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Violência acentuada assusta os 32 mil moradores de Poconé (120 quilômetros de Cuiabá), município cartão postal da Copa do Pantanal. Além de residências e do comércio local, os bandidos invadem fazendas e sítios para roubar veículos e o gado. Até a polícia civil já foi alvo da ação de criminosos. A estimativa é que a cidade receba 15 mil visitantes ou turistas durante o Mundial, em junho deste ano.
Dados da Secretaria de Segurança Pública (Sesp) mostram que de 1º janeiro a 17 de fevereiro, 33 roubos e furtos já foram registrados na cidade. Ao longo de todo ano passado, foram 246 ocorrências, incluindo, 10 assassinatos, três homicídios culposos na direção de veículo e um latrocínio (roubo seguido de morte).
“A criminalidade está exacerbada. Há bastante auto de infração e, geralmente, são crimes com bastante violência”, informou a promotora de Justiça que atua na cidade, Daniele Crema da Rocha, que ainda em 2011 entrou com ação civil pública contra o Estado cobrando providências como o aumento do efetivo das Polícias Civil e Militar na cidade.
Proprietária de dois estabelecimentos comerciais na cidade, Sônia Ligia da Silva sabem muito bem o que é conviver com a insegurança. “É horrível para todos que moram e trabalham na cidade. Poconé era uma cidade pacata e esta situação é desestimuladora para todos”, comentou.
Sonia conta que os dois comércios já foram alvos dos marginais. A última vez foi na semana passada. “Eles pularam o muro, arrombaram e entraram pelo telhado”. Neste caso, eram três ladrões, um deles menor de idade, que foram presos em flagrante. Porém, segundo ela, apenas parte da mercadoria furtada foi recuperada. “Eles levaram dinheiro, uísque, cigarro, desodorante e outros produtos”, contou.
Porém, ela lembra que há seis meses também foi assaltada por um ladrão a mão armada. “O bandido estava com uma espingarda doze e havia muita gente no mercado, entre clientes e funcionários. É só chegar o começo do mês, entre os dias 5 e 6, para esses criminosos agir. A agência dos Correios é sagrada”, relatou.
Presidente do Conselho Municipal de Segurança de Poconé, o advogado Jasson Borralho Paes de Barros afirma que assim como aumentou a insegurança cresceu o descrédito das instituições de segurança, especialmente, as policias civil e militar. “Os cidadãos nem estão mais registrando boletim de ocorrência, pois acreditam que nada resolverá. Isso faz com que a Secretaria de Segurança tenha os números inverídicos, mascarados”, frisa.
Para ele, o aumento da criminalidade se deve à sensação de impunidade e à certeza de pouca repressão. “Justamente devido às precárias condições de trabalhos dos policiais, que tentam de forma sobre humana atender as ocorrências, mas sem condições”, afirmou.
Segundo Jasson Barros, as estruturas dos prédios da PM e da delegacia são precárias. “Não há manutenção em ambos os prédios, que não possuem instalações hidráulicas, elétricas, e inclusive falta de material de expediente básico, como papel A-4, lâmpadas, cartuchos e toner para impressoras, chá, café, entre outros. Vez e outra eu mesmo faço doações desses materiais. Há de se registrar ainda que recentemente sequer as policias tinham viatura. A PM não tinha pneu nos carros e as motos estavam estragadas. Na delegacia, não havia viatura. Uma viatura de reserva chegou três ou quatro dias depois”, assegurou.
PORTAL DO PANTANAL
Porta de entrada para o Pantanal mato-grossense, Poconé possui fronteira fluvial internacional com a Bolívia. Apesar disso, o presidente do Conselho Municipal de Segurança da cidade, Jasson Borralho Paes de Barros afirma que a região não conta com qualquer ação do Estado quanto à segurança. “Então, passamos a ser rota do tráfico e consequentemente de suas mazelas, drogas, prostituição e ociosidade entre os jovens, pois na cidade não tem ocupação alguma e nem programa que os ocupe”, concluiu.
Na semana passada, uma audiência pública discutiu o problema. No encontro estiveram presentes representantes da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), do Ministério Público do Estado (MPE), do poder público municipal, mineradores e pecuaristas, entre outros.
O secretário da Sesp, Alexandre Bustamante dos Santos, apresentou algumas melhorias que o Estado deverá fazer na região, como a implantação de videomonitoramento policial. “Estamos trabalhando na instalação de 10 câmeras na cidade, que irão auxiliar no trabalho de fiscalização. Vamos também entregar equipamentos de informática para a Polícia Militar e Civil e está em andamento o processo para a construção de uma delegacia em Poconé”, informou por meio da assessoria de imprensa.
Outro compromisso assumido é a instalação do Batalhão de Trânsito e Rodoviária, na entrada da cidade para dificultar a ação de criminosos. A área foi doada pela sociedade civil organizada, que também se comprometeu em construir o prédio. Em contrapartida, a comunidade espera que o Estado seja responsável pelo apoio logístico. A expectativa cidade receba mais 10 investigadores e oito militares do último concurso realizado pelo Governo do Estado.