios.
Caminhar e avançar nesta direção é a forma que nós, cristãos, católicos e evangélicos, bem como fiéis de outras religiões e filosofias, podemos trilhar como o reconhecimento deste legado.
Para finalizar esta reflexão, gostaria de transcrever uma exortação do Papa Francisco contida na Laudato Si, profundamente atual, principalmente quando alguns países estão “deixando” o Acordo de Paris, fazendo coro aos NEGACISONISTAS ECOLÓGICOS.
“Um mundo interdependente não significa unicamente compreender que as consequências danosas dos estilos de vida, produção e consumo afetam todos, mas principalmente procurar que as soluções sejam propostas a partir de uma perspectiva global e não apenas para defesa dos interesses de alguns países. A interdependência obriga-nos a pensar em um único mundo, em um projeto comum”. Papa Francisco, Laudato Si, 164.
Resumindo, não existe Planeta B, nosos destinos como humanidade obriga-nos a cuidar melhor deste, que é o único planeta em que vivemos, antes que seja tarde demais.
Este é e deve continuar sendo o nosso TRIBUTO AO PAPA FRANCISCO e em sua memória!
Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste.