Polícia Sexta-Feira, 19 de Janeiro de 2024, 15h:20 | Atualizado:

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CHACINA

Caminhoneiro que teve família assassinada desabafa: "Morri junto com elas"

Após 2 meses dos brutais homicídios, o viúvo falou sobre o assunto pela primeira vez

ALEXANDRA LOPES e BRENDA CLOSS
Da Redação

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"Eu morri junto com elas. Esse desgraçado acabou com minha vida. Me matou junto com elas. Eu vou viver pra que? Qual o motivo que tenho para seguir, se eu não tenho elas?". O desabafo emocionante é do caminhoneiro Regivaldo Batista Cardoso, morador de Sorriso (420 km de Cuiabá) que teve a mulher e as três filhas brutalmente assassinadas no dia 24 de novembro de 2023 dentro da própria casa, no bairro Florais da Mata.

O crime foi praticado pelo pedreiro entre a noite do dia 24 de novembro e a madrugada do dia 25, mas só foi descoberto pela Polícia Civil no dia 27, uma segunda-feira, pela manhã. Quase dois meses após a chacina que chocou a população mato-grossense e teve destaque nacional, Regis falou sobre o assunto pela primeira vez numa entrevista concedida ao Programa SBT Comunidade nesta sexta-feira (19). Emocionado, ele descreveu os momentos de angústia e sofrimento que vem enfrentando desde a notícia dos assassinatos.

O "desgraçado" a quem ele se refere é o pedreiro Gilberto Rodrigues dos Anjos, de 32 anos, que trabalhava numa obra ao lado da casa da família. Ele invadiu a residência das vítimas e matou com requintes de crueldade Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos, e as filhas Miliane Calvi Cardoso, de 19, Manuela Calvi Cardoso, de 12 anos, e Melissa Gabriela Cardoso, de 10 anos. Segundo as informações da Polícia Civil, o criminoso teve acesso à casa da família por meio de um andaime da obra. Ele passou pela cerca elétrica, que estava desligada, e teve acesso por uma janela, ponto por onde ele conseguiu entrar. Os cachorros no local latiam sem parar.

Regivaldo não estava em Mato Grosso à época do crime, pois estava viajando a serviço para efetuar entregas no estado do Paraná. "Antes eu tinha elas, eu trabalhava por elas. Aí hoje você trabalha e não tem família mais, não tem motivo para trabalhar. Eu vou e volto e não tem minha casa. Não tem minha esposa, não tem minhas filhas. Aí que graça tem viver desse jeito? Qual o objetivo de se viver desse jeito. Tem a família, tem a minha sogra, a minha família, mas não é a mesma coisa", começou.

"Eu morri junto com elas. Esse desgraçado acabou com minha vida também. Me matou junto com elas. Eu vou viver pra que? Qual o motivo que tenho para seguir? Se eu não tenho elas mais", lamentou.

Regivaldo lembra do último contato que teve com as quatro vítimas e do desespero que foi passar um final de semana inteiro sem comunicação com a família. "Eu falei com elas na sexta à tardinha e aí no sábado eu mandei mensagem e não tive resposta. Aí quando fui no domingo, vim embora viajando mandei mensagem de novo. Falei, o que está acontecendo, vocês não me respondem? Eu to ligando, vocês não atendem, poxa, estão bravas comigo?", se questionava.

vitimas estupro, chacina sorriso.jpg

 

O caminhoneiro pensou que elas poderiam estar bravas porque ele havia comentado que teria mais entregas para fazer e por isso demoraria mais para retornar a Mato Grosso. "Quando foi no domingo à noite, eu falei: 'óh, vou mandar a polícia aí", para ver se elas me respondiam. Eu pensei que segunda-feira ela [Manuela] ia me mandar mensagem que ela estava indo para a escola. Todo dia ela me mandava. Às vezes na sala de aula, ela mandava áudio dizendo que estava entrando na sala, que tem que ser só escrito. Liguei na escola, perguntei se a Manuela estava e a Melissa falaram que não. Aí foi quando liguei para minha sogra, perguntei se ela tinha ido na casa dele. Minha sogra falou que conversou com ela por um amigo. Miliane ia limpar a casa. Mas eu não falei com elas porque achei que elas queriam descansar. Aí eu falei, pois é, desde sexta que não falo mais com elas", detalhou.

RELATO DA IRMÃ DE CLECI

À reportagem, o viúvo também informou que logo depois da conversa com a sogra ligou para a Polícia Militar. Segundo ele, uma equipe policial foi até lá e constatou que o ar condicionado estava ligado e os cachorros bravos. A mãe de Cleci também pediu para uma filha, Elanara, ir até o local pessoalmente verificar a situação. 

"Eu ainda estava deitada quando minha mãe me ligou falando que o Regis estava tentando se comunicar com as meninas e elas não estão atendendo. Vai lá para você porque o Regis não estava na cidade e aí mais de que depressa vesti minha roupa e saí rápido. No que eu cheguei lá já tinha uma viatura e não tinha adentrado na casa ainda. Aí eu tive noção de que tinha uma coisa mais séria acontecido. Eu quis entrar, mas não deixaram. Mas pelas portas de vidro era possível ver alguma coisa", contou Elenara ainda abalada.

DILIGÊNCIAS

Segundo a Polícia Civil, levantamento da equipe da perícia técnica apontou que o criminoso entrou na residência das  vítimas pela janela do banheiro. Após as diligências no local, a equipe da Divisão de Homicídios seguiu com as diligências em duas obras em construção, onde vários homens trabalham e levantou informações. Entre os cinco trabalhadores do local, foi informado que um deles, Gilberto Rodrigues dos Anjos, dormia na obra. Ao ser entrevistado pelos policiais, ele ficou nervoso e alegou que não ter ouvido qualquer barulho na casa das vítimas durante o final de semana. Questionado sobre o local de seu descanso, mostrou onde dormia, no piso superior da obra, na parte da frente e como documento apresentou apenas a cópia da identidade. 

Durante checagem dos dados pessoais, a equipe policial apurou que contra ele havia dois mandados de prisão em aberto, um pela Comarca de Lucas do Rio Verde por crime de estupro e outro pela Comarca de Mineiros, em Goiás, pelo crime de latrocínio, cuja vítima foi um jornalista.  Na casa das vítimas, equipes da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) encontraram marcas de chinelo no piso manchado com sangue. Ao vistoriar os pertences do suspeito, os policiais civis encontraram um chinelo com as mesmas características das marcas no piso da residência da família e foi confirmado pela perícia se tratar do mesmo calçado marcado no piso. 

MORTES BRUTAIS 

Após ser questionado novamente, Gilberto confessou a autoria dos quatro homicídios. Conduzido à delegacia e ouvido em interrogatório, ele disse que após usar drogas invadiu a residência das vítimas pela janela do banheiro com a intenção de roubar, na noite de sexta-feira (24 de novembro de 2023). Ao ser confrontado por Cleci Cardoso, ambos entraram em confronto ele pegou uma faca e atacou a mãe. Neste momento, uma das filhas, Miliane, saiu do quarto para socorrer a mãe e também foi atacada. Na sequência, ele confessou que assassinou as outras duas vítimas, ambas menores de idade. 

Depois de matar a família, ele contou que saiu da casa pela mesma janela por onde entrou e voltou para a obra, onde retirou as roupas sujas de sangue e guardou em um contêiner. A Polícia Civil localizou as roupas e encaminhou para a perícia. Na sacola também havia uma peça de roupa íntima de uma das vítimas. Exames confirmaram que ele cometou violência sexual contra a mãe e as duas filhas mais velhas. 

 OUTROS CRIMES 

Em setembro de 2023, em Lucas do Rio Verde (354 km de Cuiabá), o criminoso invadiu uma residência e cometeu abuso sexual contra uma vítima, que estava dormindo. Após o crime sexual, ele ainda tentou matar a vítima que conseguiu reagir, mas foi ferida com uma facada no pescoço. Outra vítima que também estava na casa tentou intervir e foi atingida por um soco no rosto pelo suspeito, causando lesões no olho direito. Após os crimes, Gilberto fugiu em uma bicicleta.





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Comentários (2)

  • Raul

    Sábado, 20 de Janeiro de 2024, 10h03
  • Eu iria viver apenas para um objetivo...poderia passar 1 ano, 2 anos; 10 anos ou 20 anos , eu estaria esperando ele sair...e somente após isso, descansaria em paz... me perdoe senhor mas terei que pecar...
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  • Angela

    Sábado, 20 de Janeiro de 2024, 10h01
  • Deus tenha misericórdia. Foi isso ai mesmo que eu disse quando vi essa tragédia. Mataram o cara também. Muito triste revoltante eu procuro não pensar nisso pra não pecar porque o ódio toma conta de meu coração e da minha mente.
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