Uma “fórmula” que mistura aplicação de vitaminas e aminoácidos por via endovenosa ou intramuscular em gestantes para acelerar o desenvolvimento infantil tem sido difundida recentemente em meios virtuais. O protocolo promete bebês mais fortes, mais inteligentes, mais resistentes e vem sendo divulgado por influenciadores e grupos na internet.

Nesta entrevista a ginecologista e obstetra Giovana Fortunato, do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM-UFMT/Ebserh) esclarece sobre a prática de perigo para a saúde da mãe e do bebê, e dá orientações sobre alimentação e suplementação durante a gestação.

- Há alguma comprovação científica sobre esse protocolo?

R: Tais práticas não possuem respaldo em evidências científicas robustas, nem estão incluídas em diretrizes clínicas reconhecidas. A adoção indiscriminada de materiais e substâncias injetáveis na gestação, fora de clínicas comprovadas, pode representar riscos sérios à saúde materna e fetal.

- Há riscos para a saúde da gestante e do bebê? Se sim, quais?

R: É importante ressaltar que quando os suplementos são usados sem orientação adequada, há o risco de ingerir doses insuficientes ou ingerir doses excessivas de alguns nutrientes. Nutrientes hidrofílicos, que se diluem na água, são eliminados através da urina, como é o caso da vitamina C, porém, o excesso deles pode sobrecarregar os enxágues. Já os nutrientes considerados lipofílicos, que se diluem em gorduras, são acumulativos no nosso organismo e podem causar prejuízos à saúde materna e fetal. Por isso, é importante que a gestante siga as orientações de seus médicos e nutricionistas.

- Quais são as recomendações médicas para o bom desenvolvimento da gestação e do bebê?

R: Práticas clínicas devem sempre ser orientadas por especialistas e embasados em ciência de qualidade. Promessas infundadas, mesmo que com aparência de sofisticação, não substituem a boa medicina e podem expor às gestantes riscos inaceitáveis. O pré-natal deve ser seguido rigorosamente com médicos obstetras, condutas baseadas em protocolo e evidências científicas, uso de medicamentos seguros para serem usados durante o período gestacional, assim teremos um binômio materno-fetal adequado.

- É preciso que uma gestante consuma vitaminas ou outros suplementos? Se sim, quais? Em quais situações são recomendadas?

R: A gestação é uma condição física, mas ainda assim é uma sobrecarga para o organismo materno, com aumento nas necessidades de vários macro e micronutrientes que nem sempre conseguem atingir com a dieta e, por isso, existem recomendações de suplementação de alguns compostos na pré-concepção, gravidez e também após o parto. A ingestão de suplementos nutricionais e vitaminas só deve ser iniciada após avaliação de médico ou nutricionista, para que não haja excesso ou falta de nutrientes.

O folato (ácido fólico ou metil-folato) deve ser suplementado desde o período em que se pretende a gravidez, por volta de três ou quatro meses antes, ou com início imediato assim que se descobre a gestação.

Da mesma forma, o ferro deve ser suplementado, pois a gravidez, por si só, leva a uma anemia (anemia chamada fisiológica) que pode ser compensada com a reposição do ferro. Outros suplementos também podem ser indicados, pois como já mencionados, as necessidades durante a gestação são maiores e nem sempre a grávida consegue alcançá-las apenas com a dieta.

Mas é importante lembrar que os polivitamínicos, antes da gravidez ou durante, devem ser adequados para a gestante e as doses devem ser ajustadas pelo médico ou nutricionista que acompanha a mulher.

Além do folato e do ferro, que já tem recomendações robustas há muito tempo para todas as grávidas, o cálcio deve ser prescrito quando ele é insuficiente na alimentação, condição frequente na alimentação dos brasileiros. Há ainda casos menos comuns que precisam de uma atenção redobrada, por exemplo, como mulheres portadoras de doenças autoimunes, que usam frequentemente corticosteróides e que devem ter suplementação de cálcio durante toda a gestação. Mulheres com hipertensão arterial crônica também devem relatar o cálcio por serem do grupo de risco para desenvolver pré-eclâmpsia. As mulheres com epilepsia, em uso de medicação anticonvulsionante, devem manter o folato durante toda a gestação.

Gestantes vegetarianas e veganas precisam de uma atenção maior quanto à alimentação e suplementações. As evidências científicas mostram que dietas vegetarianas bem balanceadas não apresentam riscos para a gestação. Entretanto, temos que ter atenção maior com as gestantes veganas (que não consomem nenhum tipo de alimento de origem animal como leite e derivados, carnes e ovos) e com os nutrientes que são encontrados principalmente em alimentos de fonte animal como a vitamina B12, ferro, cálcio, colina, vitamina D e ômega-3.

Rede Ebserh

O HUJM-UFMT faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Rede Ebserh) desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.